sexta-feira, 20 de março de 2015

Opressões e Privilégios - Casos reais

Às vezes, quando estamos em posição de privilégio, é difícil de entender por que.
É difícil entender como uma coisa tão óbvia, boba e cotidiana pra você possa ser um grande privilégio do ponto de vista de outros.

Por isso resolvi fazer um post bem prático, sem falar de sociedade, de cultura, de opressão sistêmica.
Um post que fala de situações que pessoas reais viveram, e porque elas são opressivas.

Depoimentos de vivências de cada um, nas quais essas pessoas sentiram que estavam sendo privadas de algo, ou sendo muito mais cobradas que outras. 

E aí a partir destes depoimentos, vamos refletir se realmente, não fazer parte dessas minorias não te poupa de passar por essas situações. 
Vamos refletir se, por ser quem você é, e isso fazer você passar ileso onde muitos não passam, não te faz um privilegiado nesse nosso mundo louco, que -por enquanto -  é tudo menos justo.


O PRIVILÉGIO DE SER HOMEM EM UMA SOCIEDADE MACHISTA

"Eu já perdi namoradinho na adolescência pq eu já tinha ficado com caras "demais" (adendo - que não eram nem 10% da quantidade de meninas q ele tinha ficado). Isso afetou a forma que eu encarei a minha sexualidade e minha liberdade por muitos anos." 
Será que você nunca ter perdido uma paixão com base na quantidade de meninas que você já ficou não é um privilégio? Será que você nunca ter se privado acesso a seu próprio corpo para seguir uma norma que nem faz sentido, não é um privilégio?

"Eu já cancelei um curso de especialização pq a escola era numa rua escura, a aula acabava as 23h e o estacionamento/metrô mais perto era 2 quarteirões de distância, e eu tive medo de ser estuprada."
Será que não ter que abrir mão de nenhuma atividade por medo de estupro não é um privilégio? Será que simplesmente não sair com nenhum pertence (deixar tudo no carro por exemplo) e isso extinguir as chances de você ser roubado de algo valioso, não é um privilégio?

"Eu tinha que decorar os nomes de todos os integrantes e todos os albuns das bandas quando eu decidi gostar de rock, pq sempre vinha um menino falar que eu só tava "pagando" de rockeira e não devia saber nada sobre."
Será que você nunca ter sido cobrado de saber todos os detalhes de alguma coisa antes de mostrar apreço por ela, não permitiu que você se expressasse com muito mais liberdade? Será que isso não é um privilégio?

"Eu já tive que ouvir ameaça de estupro na rua depois de ignorar um cara desconhecido que me pediu pra sorrir."
Será que poder sair à rua sem ser incomodado, sem ser abordado, e sem ser ameaçado não aumenta sua liberdade de ir e vir? Será que isso não é um privilégio?

"Eu já tive que ser encostada por um babaca numa festa que dizia que como ele tinha pagado entrada e eu não, ele tinha direito. E quando me desvencilhei e bati nele, fui perseguida o resto da balada ouvindo xingamentos."
Será que "pagar menos na balada" é realmente um privilégio feminino? Será que não ser usado de isca, e por ser isca não ter sua intimidade invadida por um desconhecido não é um privilégio?

"Eu já deixei de viajar sozinha ou de usar a roupa que eu queria por medo de assédio."
Será que você nunca ter deixado de ir a determinado lugar porque tal cultura é agressiva com seu gênero não é um privilégio? Será que poder se vestir de acordo com o clima ou sua vontade não é um privilégio?

"Uma amiga minha entrou no RH da empresa em que eu trabalhava, e descobriu que eu ganhava menos que todos os homens que estavam no mesmo cargo que eu, sendo que alguns tinham acabado de entrar e outros eram super criticados."
Será que ter um salário maior só por ser homem não é um privilégio?

"Eu fui obrigada a cuidar dos afazeres da casa durante minha adolescência junto com a minha mãe, enquanto meu irmão podia brincar ou estudar. Isso lhe deu mais tempo de estudo e fez com que ele entrasse numa faculdade direto da escola, enquanto eu tive que trabalhar aos 18 anos para pagar meu próprio cursinho, para depois de dois anos conseguir entrar numa faculdade."
Será que nunca ter tido que contribuir para os afazeres da casa não te deu mais tempo de estudo que muitas meninas da sua classe? Será que isso não é um privilégio?

"Quando meu amigo fica nervoso ou perde o controle, a galera sempre diz que ele deve ter tido suas razões, que provavelmente alguém fez algo pra irritá-lo. Quando eu fico nervosa, sempre dizem que eu devo estar de TPM. Isso faz com que eu dê menos valor aos meus sentimentos, faz com que eu duvide das minhas próprias razões."
Será que nunca ter seus sentimentos tratados como TPM, nunca ter sua opinião invalidada porque "você está exagerando", nunca ter sua irritação tratada como loucura ou vitimismo, não é privilégio? Será que nunca ter sido levado a desconsiderar suas próprias razões não é um privilégio?



