O que é?
Segundo o
dicionário: vantagem atribuída a uma pessoa e/ou grupo de pessoas em detrimento
dos demais; ocasião favorável que só é concedida a um pequeno grupo de pessoas;
circunstância de supremacia.
Mas quando
esse povo chato dos direitos humanos e das minorias fala em privilégio, o que
querem dizer?
Queremos
apontar uma distribuição desigual de poder dentro da sociedade. Ele existe
quando algum aspecto da sua vida ou da sua essência é aceito pelo mundo e pelas pessoas em geral,
sem discriminação, desconfiança ou estranheza.
Podemos
dizer que o privilégio é o oposto da opressão. Quando uma pessoa oprimida luta
contra a opressão, ela não está lutando contra a PESSOA privilegiada. Ela está
lutando contra um sistema que as coloca nessa posição. A pessoa oprimida em
questão não quer "se tornar privilegiada", ela quer acabar com esse
sistema que coloca uma pessoa como privilegiada e outra como oprimida, para que
sejam então IGUAIS.
Ser
privilegiado significa que você possui (sem você mesmo ter buscado isso) algum
desses atributos que ditam a facilidade e a influência que você terá dentro da
sociedade.
Significa que o conceito de meritocracia pode funcionar dentro do ambiente profissional, mas não funciona enquanto sociedade - pois cada um sai de um ponto de partida diferente e passa por situações diferentes no decorrer da vida (situações estas que os farão mais ou menos aptos a passar por uma série de "processos seletivos" da vida).
Significa que o conceito de meritocracia pode funcionar dentro do ambiente profissional, mas não funciona enquanto sociedade - pois cada um sai de um ponto de partida diferente e passa por situações diferentes no decorrer da vida (situações estas que os farão mais ou menos aptos a passar por uma série de "processos seletivos" da vida).
Ser privilegiado é uma condição "imposta" a você, portanto não é um insulto! Não é especificamente sua culpa, e você não precisa se sentir mal por isso.
E
importante: o privilégio não é algo absoluto. A maioria das pessoas ocupa
diversas posições sociais, com variados níveis de privilégio ou opressão.
Vou me usar
como exemplo: eu sou mulher numa sociedade machista, e portanto meu gênero faz
parte da parcela oprimida.
Porém, eu
sou privilegiada em muito mais questões! Sou branca numa sociedade racista, sou
cisgênero (o que quer dizer que me idenfico com o sexo que nasci) numa
sociedade transfóbica, sou hétero numa sociedade homofóbica, sou magra numa
sociedade gordofóbica, tenho boas condições financeiras numa sociedade com
preconceito de classe.
Mas e aí, eu
não escolhi nenhuma dessas coisas, eu simplesmente sou assim! Não sou eu que
estou dizendo que o sistema deveria ser assim, não sou eu que estou oprimindo o
outro lado, eu não tenho nada a ver com isso!
Opa, tenho
sim! Não é porque eu não concordo com o sistema, que ele deixa de existir, e
deixa de me privilegiar.
Um adendo
importante nesse momento: opressão é diferente de problema, insegurança ou
"zuera". Problemas e inseguranças todos temos, e todo mundo já foi
zuado por alguma razão.
Uma coisa é
algumas pessoas, algumas vezes na minha vida terem me chamado de magrela,
taquara, apontado que eu deveria comer mais pq não parecia saudável. Nenhuma
dessas coisas foi bacana.
Mas enquanto
eu tinha essas pessoas me dizendo isso, eu tinha uma sociedade inteira me
dizendo que ser magra é legal, ser magra é bonito. Eu tinha amigas sofrendo
distúrbios alimentares para se tornarem magras como eu. Eu tinha todas as
atrizes famosas e todas as capas de revista com mulheres magras me mostrando
que ser magra é legal. Eu tinha namoradinhos elogiando minha barriguinha
chapada em bem maior proporção do que chatinhos na escola me chamando de
ossuda. Eu podia entrar em qualquer loja e encontrar uma roupa que me servisse
(e mesmo se não ficasse perfeita, pelo menos ela CABE. Eu posso ajustar, não
preciso mandar fazer).
Portanto, eu
ser chamada de magrela podia ser um problema pra mim, podia me deixar insegura,
podia me fazer ser zuada, podia me deixar triste. Mas não tinha o PESO de uma
sociedade inteira reiterando esse discurso.
