Dos últimos 10 livros que você leu, quantos foram escritos por mulheres?
E autores não americanos ou brasileiros?
Dos últimos 10 filmes, quantos foram dirigidos por homens brancos hétero dos EUA ou da Europa?
Entre as 10 pessoas que você mais admira... quanta diversidade há nessa lista?
Um vez, num desses workshops de empreendedorismo, no qual 70% dos participantes (o workshop foi oferecido gratuitamente para alguns alunos do ITA) e 100% (sim, 100%) dos palestrantes eram homens, o apresentador estava falando sobre aquela pergunta básica para qualquer negócio: "qual problema seu empreendimento está solucionando?"
Ele prosseguiu dando exemplos (sempre masculinos, em diversas áreas), e quando chegou no exemplo de um "problema feminino", ele falou de moda (!), e disse que o problema seria que ela quer "ser a mais bonita e causar inveja em todas as amigas" (!!!).
Óbvio que eu causei e fiz ele pedir desculpas hahaha mas não é esse o ponto.
A questão era: olha a imagem que ele tem de mulheres, o único exemplo que ele conseguiu pensar ali na hora.
Meu ponto é: por vivermos em sociedade, construímos nossa impressão das coisas (e de nós mesmos) baseado em experiências, livros, filmes, coisas que os outros nos dizem (pais, amigos, a TV, as revistas).
Quando essa sociedade só nos leva a ler livros de autores homens, ver filmes de diretores homens, admirar feitos e pessoas sempre masculinas, quando a mídia só dá ênfase ao que homens dizem (mesmo que existam mulheres dizendo a mesma coisa); o resultado disso só poderia ser um: veremos a classe "mulher" através de uma ótica masculina. *
Então fica aqui uma questão: a imagem que temos de amizades femininas, dos relacionamentos, do prazer feminino, das mulheres em geral não foi muito construída em cima de uma narrativa masculina?
E assim sendo, será que essa imagem é fiel?
Recomendo muito esse vídeo (link abaixo) da Chimamanda Ngozi Adichie, no qual ela estende essa reflexão para todas as classes.
Vamos buscar diversificar nossas referências - é fato que teremos uma visão muito mais realista, mais rica, mais empática do mundo e das pessoas.
Isso é sim um esforço extra, pois a mídia e a sociedade nos mostram muito mais protagonistas homens (reparem), mas vale a pena.
Não é uma questão de "impor cotas" no seu gosto pessoal, e sim problematizar PORQUE o seu suposto "gosto pessoal" só traz homens/brancos/héteros.
https://www.youtube.com/watch?v=wQk17RPuhW8
*E antes que alguém venha dizer que as produções culturais e intelectuais de mulheres só não aparecem mais porque não são tão boas -bitch, please- vale refletir sobre quem está nos cargos de poder de produtoras, editoras e empresas de conteúdo em geral - ou seja, quem está selecionando qual conteúdo chega ao público.
Se você também acha que históricamente só houveram homens ali porque as mulheres não se esforçaram o suficiente ou não estavam interessadas, dê um google no ano em que as mulheres tiveram direito ao voto ou direito a trabalhar sem a autorização de seus maridos - e lembre-se que mudanças culturais demoram mais tempo para se estabelecer do que uma lei passada.
E se mesmo assim não entendeu, vou deixar alguns links aqui embaixo de experimentos sociais que mostram como o preconceito age as vezes sem nem percebermos.
http://www.suplementopernambuco.com.br/artigos/1463-o-mercado-editorial-e-as-escritoras.html
http://www.huffingtonpost.com/2014/09/02/jose-joe-job-discrimination_n_5753880.html
http://whatwouldkingleonidasdo.tumblr.com/post/54989171152/how-i-discovered-gender-discrimination
http://blogs.scientificamerican.com/unofficial-prognosis/study-shows-gender-bias-in-science-is-real-heres-why-it-matters/
http://gender.stanford.edu/news/2014/why-does-john-get-stem-job-rather-jennifer
http://advance.cornell.edu/documents/ImpactofGender.pdf
http://www.forbes.com/sites/ruchikatulshyan/2014/06/13/have-a-foreign-sounding-name-change-it-to-get-a-job/
http://www.povertyactionlab.org/publication/are-emily-and-greg-more-employable-lakisha-and-jamal-field-experiment-labor-market-discr
reflexões de uma moça privilegiada que saiu da matrix e quer ser uma pessoa melhor - questionando e desconstruindo os preceitos e preconceitos que fomos programados pela sociedade para reproduzir.