O PRIVILÉGIO DE SER BRANCO NUMA SOCIEDADE RACISTA

"Eu já fui abordado pelos policiais diversas vezes, até acostumei. Eles sempre duvidam que o carro é meu mesmo, e quando estou com a minha esposa (que é branca), eles perguntam se ela está bem - achando que ela está sendo sequestrada."
Será que não ser constantemente considerado um criminoso pelas autoridades não te faz mais tranquilo? Será que isso não é um privilégio?

"Tem uma página no facebook chamada 'Eu não mereço mulher preta', que fala sobre como mulheres negras são feias, tem nariz grande, cabelo ruim. Quando eu vi essa página e vi que tinha tantos seguidores, me senti o lixo do lixo. Feia e impossível de ser amada."
Será que não ter uma enorme parcela da sociedade te falando que você é feio não é um privilégio?

"Toda vez que eu falo algo inteligente na escola, algum colega me olha com surpresa, como se uma negra falar algo inteligente fosse realmente inédito. De tanto isso acontecer, comecei a duvidar da minha inteligência, duvidar se eu era realmente capaz de me destacar."
Será que não ter sua inteligência contestada diariamente não é um privilégio? Será que não ter que "se provar" inteligente o tempo todo não é um privilégio? Será que nunca ter que passar por isso não fez com que você nunca duvidasse da sua capacidade?

"Tenho cabelo afro e já tive que ouvir um monte de gente dizendo que meu cabelo era legal mas que eu precisava passar um creme para definir os cachos, ou para deixá-lo menos rebelde. Já tive que ouvir gente desconhecida me chamando de leão. Já perdi a conta de quantas vezes se referiram ao meu cabelo como 'cabelo ruim'."
Será que não ter uma parte do seu corpo considerada como um exemplo de "ruim" não é um privilégio? Será que saber que sua aparência não incomoda ninguém não te deixa mais a vontade para frequentar qualquer espaço? Isso não é um privilégio?

"Minha filha me perguntou uma vez porque não tinham personagens 'da cor dela' nos desenhos e na TV sem ser a princesa Tiana. Sem saber o que falar, disse que tinha sim, era só procurar. Uns dias depois ela me perguntou porque todas as moças 'parecidas com ela' na novela eram empregadas. Disse que queria ser delegada que nem uma das personagens, mas não sabia se ela podia porque ela nunca tinha visto uma delegada 'parecida com ela'."
Será que o fato de você sempre ter visto pessoas "parecidas com você" na TV, exercendo todo tipo de papel e função, não fez com que você pensasse que poderia ser tudo que quisesse? Será que isso não é um privilégio?

"Quando entrei na faculdade, só tinha eu de negra na minha classe. Fiz alguns amigos, mas percebia que nas festas da faculdade, os meninos não tinham interesse em mim. As minhas amigas estavam sempre curiosas sobre meu cabelo (nossa, mas ele fica assim sem você fazer nada? você já tentou fazer relaxamento?). Eu não me sentia normal. Eu me sentia exótica. Eu me sentia exceção. Eu não me sentia parte daquilo."
Será que se sentir parte de um grupo não é um privilégio? Será que o fato de, nas posições mais "altas" da sociedade (faculdade, pós, reuniões de diretoria), sempre haver alguém parecido com você não te faz acreditar que você também pode chegar lá? Será que isso não é um privilégio?

"Levei minha filha para fazer esporte, e enquanto esperava, lia um livro. Uma mulher me abordou com a pergunta 'olha, estou procurando alguém para limpar minha casa, se você conhecer por favor avisa para o professor tal'. Outra chegou perto com uma cara incrédula e disse 'não acreditei, vim ver se você estava mesmo lendo Beauvoir'. Claro, porque para uma mulher negra estar num clube, só pode ser alguém da faxina. E claro, uma mulher negra lendo um livro é um grande choque."
Será que nunca terem te classificado como alguém que "só pode" estar prestando um serviço não é um privilégio? Será que isso não te deixa acuado para frequentar determinados lugares?




O PRIVILÉGIO DE SER HÉTERO NUMA SOCIEDADE HOMOFÓBICA

Neste caso, estamos TÃO atrasados que não é difícil enxergar.
Realmente só não vê quem não quer.

Poder se casar no civil em qualquer cartório é um privilégio.
Você pode não poder casar porque não tem todos os documentos necessários, ou porque já é casado, assim como um homossexual também enfrenta essas limitações.
Mas existem cartórios que ainda impõem dificuldade extras (inconstitucionais) para realizar a união de casais homossexuais, e você hétero nunca vai passar por isso, essa limitação acima você não enfrenta, só ele.

Poder andar na rua de mãos dadas com quem você ama é um privilégio.
Você pode apanhar na rua pois te assaltaram, ou porque você arranjou briga, ou porque está com uma camiseta de time de futebol, assim como um homossexual também pode apanhar nessas situações. Mas muitos homossexuais apanham somente porque andaram de mãos dadas com seu parceiro, e isso nunca vai acontecer com você se você for um menino de mãos dadas com uma menina. Você não corre esse risco, só ele.