Ok, então de
acordo com esse discurso, eu sou privilegiada. E daí, que que eu faço com isso?
1) RECONHEÇA
que você vive numa sociedade que te privilegia. É só, quando questionado, ou
numa situação de injustiça, saber admitir que sim, algumas coisas são mais
fáceis pra você, você tem mais voz em alguns ambientes, sua opinião é mais
levada em conta, sua dor não é vista como vitimismo. Isso não quer dizer que a
vida É FACINHA pra você. Quer dizer que alguuumas coisas são mais fáceis (ou
até viáveis) pra você do que são para outras pessoas. Algumas coisas que são
normais e passam batido pra você, são uma puta conquista para outros.
Um passo
além: não exigir ser ouvido e estar certo o tempo todo, principalmente em
ambientes que já naturalmente favorecem a sua voz e calam as outras. É entender
que em alguns assuntos, a vivência diária das pessoas vale mais que seu
achômetro ou até seu estudo acadêmico.
2) OUÇA as
pessoas em posições de opressão quando elas te dizem que tal coisa é opressão!
Parece bobo, mas é o que menos acontece. Geralmente quando vc aponta a
opressão, as pessoas ficam na defensiva (como se fosse uma questão pessoal - e
juro, NÃO É), e começam a apontar como ELAS sofrem. Isso além de pouco empático,
é bem egoísta.
Se a pessoa
está dizendo que aquela ação, aquela expressão ou aquele comportamente é
opressivo, provavelmente é. Todos nós temos capacidade de parar um segundo,
olhar pra dentro e analisar se não conseguimos mudar aquele comportamento, já
que outros ficam ofendidos. O poder de simplesmente ignorar e invalidar uma
vivência ou uma dor fazem parte exatamente do seu privilégio, então se vc não
concorda com o sistema, não compactue com ele. Pra você é uma piada engraçada
que você não vai mais "poder" contar, ou um palavrão que vc não vai
mais usar, para aquela pessoa é um momento em que ela não vai se sentir
desumanizada ou desprezada. Vale a pena, não vale?
Um passo
além: as vezes as pessoas oprimidas podem ser agressivas, irritadas, bravas.
Isso não é o ideal, sem dúvida, e a mensagem seria passada com bem mais clareza
se a pessoa conseguisse se expressar e explicar com calma. Mas você não sabe
quantas vezes aquela pessoa passou por aquilo, quantas vezes ela foi
silenciada, quantas vezes ela explicou pacientemente só pra ser ignorada. Então
respira fundo e releva.
3) USE O
SISTEMA PARA O BEM. Use seu privilégio para dar voz à quem geralmente é
silenciado e ignorado. Como as dinâmicas sociais de poder fazem com que minha
voz seja mais ouvida que as outras, eu vou me posicionar dentro do meu grupo de
privilégio, e questionar ou repreender quando alguém fizer algo que eu aprendi
que é ofensivo.
Exemplos
simples:
-ao invés de
discutir com uma feminista dizendo que vc concorda com ela, mas não concorda
com o tom que ela usou, use esse tempo para discutir com um amigo que sempre
repassa vídeos de revenge porn no whatasapp, ou que faz comentários
inapropriados para mulheres na rua.
-ao invés de
discutir com uma militante do movimento negro que ela está exagerando, que você
tem um amigo negro que não apoia cotas, entenda que esse UM exemplo não reflete
na maioria, e use esse tempo para repreender o amigo que faz piadas racistas
com o pretexto de ser "só brincadeirinha".
-ao invés de
discutir com um homossexual que ele não devia apontar que os LGBT sofrem
espancamentos e "estupros corretivos" só por serem quem são, pq
afinal todo mundo sofre violência nesse mundo louco, use esse tempo para
conscientizar um amigo preconceituoso que usa frases como "não tenho nada
contra gays, contanto que não se encostem em público e fiquem longe de
mim", ou usa "gay" como se fosse pejorativo.
-ao ver que
uma pessoa de uma classe oprimida está sendo constantemente interrompida em sua
fala, interrompa quem o interrompeu, e peça que deixem essa pessoa terminar de
falar.
-ao ver
alguém chamar outro de vitimista, peça para a pessoa entender que ela não passa
por aquilo, então invalidar a vivência do outro não é bacana.
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