Introdução
Esta é uma breve reflexão feita acerca do assunto da legalização do aborto.
Não vou fazer nenhum discurso tradicional pró-escolha, dando todo o embasamento científico, todas as evidências positivas de países que legalizaram, ou até comparando que tipos de países tem aborto legal com os que não tem: acredito que com esses argumentos já existem muitos artigos muito melhores que o meu viria a ser.
Aqui a discussão é direcionada para cristãos, que, por dogma, são contra o aborto.
Mas não é pra cristãos "vingativos" ou "punitivos" (que eu pessoalmente acho uma contradição em termos, mas enfim) que defendem pena de morte e coisas assim.
É para cristãos que realmente seguem a parte que prega amor ao próximo e "não atirar a primeira pedra". Cristãos que acreditam que TODA vida tem valor, e que nós não temos autoridade para definir quem vive e quem morre.
E apenas um adendo antes de começar: a discussão não é se devemos ser contra ou a favor do aborto EM SI - ninguém é a favor do aborto. A discussão é a respeito da legalização/criminalização do aborto e suas consequências.
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No Brasil - onde o aborto é crime-, estima-se que ocorram cerca de 1 milhão de abortos clandestinos por ano. A ONU estima também que morram 200 mil mulheres por ano, em decorrência de complicações em abortos clandestinos..
Ou seja, podemos presumir que mesmo na ilegalidade, as mulheres VÃO abortar - pois é isto que acontece, essa é a realidade dos fatos, como vimos acima - e que muitas destas mulheres que abortam, morrem.
São 200 mil mulheres que perdem a vida, e portanto mais 200 mil embriões/fetos.
Portanto, quando digo que sou a favor da legalização do aborto, estou dizendo que acho que essas mulheres - que já iam abortar de qualquer jeito - deveriam ter direito a um aborto seguro, para não morrerem.
Assim perderíamos apenas os embriões (lembrando que antes das 12 semanas o que há lá não é nem considerado feto, e sim um embrião) - e não mais 200 mil mulheres além deles.
Não vou entrar no mérito de se você considera que um embrião é uma vida ou não - o que por si só já causa polêmica, já que existem divergências entre a interpretação científica/médica e a religiosa. E assuntos como legalização/criminalização são assuntos de estado, e o estado é laico.
Vou partir do pressuposto que você, como cristão, acredita que sim, um embrião é uma vida.
Ou seja, com o aborto ilegal, perdemos 1 milhão e 200 mil vidas por ano: 1 milhão de embriões, mais as 200 mil mulheres.
Com aborto legal, perderíamos 1 milhão de vidas - as dos embriões - mas estaríamos "salvando" 200 mil vidas.
Quando usamos este raciocínio, o que muitas pessoas vão pensar é que essas mulheres que estamos "salvando" não merecem ser salvas, pois morrer abortando foi uma escolha delas, elas cometeram um crime contra a vida e sabiam do risco. Logo, elas mereceram morrer.
Logo, como cristãos racionais, quando a gente diz que achamos que o aborto deve seguir ilegal, e que essas mulheres devem continuar morrendo (com seus embriões), estamos basicamente dizendo que essas mulheres merecem pena de morte.
Porque a morte do embrião vai acontecer de qualquer jeito - não estamos evitando isso. Só estamos dizendo que já que este embrião vai morrer, essa mulher tem que morrer junto.
Estamos julgando e condenando estas mulheres à morte.
E isso, ao meu ver, é a coisa menos cristã a ser feita.
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Algumas fontes:
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/aborto-no-brasil-mortes-em-silencio
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,onu-critica-legislacao-brasileira-e-cobra-pais-por-mortes-em-abortos-de-risco,837316
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