Poder continuar morando na casa dos seus pais é um privilégio.
Você pode ser expulso de casa porque desrespeitou seus pais, pode ser expulso pois está plantando maconha no seu armário, pode ser expulso porque está destruindo a casa com seus acessos de raiva por perder no videogame, assim como um homossexual também pode ser expulso de casa nessas situações.
Mas muitos homossexuais são expulsos de casa assim que os pais ficam sabendo de sua orientação sexual, e os pais de ninguém nunca expulsaram filho nenhum de casa porque ele se declarou hétero. Então você nunca vai passar por isso, só ele.

Adotar uma criança é um privilégio.
Você pode não poder porque tem histórico criminal, você pode não conseguir porque o sistema acha que seu casamento não é saudável, ou você pode ficar anos esperando até conseguir, assim como um homossexual também pode passar por tudo isso.
Mas os homossexuais ainda estão lutando na justiça por esse direito. Você, hétero, só precisa se cadastrar e esperar o processo, você não precisa entrar  a justiça por esse direito, só ele.

Continuar vivo depois de descobrirem quem são seus pais é um privilégio.
Você pode morrer de acidente de carro, pode morrer de câncer, pode morrer num assalto, assim como um homossexual pode morrer nessas situações.
Mas um garoto de 14 anos acabou de morrer espancado na escola, pela simples razão que os coleguinhas descobriram que seus pais eram homossexuais. Nenhum garoto jamais foi espancado até a morte na escola porque descobriram que ele tinha um pai e uma mãe, nem você nem seu filho correm esse risco, só o homossexual.







(Desta vez estou fazendo apenas sobre racismo, machismo e homofobia! Mas se quiserem enviar depoimentos de outras minorias, ou exemplos práticos nesse estilo, será um prazer incluí-los!)




A falácia contida em "Eu só vejo a raça humana"

Ouço muita gente falando que "a menor das minorias é o indivíduo", que "somos todos da mesma raça humana" e "somos todos iguais".
As frases em si são bem bonitas, e assim, puramente, eu concordo plenamente com elas, e acho que se TODOS pensassem assim, muitos dos problemas do mundo estariam resolvidos.

Porém, essas frases geralmente são usadas por pessoas que querem invalidar a luta ou a voz de alguma minoria, mas de uma "forma fofa" (como se silenciar a vivência de alguém pudesse ser fofo).

Eu entendo o que essas pessoas querem dizer, e sua intenção é das melhores.

Elas querem dizer que se pararmos de falar sobre gênero, raça, orientação sexual, automaticamente o racismo, o machismo, a homofobia, a transfobia e todas as demais opressões desapareceriam.
Elas querem dizer que essas opressões já foram superadas, são parte do passado, e hoje em dia só estão nos olhos de quem vê.
Elas querem dizer que já está claro que somos todos iguais, então quando as minorias querem pedir ações afirmativas para protegê-los, essas minorias só estão sendo preconceituosas com elas mesmas (o que me parece curioso é achar que se sabe mais sobre a opressão e a luta do que as próprias pessoas que vivenciam isso todos os dias).
Elas querem dizer que todo mundo tem problemas, todo mundo tem dificuldade e todos estão expostos aos mesmos riscos, portanto proteger um grupo em especial seria uma forma de privilégio, e até uma discriminação.

Em suma, eles querem dizer que somos todos iguais, então não tem porque tratar diferente.

Uma coisa interessante, é que esse discurso parece infalível - quem (que não seja fanático religioso ou um racista declarado) em sã consciência discordaria desse pensamento?

Essa fala tem uma falha bem difícil de detectar - ela se sustenta em cima de uma falácia.
(Falácia: um raciocínio errado com aparência de verdadeiro)

A falácia que sustenta este argumento é chamada de Falácia do Mundo Justo.
O que isso quer dizer?

Quer dizer que todo esse discurso acima seria super verdadeiro e super válido, se vivêssemos em um mundo/sociedade justa.

Neste suposto mundo justo, todos seriam tratados com igualdade de direitos, igualdade de respeito, todos teriam as mesmas possibilidades e oportunidades, e veríamos todas as cores, gêneros e sexualidades representadas (em proporções iguais ou pelo menos muito próximas) na literatura, nos filmes, nas novelas, nas propagandas, nas empresas, nos restaurantes bacanas, no governo, nas escolas e universidades.

E neste mundo justo, faria absolutamente todo sentido o raciocínio acima, de que "somos todos iguais", e que qualquer ação que privilegiasse um grupo em detrimento de outro seria absolutamente injusto.

Ok? Ok.

Poreeeeeém, acho que todos podemos concordar que esse "mundo justo" que eu descrevi acima não é o mundo em que vivemos.
E nós não vivemos neste mundo, justamente porque há uma série de fatores históricos, culturais e sociais que fizeram (e ainda fazem) com que as pessoas percebam todas essas diferenças, mesmo sem querer, mesmo quando dizem que não percebem.
E perceber as diferenças não seria um problema, pois nós somos diferentes mesmo.

O problema é que algumas características vem carregadas de uma série de estereótipos, por causa dos mesmos fatores históricos, culturais e sociais.
E esses estereótipos muitas vezes não são bacanas com alguns grupos. Muitas vezes esses estereótipos dizem até que certos grupos não deveriam existir.