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
domingo, 27 de setembro de 2015
Minha parceira? Só reclama!
Os relacionamentos na nossa sociedade não são construídos somente de amor.
Idealmente o amor está lá sim, e é bem importante, mas quando se estabelece um relacionamento, estabelecemos uma série de compromissos.
Alguns destes compromissos são mais individuais - um dos indivíduos sente necessidade de tal atitude vinda de seu parceiro, alguns são consensos entre o casal - algo que os dois julgam precisar para que o relacionamento funcione, alguns são compromissos já dados pela sociedade como padrão.
Recentemente começou a me incomodar algo que sempre esteve presente em grupos: um certo consenso de que as mulheres são chatas em seus relacionamentos. São chatas com seus parceiros. A piadinha mais comum é de como um namoro/casamento é algo terrível para os homens, algo chato, um problema, algo que eles estão sendo obrigados.
Nessas horas a gente percebe como a sociedade é poderosa e eficiente em colocar alguns padrões em nossa cabeça e nos fazer aceita-los como normais. Com muita frequencia, nós mulheres estamos num grupo, ouvindo nossos parceiros falarem sobre como somos chatas e como seus amigos solteiros devem fugir de um relacionamento, e isso nos parece tão normal - "homem é assim mesmo" - que não nos ofende.
Mas se pensamos por um segundo: COMO isso não nos ofende?
Eles estão dizendo na nossa frente que estar conosco é um estorvo, um grande esforço. Que nós somos chatas e eles são grandes homens que se dispuseram a estar conosco, APESAR de tudo. Apesar de como aquele relacionamento os "controla", tira suas liberdades. Estão dizendo na nossa cara - e tentando fazer soar menos pior pois é "só uma piada" - que o relacionamento e a parceria que vocês estabeleceram é algo que ele não recomenda aos amigos.
Aqui vai então uma breve reflexão baseada em qualquer conversa de bar.
Um compromisso do casal é para uma divisão igual das tarefas do lar - especificamente, na hora do jantar, foi combinado que se um cozinha, o outro lava.
O que acontece: 2 vezes por semana eles comem fora, ela cozinha 4 vezes por semana, e ele cozinha 1 vez por semana. Quando ela cozinha, é uma refeição completa (arroz, um purê de batatas, um frango grelhado, uma saladinha). Quando ele cozinha, é o arroz e um congelado que foi apenas colocado no microondas.Quando ela cozinha, que é a imensa maioria das vezes, existe um prazo para cumprir essa tarefa: afinal se você "deixa pra amanhã", você deixa de jantar. E quando ele vai lavar a louça, ele posterga, deixa a louça acumular, deixando a pia cheia. Ela se incomoda e pede para ele lavar, como é o combinado. Um adendo aqui: se é o combinado, ela não deveria ter que pedir, pra começo de conversa, não?
Ele posterga mais um pouco. Ela pede de novo. Ele posterga mais um pouco. Ela se cansa, lava, e briga com ele.
Ela é chata.
Um compromisso do casal é a fidelidade.
O que acontece: ele a trai e ela fica sabendo. Ela perdoa, mas se torna mais ciumenta, mais desconfiada. Ele não tem nenhuma atitude que busque reconquistar a confiança dela, e continua fazendo brincadeiras sobre outras mulheres, mantendo conversas com ex-namoradas no whatsapp, adicionando meninas no facebook no dia seguinte de uma balada que ele foi sozinho. Ela pede que ele sempre conte para ela onde vai, e ligue quando chegar em casa se sair sem ela.
Ele não liga. Ela briga com ele.
Ela é chata.
Um compromisso do casal é que a noite os cuidados do filho sejam divididos entre os dois. Durante o dia ela cuida com a criança, e ele trabalha, mas se estabelece que ele evitará ao máximo ficar até muito tarde no trabalho, para dividir o cuidado na parte da noite.
