segunda-feira, 27 de julho de 2015

Estupro e assédio: chega de passar pano!!!

Essa semana está circulando a capa da New York Magazine, que mostra 35 mulheres (das 46) que acusam Bill Cosby de estupro e assédio.
O caso só está recebendo atenção agora pois foi liberado um depoimento dado pelo próprio Cosby dizendo que drogou mulheres para fazer sexo com elas. Ou seja, um cara que é acusado de estupro desde 2004 só é realmente considerado "culpado" quando vaza um depoimento do próprio confessando.
Porque as vozes das 46 mulheres aparentemente não eram confiáveis o suficiente pra galera acreditar.

Assim como Cosby, existe um extensa lista de famosos estupradores e pedófilos, que curiosamente não tem seus casos divulgados ou sequer citados em suas biografias de Wikipédia.
Curiosamente, esses homens continuam sendo idolatrados, contratados e celebrados.

Não existe nenhuma estatística realmente boa sobre falsas alegações de estupro, mas uma das mais conhecidas (do FBI) estima que 8% das acusações de estupro são falsas.
Ainda assim, em toda e qualquer notícia de estupro que sai na mídia, é possível encontrar pessoas duvidando da veracidade das acusações, ou mesmo comentários de gente que acha que frente à uma acusação de estupro, o importante mesmo é questionar "o que essa mulher estava fazendo sozinha na rua", "vestida desse jeito, tava pedindo né" ou mesmo "mas porque ela entrou no carro dele então?".

Isso aponta para uma primeira falha moral da nossa sociedade quando o assunto é a violação do corpo feminino: criamos "desculpas" para justificar o injustificável.
Existe UM culpado num crime de estupro: o estuprador.
Mas quando repetimos discursos como estes acima, nós - enquanto sociedade- somos cúmplices. 
Talvez ajude sim se você não andar sozinha na rua, ou se não vestir tal roupa - mas quando você vê que a maioria dos estupros tem como algoz algum conhecido da vítima, a gente entende que essas medidas são frágeis e paliativas - e focar nelas como as melhores estratégias para combater o problema é no mínimo questionável.

O que realmente é necessário é CONSCIENTIZAR e EDUCAR.
 É parar de "passar pano" pra estuprador. Parar de achar que ignorar os primeiros 4 (ou 3, ou 1) "nãos" de uma mulher é aceitável. Parar de fazer esse tipo de comentário quando ouve uma notícia de estupro, parar de questionar a veracidade da acusação, parar de criar desculpas, para de aceitar que amigos seus tenham comportamentos desrespeitosos.

Outro ponto: o mito do estuprador-monstro-doente-mental.

Cara, acreditem, não temos tanto psicopatas assim não.
São 527 mil estupros por ano no Brasil - praticamente um estupro por minuto.
88,5% das vítimas são mulheres e 98,2% dos agressores são homens.
70% são conhecidos da vítima.

Eu seeeei, eu sei: aquele tio estranho, aquele amigo de infância, aquele cara popular da escola que ficou com várias amigas suas, aquele amigo de faculdade, como imaginar que algum deles poderia ser um estuprador ou um abusador?
Ele é tão gente fina! Tão bem-educado! Jamais faria isso!

Então... tá na hora de parar de por a mão no fogo por qualquer um.
Não estou dizendo que devemos ver TODOS os homens a nossa volta com desconfiança, ou que TODOS os homens são estupradores em potencial.
Só estou dizendo que a chance deles serem é maior que a chance de uma acusação de estupro ser falsa.
Então vamos pensar bem antes de sair defendendo um lado ou outro - na dúvida, é melhor fica quieto.
Só pra citar UM caso de todos os que EU mesma já passei (e olha que eu sempre tive carro e nunca tive que me expor tanto no espaço público - tenho certeza que mulheres que andam na rua/usam transporte público todos os dias tem muitos mais histórias que eu):
Há pouco mais de um mês, estava eu caminhando do metrô até a casa do meus pais (sim, em Alto de Pinheiros!), num dia de sol (sim, era dia!), depois de um rolê no centro (é, eu nem tava arrumada: estava de shorts larguinho, tênis e camisa xadrez).
Estou mexendo no celular, quando passa por mim um garoto e aperta minha bunda.
É, assim, no meio da rua, sem nada que pudesse tê-lo empurrado ou qualquer 'desculpinha' de busão lotado.
E não foi uma passada qualquer, foi forte, extremamente invasiva.
Eu saí correndo atrás dele xingando, fazendo um barraco e estapeando ele.
(Obs: até hoje me arrependo de não ter seguido ele até o metrô para chamar o segurança e levá-lo pra delegacia. E até hoje quando me lembro, sinto asco, nojo, me sinto invadida.)

Esse cara devia ter a minha idade (uns 26 a 28 anos), branco, e vestia camisa e calça social.
Ele poderia ser amigo ou conhecido de qualquer um de vocês.
Enquanto eu o perseguia, ele me chamava de louca, dizia que não tinha feito nada.

E aí está mais uma falha moral: nos recusamos a acreditar que o agressor desses 527 mil estupros pode estar ao nosso lado.

Se fosse de fato um amigo de vocês, eu o tivesse levado pra delegacia e ele estivesse passando por uma acusação de assédio sexual (porque sim, aquilo foi assédio sexual), vocês provavelmente achariam que quem acusa é sim uma louca, e que ele "jamais faria aquilo".
E vocês achariam que "aquilo" não foi assédio.

Então só pra finalizar essa reflexão...

Meninas: Não vamos mais aceitar que nosso corpo é público, que é normal levar uma passada de mão no metrô ou na balada. Não é! Vamos parar de acreditar que a culpa de algum assédio foi nossa, pq estávamos em tal lugar, com tal roupa, pq "demos bola". Vamos parar de descreditar e culpabilizar outras mulheres quando elas dizem que sofreram assédio. Esse discurso só prejudica a nós mesmas. 

Meninos: Chega de passar pano pra amigo abusador. Chega de achar que pq ela deu bola/pq foi pra sua casa/pq vcs já transaram antes, vc tem "direito" a alguma coisa. Chega de achar que "não" é um sim tímido. Segura sua língua na hora de comentar alguma história de assédio ou estupro: não é possível que a primeira coisa que vc tenha a dizer seja "será que é verdade?" ou "ela tava querendo". 

Dizem que só podemos solucionar um problema quando admitimos que ele existe.
Precisamos admitir que o assédio e o estupro existem. Admitir que o único culpado por ele é o agressor, e nunca a vítima. Admitir que o agressor pode estar "entre nós. E admitir que nós, enquanto sociedade, temos uma responsabilidade para com este problema.

Vamos melhorar gente.... Amanhã pode ser você, ou sua irmã, sua namorada, sua mãe.
E mesmo que não seja nenhuma delas: todas as mulheres - em todas as festas e com todos os trajes - são seres humanos.
Respeitar não deveria ser tão difícil.

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