Ninguém está ileso a esses estereótipos, pois todos vivemos em sociedade, e todos fomos educados e criados em sociedade, e em maior ou menor escala, expostos a estes conceitos estereotipados - que também em maior ou menor grau, entraram na nossa cabeça e se instalaram lá.

Portanto, TODOS NÓS reproduzimos em nossas ações e em nossas falas uma série de pequenas (ou grandes) discriminações.
Portanto - a não ser que você tenha se criado sozinho na selva - ninguém está imune e reproduzir conceitos machistas, racistas, homofóbicos.
Nem mesmo as próprias mulheres, nem mesmo os próprios negros, nem mesmo os próprios homossexuais - eles não estão imunes a reproduzir um pensamento que apenas os prejudica, simplesmente porque quando está já instaladinho na sua cabeça, não é tão fácil perceber que tal pensamento te limita.



E um grande problema é acreditar que esses "poucos direitinhos a menos", essas "pequenas" discriminações, essas piadinhas, essas palavras - nada disso faz diferença na construção da auto-estima e na visão da própria capacidade de cada um.

Tem até uma série de estudos feitos com crianças que mostram como algumas palavras que usamos repetidamente para elogiá-las ou repreendê-las podem fazer uma enorme diferença em como essa criança se relaciona com o mundo, como ela desempenha na escola e até em como ela enxerga sua própria capacidade.

Essas "pequenas coisas" (que só são pequenas se você estiver comparando com os absurdos que existiam há alguns anos) fazem TODA a diferença em como uma pessoa vai ver o mundo, e SE VER no mundo.

Portanto, mesmo se você conhece uma mulher machista, um negro racista, um homossexual homofóbico (etc), isso não quer dizer que é válido ignorar todos os outros homossexuais, todos os outros negros e todas as outras mulheres quando estes dizem que existe um problema.

Vamos ouvir mais, e parar de pensar em nós mesmos toda vez que alguém falar de alguma opressão.
Vamos dar credibilidade para a vivência das pessoas, e entender suas demandas, mesmo se você também for um indivíduo com problemas.
Vamos parar de achar que só porque algo não te afeta diretamente, aquilo não existe.
Parar de achar que só porque você não entende determinado conceito, ele não é verdadeiro.
Parar de achar que se algo não é problema pra você, não deveria ser pra ninguém.

Vamos?




quinta-feira, 19 de março de 2015

Feminismo é DEFESA.

Caso 1) Uma moça que estava chegando no prédio, sem porteiro, com as compras na mão, enrolada pra pegar a chave na bolsa. Um homem que estava parado na portaria se ofereceu pra segurar os pacotes enquanto ela pegava a chave... ela ficou com medo mas achou que não seria GENTIL recusar e topou.
Já dentro do prédio ele falou que fazia questão de levar as compras até o apartamento dela. Ela ficou com mais medo ainda, falou que não, não precisava, mas ele "não aceitou" o não e levou tudo até o apartamento dela. Já na entrada, ela apavorada, porém não sabia como sair da situação sem ser através de um grito para os vizinhos, e o cara ali tão bonzinho, falando baixo... como ele se sentiria se fosse apenas um cara tentando ajudar e fosse acusado injustamente? Ele colocou os sacos sobre a mesa dela, a estuprou e nunca foi encontrado.

Caso 2) Uma criança que sempre chorava para não ir à casa do avô, porém a mãe imaginava que era apenas manha da garotinha e que não seria GENTIL com o avô negar as visitas.
Caso 3) Uma mulher que estava caminhando em direção ao seu carro no estacionamento de um shopping e tinha um homem fumando encostado no carro dela. Ela ficou com medo, mas achou que não seria GENTIL se ela pedisse a um segurança para acompanhá-la até o carro... poderia ser apenas um homem fumando e ficaria ofendido. Entrou e...bom, o final foi o que vocês imaginam.

O estupro tá ligado ao machismo de várias formas e não só no sentido que a gente já sabe (de misoginia, de o cara achar que o corpo da mulher é propriedade dele, a cultura do estupro etc.). 
Está ligado ao machismo também porque a mulher é educada pra sempre colocar os sentimentos do outro (homem ou mulher) em primeiro lugar, que mulher tem que ser GENTIL SEMPRE. 
Então, quando um homem quer abusar da gente, ele sabe que a gente vai colocar os sentimentos dele acima da nossa segurança. Que a gente não vai ter coragem de dizer: "Sai daqui agora ou eu chamo a polícia" ou "Minha filha não ficará mais sozinha com você" ou "OK, você pode ser só um cara fumando mas não tá escrito na testa quem é estuprador e quem não é".

Logo, é importanto prestar atenção a isso; que às vezes você precisará ser não a "menina boazinha" que seus pais te ensinaram a ser, e sim a "grossa, histérica, maluca", porque é isso que pode te salvar.

E é por isso que dizemos que feminismo é DEFESA.
E é por isso que acusam as feministas de serem histéricas.



Privilégio? Ahn?