O que acontece: com alguma frequência, ele faz hora extra. Ela reclama que enquanto ele fez hora extra ela deixou de fazer algo por ela que poderia fazer se ele estivesse lá para fazer sua parte. Ele diz que as vezes fica mais no trabalho justamente pq sabe que ela vai reclamar. Ele faz mais horas extras. Ela reclama.
Ela é chata.
Um compromisso do casal é que ele não beba além da conta (por além da conta, entenda-se vomitar, passar mal, dormir na sarjeta, dar vexame, fazer ela carregá-lo ou prejudicá-la de alguma forma) com muita frequência. Ele bebe além da conta. Ela reclama, ele diz que vai melhorar. Ele bebe além da conta de novo. Ela reclama, ele pede desculpas. Ele bebe além da conta de novo. Ela briga, diz que não aguenta mais, fica brava por dias.
Ela é chata.
Notamos um padrão:
Ela sempre está "sendo chata" quando se irrita porque se rompeu algum compromisso do casal.
Outra reclamação constante entre os homens, outra razão pela qual suas parceiras são "chatas", é que quando mulheres brigam, nunca é por aquele caso e fim de história. Ela lembra de todos os outros casos que aconteceram antes tal qual aquele.
Eles acham isso ruim, parece que isso torna a briga pior do que teria que ser porque vem carregada de um certo "rancor".
Eles ignoram que em todas essas vezes anteriores que não resultaram em grandes brigas, ela estava relevando, ela estava respirando fundo e "dando um desconto", ela estava evitando uma "briga boba".
Ignoram que todas as vezes em que elas "relevaram", elas estavam segurando aquele relacionamento sozinhas, elas estavam fazendo a parte delas E A DELES.
E que portanto, a briga "feia" e cheia de antecedentes só acontece porque o problema é reicidente. Porque o compromisso foi quebrado diversas vezes.
Fica claro até aqui que essa chatisse que é pintada não aconteceria se o parceiro fosse fiel ao combinado?
Será que é justo chamar sua namorada de chata?
Será que é respeitoso com a mulher que você ESCOLHEU ter um relacionamento, fazer essa quantidade de piadinhas de "namorada chata", "casamento é uma cilada", "amigos solteiros, fujam!"???
Será que o fato de ser uma "piada" realmente é uma desculpa para esse desrespeito?
Será que uma piada repetida à exaustão não é sintoma de um problema maior?
Será que muitas das coisas que uma mulher cobra de um homem num relacionamento não são apenas o cumprimento de um compromisso firmado pelos dois?
Não são apenas essa mulher tentando amar seu homem como um namorado/marido, e não como uma mãe? Não seria apenas uma mulher tentando amar um adulto?
E se algumas atitudes tidas como infantis são muito importantes para você, você está comunicando isso claramente para sua parceira? Essas atitudes a prejudicam diretamente? Você, como parceiro, não deveria levar em conta o bem estar de sua parceira inerentemente, sem que ela precise te lembrar disso?
E só para finalizar, pra quem argumentar que todo o problema advém dos compromissos estabelecidos, e que seria melhor simplesmente amar sem amarras, sem "complicar" com esse excesso de compromissos.
Quem estaria se beneficiando da ausência desses compromissos?
Será que na sociedade como ela é construída hoje, toda a responsabilidade da manutenção do relacionamento não recairia sobre a mulher?
Levando em conta os compromissos mais operacionais, se não for feito nenhum compromisso, ainda assim alguém teria que cozinhar, lavar a louça, cuidar da criança, certo? Quem o faria, se nada for combinado? E quem se beneficia desse sistema? Para quem seria cômodo não firmar compromisso nenhum nesse sentido?
E levando em conta compromissos mais standard como a fidelidade: será que ele estaria confortável se ela quebrasse esse compromisso também?
Fica a reflexão: será que não estamos deixando a manutenção do relacionamento a cargo das mulheres? Será que isso é justo?
Enquanto você chama ela de chata, ela cumpre sua parte do compromisso.
Você que é "legal"?
Será que é justo chamar sua namorada de chata?
Será que é respeitoso com a mulher que você ESCOLHEU ter um relacionamento, fazer essa quantidade de piadinhas de "namorada chata", "casamento é uma cilada", "amigos solteiros, fujam!"???
Será que o fato de ser uma "piada" realmente é uma desculpa para esse desrespeito?
