sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Racismo para brancos - reconhecendo seu privilégio

Vou reproduzir as falas que já ouvi de muitas mulheres negras, já que o assunto racismo tá em alta e o povo tá cheio de opiniões.
(Estou apenas reproduzindo o que aprendi com elas, já que eu pessoalmente não tenho vivência alguma nesse sentido.)
Até pouquíssimos anos atrás, negro era escravo, negro não podia votar, negro não podia usar o mesmo banheiro que branco, muito menos casar com um. Tudo isso que hoje parece absurdo e arcaico só acabou, sabe porque? Porque os brancos resolveram perceber sozinhos que aquilo era absurdo e mudaram as regras do jogo?? Naaaaão! Isso acabou porque milhares de negros no mundo todo se levantaram contra essa situação, fizeram barulho, protestaram, e muitos morreram nessa luta. Enquanto isso acontecia, tinha um monte de branco achando absurdo aquele barulho todo "ai que saco esses negros querendo direitos demais, ai que frescura, liberdade nem é tudo isso". E também tinha um monte de negro que, tristemente e não por culpa deles, de tanto ouvir a vida toda que era inferior, acabou concordando, e também achava aquele barulho todo uma coisa chata.
Mas tenho certeza que hoje em dia nenhum negro acha que dá pra voltar pra como era antes..
A maioria dos brancos também não acha, e os que acham não podem falar isso em voz alta porque a lei assegura que isso não é liberdade de expressão, isso é OPRESSÃO e racismo.
Aí, hoje em dia esses absurdos não existem mais. Mas sabe o que ainda existe?
Ainda existe gente olhando torto pra negro em ambiente de elite, ainda existe gente gritando macaco no estádio, ainda existe pai que não quer que o filho namore negra, ainda existe negro sendo preterido num emprego, ainda tem negra ouvindo alguém pedir pra ela alisar o cabelo se quiser uma promoção. Ainda existe novela que, apesar da população brasileira ser em sua maioria negra, mostra pouquíssimos personagens negros. Ainda tem novela que quando tem personagens negros, é sempre dentro do estereótipo de mulata-sambista-gostosa, família-da-favela, empregada doméstica e motorista. E quase nada de personagem negro que é chefe de empresa, personagem negro que é protagonista de novela que não se passa no subúrbio.
E aí, vem um homem branco rico e faz um seriado sobre mulheres negras pobres. E o seriado chama Sexo e as Negas. E as personagens são uma camareira, uma cozinheira, uma operária e uma costureira. E elas são sensuais, e vão passar o seriado falando sobre - adivinhe - homens e sexo.
E aí as mulheres negras, que não aguentam mais se ver representadas dessa forma, que não aguentam mais uma mídia que contribui para criar uma sociedade onde o racismo é velado e natural, que não aguentam mais a falta de representatividade da verdadeira cultura negra na TV, elas vão lá e protestam contra o seriado.
Frente a isso, a mídia e o autor -branco- da série, olharam pra dentro e falaram PUTZ, se elas tão falando é porque deve ser verdade, deixa eu dar voz sobre o que é ou não é racismo pra essas pessoas que sentem ele na pele. Só que não foi isso que aconteceu. O autor e mais um monte de branco (e sim, alguns negros) falaram que essa história de politicamente correto tá chata demais, que não se pode mais fazer piada, que agora tudo é preconceito, e "ai que saco esses negros querendo respeito, ai que frescura, representatividade nem é tudo isso".
Tá vendo onde eu quero chegar?
Aí que os negros, apesar de toda opressão que sofreram, apesar do que ainda sofrem e apesar da sociedade ainda ser conivente com a sua desumanização, conseguiram se unir e ter orgulho de ser quem são. Isso é o 100% Raça Negra. Isso que é o Dia da Consciência Negra. Não é "privilégio", é resistência. É dizer "olha, a sociedade me oprimiu por séculos, mas de alguma forma eu tive forças pra me levantar e dizer basta, dizer que eu tenho orgulho de ser quem eu sou". E é por isso que racismo inverso não existe, é por isso que usar uma camiseta 100% Branco te faz sim um babaca racista, assim como exigir um dia da consciência branca, assim como dizer que vc sofre racismo pq um dia seus amigos te chamaram de palmito. Perceba o quanto a sociedade não condena a cor da sua pele, perceba que isso é um privilégio, e perceba que não, vc não está em posição de dizer o que é racismo e o que não é.


com amor, de uma branquela privilegiada mala insuportavelmente defensora dos direitos humanos.
abaixo, o link para um texto escrito pela diva Djamila Ribeiro, que, sendo negra, tem muito mais propriedade pra falar do assunto:
http://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista/seja-racista-e-ganhe-fama-e-empatia-5564.html

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