Palavra do dia: Privilégio!
O que é?
Segundo o dicionário: vantagem atribuída a uma pessoa e/ou grupo de pessoas em detrimento dos demais; ocasião favorável que só é concedida a um pequeno grupo de pessoas; circunstância de supremacia.

Mas quando esse povo chato dos direitos humanos e das minorias fala em privilégio, o que querem dizer?
Queremos apontar uma distribuição desigual de poder dentro da sociedade. Ele existe quando algum aspecto da sua vida ou da sua essência é aceito pelo mundo e pelas pessoas em geral, sem discriminação, desconfiança ou estranheza.

Podemos dizer que o privilégio é o oposto da opressão. Quando uma pessoa oprimida luta contra a opressão, ela não está lutando contra a PESSOA privilegiada. Ela está lutando contra um sistema que as coloca nessa posição. A pessoa oprimida em questão não quer "se tornar privilegiada", ela quer acabar com esse sistema que coloca uma pessoa como privilegiada e outra como oprimida, para que sejam então IGUAIS.

Ser privilegiado significa que você possui (sem você mesmo ter buscado isso) algum desses atributos que ditam a facilidade e a influência que você terá dentro da sociedade.
Significa que o conceito de meritocracia pode funcionar dentro do ambiente profissional, mas não funciona enquanto sociedade - pois cada um sai de um ponto de partida diferente e passa por situações diferentes no decorrer da vida (situações estas que os farão mais ou menos aptos a passar por uma série de "processos seletivos" da vida).


Ser privilegiado é uma condição "imposta" a você, portanto não é um insulto! Não é especificamente sua culpa, e você não precisa se sentir mal por isso.
E importante: o privilégio não é algo absoluto. A maioria das pessoas ocupa diversas posições sociais, com variados níveis de privilégio ou opressão.

Vou me usar como exemplo: eu sou mulher numa sociedade machista, e portanto meu gênero faz parte da parcela oprimida.
Porém, eu sou privilegiada em muito mais questões! Sou branca numa sociedade racista, sou cisgênero (o que quer dizer que me idenfico com o sexo que nasci) numa sociedade transfóbica, sou hétero numa sociedade homofóbica, sou magra numa sociedade gordofóbica, tenho boas condições financeiras numa sociedade com preconceito de classe.

Mas e aí, eu não escolhi nenhuma dessas coisas, eu simplesmente sou assim! Não sou eu que estou dizendo que o sistema deveria ser assim, não sou eu que estou oprimindo o outro lado, eu não tenho nada a ver com isso!
Opa, tenho sim! Não é porque eu não concordo com o sistema, que ele deixa de existir, e deixa de me privilegiar.

Um adendo importante nesse momento: opressão é diferente de problema, insegurança ou "zuera". Problemas e inseguranças todos temos, e todo mundo já foi zuado por alguma razão.
Uma coisa é algumas pessoas, algumas vezes na minha vida terem me chamado de magrela, taquara, apontado que eu deveria comer mais pq não parecia saudável. Nenhuma dessas coisas foi bacana.
Mas enquanto eu tinha essas pessoas me dizendo isso, eu tinha uma sociedade inteira me dizendo que ser magra é legal, ser magra é bonito. Eu tinha amigas sofrendo distúrbios alimentares para se tornarem magras como eu. Eu tinha todas as atrizes famosas e todas as capas de revista com mulheres magras me mostrando que ser magra é legal. Eu tinha namoradinhos elogiando minha barriguinha chapada em bem maior proporção do que chatinhos na escola me chamando de ossuda. Eu podia entrar em qualquer loja e encontrar uma roupa que me servisse (e mesmo se não ficasse perfeita, pelo menos ela CABE. Eu posso ajustar, não preciso mandar fazer).
Portanto, eu ser chamada de magrela podia ser um problema pra mim, podia me deixar insegura, podia me fazer ser zuada, podia me deixar triste. Mas não tinha o PESO de uma sociedade inteira reiterando esse discurso.




Ok, então de acordo com esse discurso, eu sou privilegiada. E daí, que que eu faço com isso?

1) RECONHEÇA que você vive numa sociedade que te privilegia. É só, quando questionado, ou numa situação de injustiça, saber admitir que sim, algumas coisas são mais fáceis pra você, você tem mais voz em alguns ambientes, sua opinião é mais levada em conta, sua dor não é vista como vitimismo. Isso não quer dizer que a vida É FACINHA pra você. Quer dizer que alguuumas coisas são mais fáceis (ou até viáveis) pra você do que são para outras pessoas. Algumas coisas que são normais e passam batido pra você, são uma puta conquista para outros.
Um passo além: não exigir ser ouvido e estar certo o tempo todo, principalmente em ambientes que já naturalmente favorecem a sua voz e calam as outras. É entender que em alguns assuntos, a vivência diária das pessoas vale mais que seu achômetro ou até seu estudo acadêmico.