Será que uma piada repetida à exaustão não é sintoma de um problema maior?
Será que muitas das coisas que uma mulher cobra de um homem num relacionamento não são apenas o cumprimento de um compromisso firmado pelos dois?
Não são apenas essa mulher tentando amar seu homem como um namorado/marido, e não como uma mãe? Não seria apenas uma mulher tentando amar um adulto?
E se algumas atitudes tidas como infantis são muito importantes para você, você está comunicando isso claramente para sua parceira? Essas atitudes a prejudicam diretamente? Você, como parceiro, não deveria levar em conta o bem estar de sua parceira inerentemente, sem que ela precise te lembrar disso?
E só para finalizar, pra quem argumentar que todo o problema advém dos compromissos estabelecidos, e que seria melhor simplesmente amar sem amarras, sem "complicar" com esse excesso de compromissos.
Quem estaria se beneficiando da ausência desses compromissos?
Será que na sociedade como ela é construída hoje, toda a responsabilidade da manutenção do relacionamento não recairia sobre a mulher?
Levando em conta os compromissos mais operacionais, se não for feito nenhum compromisso, ainda assim alguém teria que cozinhar, lavar a louça, cuidar da criança, certo? Quem o faria, se nada for combinado? E quem se beneficia desse sistema? Para quem seria cômodo não firmar compromisso nenhum nesse sentido?
E levando em conta compromissos mais standard como a fidelidade: será que ele estaria confortável se ela quebrasse esse compromisso também?
Fica a reflexão: será que não estamos deixando a manutenção do relacionamento a cargo das mulheres? Será que isso é justo?
Enquanto você chama ela de chata, ela cumpre sua parte do compromisso.
Você que é "legal"?
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Você não precisa ser feminista
Feministas são pessoas que lutam contra o machismo.
Logo, você não precisa ser feminista.
Afinal, pode ser que você não se incomode com o machismo.
Pode ser que você nem o veja, e portanto nem acredite que ele existe.
Pode ser que você não se importe que a cada minuto uma mulher é estuprada no Brasil, ou que 88% das vítimas de estupro sejam mulheres e 98% dos estupradores sejam homens.
Pode ser que você não se importe que a violência doméstica é uma das maiores causas de mortes não-naturais de mulheres.
Pode ser que você acredite que, apesar do dados mostrarem que são sempre homens agredindo mulheres, isso não passa de uma coincidência, e não tem nada a ver com a nossa cultura ou com a forma que a sociedade enxerga as mulheres.
Pode ser que você não se ligue para as cantadas na rua, pode ser que você ache que "homens são assim mesmo", ache até legal, e pode ser que você nem ande tanto na rua assim pra sentir isso na pele.
Pode ser que você não ande em locais mais isolados e não sinta medo toda vez que um homem olha pra você daquele jeito "tarado", pode ser que o receio de que a mulher "do minuto" a ser estuprada seja você nem passe pela sua cabeça.
Pode ser que você concorde que se uma mulher é violentada, de alguma forma a culpa é dela: ou pela roupa que usou, pelo lugar que estava, pelo quanto bebeu.
Pode ser que você esteja acostumada com a ideia de que quando você for para uma festa ou local onde haja muita gente amontoada, é quase fato que vão passar a mão em você.
Pode ser que você não se importe de ganhar aproximadamente 70% do que um homem ganha na mesma função, ou não se importe que a maioria dos cargos de chefia pertencem a homens.
Pode ser que você não se importe de fazer a maioria ou todas as tarefas domésticas, apesar de você também trabalhar fora. Pode ser que você nem ligue de cumprir essa dupla-jornada. Pode ser que você esteja tão condicionada a acreditar que cuidar da casa é tarefa sua (apesar de duas pessoas morarem lá), que quando o seu parceiro lava um prato ou cozinha um jantar, você esquece que foi você que lavou todos os outros na semana e cozinhou todos os outros jantares, e ache ele incrível. Pode ser que você acredite quando ele diz que não faz porque "não sabe", ou que você acabe fazendo você mesma pq quando ele faz, faz mal feito. É curioso que um homem que tenha tantas habilidades, tão inteligente, não seja capaz de uma atividade tão simples...mas talvez você faça com amor e nem ligue pra isso.