2) OUÇA as pessoas em posições de opressão quando elas te dizem que tal coisa é opressão! Parece bobo, mas é o que menos acontece. Geralmente quando vc aponta a opressão, as pessoas ficam na defensiva (como se fosse uma questão pessoal - e juro, NÃO É), e começam a apontar como ELAS sofrem. Isso além de pouco empático, é bem egoísta.
Se a pessoa está dizendo que aquela ação, aquela expressão ou aquele comportamente é opressivo, provavelmente é. Todos nós temos capacidade de parar um segundo, olhar pra dentro e analisar se não conseguimos mudar aquele comportamento, já que outros ficam ofendidos. O poder de simplesmente ignorar e invalidar uma vivência ou uma dor fazem parte exatamente do seu privilégio, então se vc não concorda com o sistema, não compactue com ele. Pra você é uma piada engraçada que você não vai mais "poder" contar, ou um palavrão que vc não vai mais usar, para aquela pessoa é um momento em que ela não vai se sentir desumanizada ou desprezada. Vale a pena, não vale?
Um passo além: as vezes as pessoas oprimidas podem ser agressivas, irritadas, bravas. Isso não é o ideal, sem dúvida, e a mensagem seria passada com bem mais clareza se a pessoa conseguisse se expressar e explicar com calma. Mas você não sabe quantas vezes aquela pessoa passou por aquilo, quantas vezes ela foi silenciada, quantas vezes ela explicou pacientemente só pra ser ignorada. Então respira fundo e releva.

3) USE O SISTEMA PARA O BEM. Use seu privilégio para dar voz à quem geralmente é silenciado e ignorado. Como as dinâmicas sociais de poder fazem com que minha voz seja mais ouvida que as outras, eu vou me posicionar dentro do meu grupo de privilégio, e questionar ou repreender quando alguém fizer algo que eu aprendi que é ofensivo.

Exemplos simples:
-ao invés de discutir com uma feminista dizendo que vc concorda com ela, mas não concorda com o tom que ela usou, use esse tempo para discutir com um amigo que sempre repassa vídeos de revenge porn no whatasapp, ou que faz comentários inapropriados para mulheres na rua.
-ao invés de discutir com uma militante do movimento negro que ela está exagerando, que você tem um amigo negro que não apoia cotas, entenda que esse UM exemplo não reflete na maioria, e use esse tempo para repreender o amigo que faz piadas racistas com o pretexto de ser "só brincadeirinha".
-ao invés de discutir com um homossexual que ele não devia apontar que os LGBT sofrem espancamentos e "estupros corretivos" só por serem quem são, pq afinal todo mundo sofre violência nesse mundo louco, use esse tempo para conscientizar um amigo preconceituoso que usa frases como "não tenho nada contra gays, contanto que não se encostem em público e fiquem longe de mim", ou usa "gay" como se fosse pejorativo.
-ao ver que uma pessoa de uma classe oprimida está sendo constantemente interrompida em sua fala, interrompa quem o interrompeu, e peça que deixem essa pessoa terminar de falar.
-ao ver alguém chamar outro de vitimista, peça para a pessoa entender que ela não passa por aquilo, então invalidar a vivência do outro não é bacana.



terça-feira, 3 de março de 2015

Desconstrução

Todo mundo foi criado na sociedade, e bem, ela tem vaaaários problemas, como todos podemos concordar.
Então é apenas natural que a gente reproduza uma série de discursos, nem por má fé ou por mal... simplesmente porque sempre aprendemos que o mundo funcionava dessa forma, e as vezes nem nos atentamos em como na verdade esse discurso pode ser falacioso.

Esse post contém alguns argumentos que todo mundo está suscetível a apresentar, a problematização e a desconstrução dos mesmos.

Pra refletir! =)

Situação 1) "Mas vocês feministas ficam fazendo piada de homem/desmoralizando todos os homens, nem todos os homens são assim!" - seguido de "Só estou apontando um problema numa coisa que você disse, não precisa ficar tão na defensiva"

Primeiro de tudo, sabe QUANTAS vezes eu (e todas as mulheres, btw) tive que ouvir piadinha que diminui as mulheres? Sabe quantas propagandas fazem isso, todos os dias? E aí quando a gente reclama, sabe quantas vezes eu tive que ouvir que era só uma piadinha, que eu não tinha mais senso de humor? Te garanto que foi muitas, mas muuuuuuitas vezes.
Acho engraçado que a maioria das pessoas que acha que feminista é mulher chata/mimada/vitimista que não sabe aceitar um "elogio" nem rir de uma "piada" são as mesmas pessoas que quando uma feminista faz uma piada sobre o machismo fica super ofendido e na defensiva.
Quando é com você, aí a piada não tem graça, né? Quando desafia o senso comum, quando a piada não é direcionada pra quem ela sempre foi (minorias), aí de repente é ignorância.
Queria saber se você teve essa reação brava com todas as piadas racistas, homofóbicas e machistas que você vê no facebook que tenho CERTEZA que são muito mais recorrentes que a piadinha da feminista aqui. Você partiu pra cima do seu amigo que postou que lugar de mulher é na cozinha? Você deu discurso moralizante pra cima da pessoa que fez chamou o cabelo de um negro de cabelo "ruim"??? Você repreende com a mesma veemência que me repreendeu aqui, quando um amigo seu fala mal de "viado"?

Sabe porque ficamos na defensiva? Porque o facebook e a mídia são um festival de piada machista e ninguém fala nada!
Aí quando a gente fala, SEMPRE vem um homem nos dizer que o que a gente deveria fazer, ou como a gente deveria lutar, sempre vem um homem chamar a gente de mimada e vitimista. Sempre vem um homem falar que estamos generalizando.
Eu também não concordo com algumas feministas "radicais" que odeiam homens (que, engraçado, não representam nem 1% do movimento feminista, e ainda assim todas as feministas são pintadas dessa forma.) Só acho que essas feministas nunca mataram ninguém. Elas não representam perigo pra ninguém.
Eu prefiro gastar a minha saliva conscientizando homens a não verem suas parceiras como propriedade, eu uso meu tempo empoderando mulheres para que saiam de relacionamentos abusivos, porque essas situações e o machismo que as motiva, isso sim, mata pessoas.

Eu quero saber CADÊ VOCÊS pra falar que os machistas estão generalizando??? Cadê?? Porque as feministas estão aqui lutanto sozinhas enquanto mulheres morrem nas mãos de seus parceiros, o movimento negro está ali lutando sozinho enquanto a juventude negra é baleada por polícias "por ter se encaixado na descrição do infrator", a galera LGBT está ali lutando sozinha enquanto homossexuais não podem se casar nem andar na rua sem apanhar!!! E você está aí, brigando com uma feminista! Aí a gente fica irritada e de repente é a nossa braveza que faz o movimento não ir pra frente. Não, cara, nossa braveza é o que muitas vezes faz a reclamação ser ouvida, é a sua insistência em não atentar para o que realmente importa que faz a sociedade não evoluir.

Situação 2) "E os homens que morreram na guerra? Porque as feministas não lutam pra ter alistamente obrigatório? Isso vocês não querem né?"

Porque, ó deusa, nós lutaríamos para que algo fosse obrigatório? Caso você não saiba, as feministas defendem que o serviço militar deveria ser compulsório para todos. Isso quer dizer que a gente acha sim errado que os homens sejam obrigados, olha só. Isso só não é a questão mais importante da nossa luta.

O ambiente militar só é tão masculino adivinha porque? BINGO, por causa do machismo, que diz que mulher é muito fraquinha e incompetente pra servir!
Por isso que é tão difícil ATÉ HOJE para uma mulher seguir carreira militar, por isso que é tão difícil elas chegarem em cargos altos. Se só os homens foram lutar na guerra, vc pode ter certeza que não foram as mulheres que escolheram isso.

E outra - essa ilusão que só homem morre em guerra, gente, da onde vem isso? Se vc for estudar as guerras a fundo, vai descobrir que uma infinidade de mulheres também morreu na guerra. Uma infinidade foi estuprada pelo lado inimigo. (https://calcinhasmolhadasblog.wordpress.com/2015/01/28/resposta-a-falacia-machista-do-risco-da-guerra/)

A guerra nunca é sussa para as mulheres,



Situação 3) "Vocês falam como se nenhum homem prestasse, não olham para os homens de família, que batalham para sustentar a casa."

Opa! Mas quando um homem batalha pra caceta pra sustentar os filhos sozinho, ele é até primeira página do UOL sobre como ele é fofo, que herói e que exemplo bom para a humanidade (e de fato, ele é mesmo!)!! Esses homens são bacanas sim, mas definitivamente não precisam de ainda mais confete.
Mas e as 5,5 milhões de crianças que nem tem o pai no registro, que são sustentadas pela mãe?
E as mães solteiras que criam seus filhos, e ao invés de ouvirem que são heroínas e mulheres exemplo, ouvem que "quem mandou não usar camisinha" , e tem até página no face chamada "não mereço mãe solteira"?

E mesmo as famílias cujo sustento financeiro é o homem, onde está essa mulher? Olha só, essa mulher está em casa, trabalhando de cozinheira, babá, faxineira, sem ser paga, sem férias, sem reconhecimento, e muitas vezes sofrendo violência doméstica e achando que merece, pq afinal quem trabalha é o homem, ela "não faz nada" e deveria ser grata por ter aquele homem incrível e provedor ao lado.



Situação 4) "Minha vó tem direito de reclamar, as mulheres de hoje em dia não. Não precisa mais de feminismo" 

Só porque as partes mais absurdas da luta já foram vencidas (tipo direito ao voto, tipo poder trabalhar, tipo não ter que obedecer o marido) não quer dizer que agora tá tudo bem, nem precisa mais de feminismo.
É fácil dizer que algumas coisas são frescura quando não é com você né? As pequenas coisas podam nossa liberdade todos os dias.

Mas tudo bem, se vc quiser que eu me atenha as "grandes coisas", bem, eu acho que não poder ir pra balada sem ter meu corpo invadido e apertado é uma boa razão pra ainda ter feminismo. Eu acho que enquanto uma mulher for estuprada a cada 12 segundos no Brasil, e acharem que é deboas fazer piada com isso na TV, é uma boa razão pra ter feminismo. Eu acho que as 5 mil mulheres que morrem todos os anos vítimas de violência doméstica são uma boa razão pra ter feminismo. Eu acho que as mulheres que ganham salário menor para desempenhar a mesma função que homens são uma boa razão pra ter feminismo. Eu poderia continuar por muito, muito tempo aqui, mas acho que já fiz meu ponto.