Pode ser que você nem preste atenção mais para as publicidades, que mostram mulheres como objetos e pedaços de carne; ou como mães-cuidadoras-do-lar; ou como brancas, magras, sempre lindas, maquiadas e escovadas.
Pode ser que você nunca tenha percebido que quase todas as personagens femininas de filmes, séries e livros foram todas escritas por homens.
Pode ser que você não perceba como essa ótica masculina sob as mulheres sempre as mostra como rivais, competindo entre si por um homem, e este último é claro, sendo sempre a grande chave para a felicidade da personagem.
Pode ser que você não acredite que muito do que cada um é seja um conjunto de tudo aquilo que essa pessoa viveu, leu, assistiu, e que portanto, sua visão de si mesma e da feminilidade foi em grande parte construída pela narrativa de homens.
Pode ser que essa imagem de mulher que a sociedade nos passa (feminina, delicada, de cabelos longos, maternal, carinhosa, magra-mas-com-curvas, uma dama na rua e uma puta na cama, maquiada sem excessos, com esmalte nas unhas e depilada) esteja OK pra você, pode ser que você se encaixe nela e ache todo esse "universo feminino" incrível.
Pode ser que você concorde com os double-standards usados para falar de homens e mulheres. Pode ser que você não ligue que, com uma mesma atitude, um homem seja "apenas homem" e uma mulher seja vagabunda, um homem seja determinado e líder e uma mulher seja teimosa e mandona.
Pode ser que você não se importe com piadinhas que dizem que lugar de mulher é na cozinha, ou que mulher é tudo interesseira e fofoqueira, que é tudo víbora; ou até use expressões como "joga que nem menina" e "coisa de mulherzinha".
Pode ser tudo isso, você tem o direito de acreditar em todas essas coisas, de não ver problema em nada e de conviver tranquilamente com essas questões.
Mas entenda que nem todas as mulheres se sentem bem com essas "pequenas" desigualdades.
Quando alguma mulher se sentir incomodada, não queira impor sua visão de mundo e dizer que o sofrimento dela é besteira.
E quando você ver mulheres se unindo, dizendo que essas coisas as afetam, destróem sua auto-estima, as agridem; e lutando contra essas situações, entenda.
Entenda que porque algo não dói pra você não quer dizer que não dói para a maioria.
Se as coisas acima DEIXAREM de acontecer, vai ser ruim pra você?
Então que tal assim: se não te incomoda, não lute.
Mas não invalide a luta de outras mulheres, que podem inclusive estar construindo uma sociedade melhor para você mesma.
Logo, você não precisa ser feminista.
Afinal, pode ser que você não se incomode com o machismo.
Pode ser que você nem o veja, e portanto nem acredite que ele existe.
Pode ser que você não se importe que a cada minuto uma mulher é estuprada no Brasil, ou que 88% das vítimas de estupro sejam mulheres e 98% dos estupradores sejam homens.
Pode ser que você não se importe que a violência doméstica é uma das maiores causas de mortes não-naturais de mulheres.
Pode ser que você acredite que, apesar do dados mostrarem que são sempre homens agredindo mulheres, isso não passa de uma coincidência, e não tem nada a ver com a nossa cultura ou com a forma que a sociedade enxerga as mulheres.
Pode ser que você não se ligue para as cantadas na rua, pode ser que você ache que "homens são assim mesmo", ache até legal, e pode ser que você nem ande tanto na rua assim pra sentir isso na pele.
Pode ser que você não ande em locais mais isolados e não sinta medo toda vez que um homem olha pra você daquele jeito "tarado", pode ser que o receio de que a mulher "do minuto" a ser estuprada seja você nem passe pela sua cabeça.
Pode ser que você concorde que se uma mulher é violentada, de alguma forma a culpa é dela: ou pela roupa que usou, pelo lugar que estava, pelo quanto bebeu.
Pode ser que você esteja acostumada com a ideia de que quando você for para uma festa ou local onde haja muita gente amontoada, é quase fato que vão passar a mão em você.
Pode ser que você não se importe de ganhar aproximadamente 70% do que um homem ganha na mesma função, ou não se importe que a maioria dos cargos de chefia pertencem a homens.
Pode ser que você não se importe de fazer a maioria ou todas as tarefas domésticas, apesar de você também trabalhar fora. Pode ser que você nem ligue de cumprir essa dupla-jornada. Pode ser que você esteja tão condicionada a acreditar que cuidar da casa é tarefa sua (apesar de duas pessoas morarem lá), que quando o seu parceiro lava um prato ou cozinha um jantar, você esquece que foi você que lavou todos os outros na semana e cozinhou todos os outros jantares, e ache ele incrível. Pode ser que você acredite quando ele diz que não faz porque "não sabe", ou que você acabe fazendo você mesma pq quando ele faz, faz mal feito. É curioso que um homem que tenha tantas habilidades, tão inteligente, não seja capaz de uma atividade tão simples...mas talvez você faça com amor e nem ligue pra isso.
Pode ser que você nem preste atenção mais para as publicidades, que mostram mulheres como objetos e pedaços de carne; ou como mães-cuidadoras-do-lar; ou como brancas, magras, sempre lindas, maquiadas e escovadas.
Pode ser que você nunca tenha percebido que quase todas as personagens femininas de filmes, séries e livros foram todas escritas por homens.
Pode ser que você não perceba como essa ótica masculina sob as mulheres sempre as mostra como rivais, competindo entre si por um homem, e este último é claro, sendo sempre a grande chave para a felicidade da personagem.
Pode ser que você não acredite que muito do que cada um é seja um conjunto de tudo aquilo que essa pessoa viveu, leu, assistiu, e que portanto, sua visão de si mesma e da feminilidade foi em grande parte construída pela narrativa de homens.
Pode ser que essa imagem de mulher que a sociedade nos passa (feminina, delicada, de cabelos longos, maternal, carinhosa, magra-mas-com-curvas, uma dama na rua e uma puta na cama, maquiada sem excessos, com esmalte nas unhas e depilada) esteja OK pra você, pode ser que você se encaixe nela e ache todo esse "universo feminino" incrível.
Pode ser que você concorde com os double-standards usados para falar de homens e mulheres. Pode ser que você não ligue que, com uma mesma atitude, um homem seja "apenas homem" e uma mulher seja vagabunda, um homem seja determinado e líder e uma mulher seja teimosa e mandona.
Pode ser que você não se importe com piadinhas que dizem que lugar de mulher é na cozinha, ou que mulher é tudo interesseira e fofoqueira, que é tudo víbora; ou até use expressões como "joga que nem menina" e "coisa de mulherzinha".
Pode ser tudo isso, você tem o direito de acreditar em todas essas coisas, de não ver problema em nada e de conviver tranquilamente com essas questões.
Mas entenda que nem todas as mulheres se sentem bem com essas "pequenas" desigualdades.
Quando alguma mulher se sentir incomodada, não queira impor sua visão de mundo e dizer que o sofrimento dela é besteira.
E quando você ver mulheres se unindo, dizendo que essas coisas as afetam, destróem sua auto-estima, as agridem; e lutando contra essas situações, entenda.
Entenda que porque algo não dói pra você não quer dizer que não dói para a maioria.
Se as coisas acima DEIXAREM de acontecer, vai ser ruim pra você?
Então que tal assim: se não te incomoda, não lute.
Mas não invalide a luta de outras mulheres, que podem inclusive estar construindo uma sociedade melhor para você mesma.
"Chatos"
Se você olhar pra trás, para a história, você vai ver que todos os movimentos que lutaram e conseguiram mudanças culturais e sociais - que mudaram a vida de muita gente - foram em algum momento taxados de "chatos" pelas próprias pessoas que visavam ajudar.
Quando as feministas lutaram pelo direito da mulher ao voto, o direito de poder trabalhar fora, o direito de não ter que obedecer seu marido, entre outras coisas que hoje todas as mulheres se beneficiam; haviam muitas mulheres que achavam o movimento feminista um "bando de chatas".
Quando os negros abolicionistas lutaram contra a escravidão, haviam diversos negros que os achavam "causeiros", que a vida era assim mesmo, que eles só estavam comprando briga.
Quando o movimento LGBT lutava para poder se assumir sem perder o emprego ou sem morrer espancado (note que ainda não chegamos lá né), haviam homossexuais que achavam aquilo uma grande baderna, gente chata que queria chamar a atenção e que o jeito era se esconder mesmo, viver no armário e pronto.