Situação 5) "Nunca vi reclamarem por pagar menos na balada, por não pagar a conta no primeiro encontro. Tem até empresa que prefere contratar mulher, isso vocês não reclamam né"

Na verdade, se você se informar um pouco melhor, vai descobrir que as feministas são SUPER CONTRA essa história de mulher pagar menos na balada. Desde que eu me descobri feminista e busquei entender a razão das coisas, eu nunca mais fui numa festa que fizesse essa divisão.

Sabe porque a festa é mais barata pra mulher? Porque mulher é tratada como ISCA. Pra quem não para pra pensar, pode parecer ótimo pagar menos.
Mas será que se toda mulher pudesse escolher entre esse dois cenários -A) pagar menos e saber que vai ser assediada lá dentro, que vai ter a bunda apertada, que vai ter que dar um telefone falso pra se desvencilhar de um mala insistente, que vai ter xavequeiro chato que não vai sair da bota até chegar seu namorado, e quando ele chegar o mala vai pedir desculpas para o namorado e não pra vc (afinal, vc é apenas uma propriedade).... ou B) pagar o mesmo que o homem e ser tratada como ser humano, não ter o corpo encostado sem autorização, quando um cara dá um approach e você recusa, o cara simplesmente ir embora tranquilo sem te chamar de vadia metida.... hmmmm oque será que ela escolheria?

Sobre não pagar a conta e outros "cavalheirismos", também vc ficará chocado em saber que todas as feministas que eu conheço não curtem cavalheirismos não.
Elas curtem gentilezas, coisas que elas também fariam por alguém (por exemplo, eu sempre paguei a conta quando meu marido estava mais apertado, e vice e versa, e senão, rachamos), e coisas que são feitas por qualquer um (tipo ajudar alguém com dificuldades em carregar algo).
As feministas curtem gente gentil, que ajuda pessoas que precisam de ajuda. Não "cavalheiros" que só são gentis com as mulheres que lhes interessa. A sutil, porém linda diferença entre cavalheirismo e gentileza -  um é interesse, o outro é bondade mesmo.

E sobre ser escolhida na empresa, sério, vale fazer uma pesquisa sobre a diferença salarial, vale uma pesquisa sobre quanto porcento das grandes empresas tem mulheres em cargos de liderança. As empresas que "preferem mulheres" ainda são infinitamente menos recorrentes do que as que preferem homens, geralmente essa "preferência" não é pra cargos de chefia, sem contar quantas empresas contratam mulheres só se elas forem bonitas, como artigo decorativo.

Situação 6) "Mas homens também são assassinados, e também sofrem violência! Todo mundo sofre igual!"

Sim, homens morrem mais vítima de violência que as mulheres!
Mas sabe quem matou esses homens? Outros homens!
Sabe porque eles morreram? Por causa de drogas, de roubo, de máfia, de briga.
Agora, sabe quem matou essas mulheres? Homens.
Sabe porque? Porque elas são mulheres. E por serem mulheres são vistas como propriedade do homem, que entende que pode fazer o que quiser com elas, e se elas o "desonrarem" eles tem direito de descer o cacete.

Entende a diferença? Os homens estão morrendo por terem se envolvido com drogas, por terem resolvido brigar na balada, por dívida, por dinheiro. Não por serem homens, Se uma mulher estivesse na mesma situação, envolvida com as mesmas coisas, teria morrido do mesmo jeito.
As mulheres estão morrendo porque se recusaram a fazer sexo com o marido, porque o marido viu ela conversar com um ex, porque não quis mais cuidar da casa sozinha, porque reclamou, porque "enfrentou" seu parceiro.
Em nenhuma dessas situações, se vc inverte o gênero, as pessoas morrem. Ou seja, elas morreram por serem mulheres, vítimas do machismo que as vê como propriedade.



Situação 7) "Você está generalizando, colocando todos os homens no mesmo saco!"

Um dado interessante. A probabilidade de uma pessoa ser atacada por um tubarão são 1 em 3,748,067, enquanto a probabilidade de uma mulher ser estuprada é de 1 em 6. Ainda assim, dizer que tubarões são perigosos para seres humanos é tido como racional e óbvio, enquanto dizer que homens são perigosos para as mulheres é visto como generalização e vitimismo.

Óbvio que nem todos os homens são do mal, acontece que a classe masculina, num geral, é ameaçadora para a classe feminina, num geral!
É triste pra cacete, mas é verdade! Acredita em mim, pior que ser um homem e ouvir isso, é ser uma mulher e "nadar com os tubarões" todos os dias, porque nem todos os tubarões estão com fome e vão te morder, mas vc está correndo o risco daquele homem que está andando atrás de você ser sim um tubarão com fome.
Queria saber, se você estivesse no mar e aparecesse um tubarão, se vc ia ficar tranquilo e pensar "ah, mas nem todos os tubarões atacam seres humanos".