Isso se repete através da história, com qualquer grupo que tenha sido históricamente privado de direitos.
Sempre aconteceu de haverem pessoas que seriam futuramente beneficiadas pelas mudanças promovidas por esses movimentos, chamarem quem participava dos movimentos de chatos - e continua acontecendo.
Você não é obrigada a ser feminista, ou a lutar contra a desigualdade, o racismo, a discriminação.
Mas você realmente quer ser a pessoa que chama quem luta de "chatos"?
Você pode não querer ir atrás das informações, se educar, entender o contexto histórico e social de porque algumas coisas são como são, e quais são as grandes e as pequenas ações que podemos fazer para mudar essa cultura.
Mas quando alguém vier até você te ensinar, ou mesmo te dar um toque sobre uma atitude simples, você vai se recusar a aprender?
Lá na frente, quando você estiver vivendo uma vida melhor porque um "bando de chatos" foi atrás de mudar uma cultura e um mind-set, você vai querer ter sido a pessoa que além de não ajudar... atrapalhou?
Quando as feministas lutaram pelo direito da mulher ao voto, o direito de poder trabalhar fora, o direito de não ter que obedecer seu marido, entre outras coisas que hoje todas as mulheres se beneficiam; haviam muitas mulheres que achavam o movimento feminista um "bando de chatas".
Quando os negros abolicionistas lutaram contra a escravidão, haviam diversos negros que os achavam "causeiros", que a vida era assim mesmo, que eles só estavam comprando briga.
Quando o movimento LGBT lutava para poder se assumir sem perder o emprego ou sem morrer espancado (note que ainda não chegamos lá né), haviam homossexuais que achavam aquilo uma grande baderna, gente chata que queria chamar a atenção e que o jeito era se esconder mesmo, viver no armário e pronto.
Isso se repete através da história, com qualquer grupo que tenha sido históricamente privado de direitos.
Sempre aconteceu de haverem pessoas que seriam futuramente beneficiadas pelas mudanças promovidas por esses movimentos, chamarem quem participava dos movimentos de chatos - e continua acontecendo.
Você não é obrigada a ser feminista, ou a lutar contra a desigualdade, o racismo, a discriminação.
Mas você realmente quer ser a pessoa que chama quem luta de "chatos"?
Você pode não querer ir atrás das informações, se educar, entender o contexto histórico e social de porque algumas coisas são como são, e quais são as grandes e as pequenas ações que podemos fazer para mudar essa cultura.
Mas quando alguém vier até você te ensinar, ou mesmo te dar um toque sobre uma atitude simples, você vai se recusar a aprender?
Lá na frente, quando você estiver vivendo uma vida melhor porque um "bando de chatos" foi atrás de mudar uma cultura e um mind-set, você vai querer ter sido a pessoa que além de não ajudar... atrapalhou?
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Ideologia de gênero - de novo
Confesso que às vezes tenho vergonha de pertencer ao grupo "cristão".
Para evitar telefone sem fio: não tenho vergonha de Cristo ou da minha fé -muito pelo contrário.
Mas tenho vergonha SIM de pertencer à um grupo que com frequência demais se comporta de maneira preconceituosa e se empenha em disseminar desinformação.
Jesus é um cara maravilhoso; mas seus seguidores, olha, tá difícil.
Enquanto se distribuem jornaizinhos na igreja incentivando os fiés a lutarem contra a "ideologia de gênero", sabe qual é a real?
O que teve mesmo foi um inciso do artigo 2 no PNE que tinha como diretriz exatamente isso aqui ó: "a superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual".
Sim, meus amigos de fé, morram de vergonha: foi por causa disso aí todo o escarcéu da Bancada da Bíblia.
Essa é a frase que traduziram pra você como sendo "o governo tentando influenciar nossas crianças a serem neutras ou homossexuais", e você acreditou sem pesquisar.
E sabe porque estava escrito isso no PNE?
Porque enquanto você mostra sua indignação contra a atriz transexual que encenou a crucificação na Parada LGBT, o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. Sim, NO MUNDO.
Enquanto você brada bravamente contra uma suposta ideologia (sem nem saber do que se trata e quem a defende), a cada 28 horas um homossexual é assassinado por homofóbicos ou comete suicídio por não aguentar o peso de uma sociedade que o define como aberração, uma família que o expulsa de casa, colegas de escola que destróem sua auto-estima diariamente.
Porque enquanto você acredita nessa lenda de ideologia de gênero maligna e destruidora de lares, tem sites dedicados à promover o estupro corretivo em lésbicas: é, isso mesmo, pessoas que, abraçando a MESMA causa que você, dizem que lésbicas devem ser estupradas para aprenderem a gostar de homem, como é "correto e natural na Lei de Deus".
Nós, cristãos, somos 86,8% da população.
O Brasil não teria esses dados escabrosos de morte e violência contra a população LGBT se nós não estivéssemos sendo coniventes com isso.
Nós estamos.
E não só não estamos fazendo nada para mudar esses dados, como estamos sendo contra uma ação que busca acabar com o preconceito já na infância.
Que mal, me expliquem, há em ensinar nossas crianças a NÃO DISCRIMINAR??
A não tratar o colega como aberração??
Nós, cristãos, não só somos coniventes com essas mortes: somos cúmplices.
Vamos parar de envergonhar o nome de Cristo, por favor.
Para evitar telefone sem fio: não tenho vergonha de Cristo ou da minha fé -muito pelo contrário.
Mas tenho vergonha SIM de pertencer à um grupo que com frequência demais se comporta de maneira preconceituosa e se empenha em disseminar desinformação.
Jesus é um cara maravilhoso; mas seus seguidores, olha, tá difícil.
Enquanto se distribuem jornaizinhos na igreja incentivando os fiés a lutarem contra a "ideologia de gênero", sabe qual é a real?
O que teve mesmo foi um inciso do artigo 2 no PNE que tinha como diretriz exatamente isso aqui ó: "a superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual".
Sim, meus amigos de fé, morram de vergonha: foi por causa disso aí todo o escarcéu da Bancada da Bíblia.
Essa é a frase que traduziram pra você como sendo "o governo tentando influenciar nossas crianças a serem neutras ou homossexuais", e você acreditou sem pesquisar.
E sabe porque estava escrito isso no PNE?
Porque enquanto você mostra sua indignação contra a atriz transexual que encenou a crucificação na Parada LGBT, o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. Sim, NO MUNDO.
Enquanto você brada bravamente contra uma suposta ideologia (sem nem saber do que se trata e quem a defende), a cada 28 horas um homossexual é assassinado por homofóbicos ou comete suicídio por não aguentar o peso de uma sociedade que o define como aberração, uma família que o expulsa de casa, colegas de escola que destróem sua auto-estima diariamente.
Porque enquanto você acredita nessa lenda de ideologia de gênero maligna e destruidora de lares, tem sites dedicados à promover o estupro corretivo em lésbicas: é, isso mesmo, pessoas que, abraçando a MESMA causa que você, dizem que lésbicas devem ser estupradas para aprenderem a gostar de homem, como é "correto e natural na Lei de Deus".
Nós, cristãos, somos 86,8% da população.
O Brasil não teria esses dados escabrosos de morte e violência contra a população LGBT se nós não estivéssemos sendo coniventes com isso.
Nós estamos.
E não só não estamos fazendo nada para mudar esses dados, como estamos sendo contra uma ação que busca acabar com o preconceito já na infância.
Que mal, me expliquem, há em ensinar nossas crianças a NÃO DISCRIMINAR??
A não tratar o colega como aberração??
Nós, cristãos, não só somos coniventes com essas mortes: somos cúmplices.
Vamos parar de envergonhar o nome de Cristo, por favor.
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Breve mind-fuck para cristãos racionais: ABORTO
Introdução
Esta é uma breve reflexão feita acerca do assunto da legalização do aborto.
Não vou fazer nenhum discurso tradicional pró-escolha, dando todo o embasamento científico, todas as evidências positivas de países que legalizaram, ou até comparando que tipos de países tem aborto legal com os que não tem: acredito que com esses argumentos já existem muitos artigos muito melhores que o meu viria a ser.
Aqui a discussão é direcionada para cristãos, que, por dogma, são contra o aborto.
Mas não é pra cristãos "vingativos" ou "punitivos" (que eu pessoalmente acho uma contradição em termos, mas enfim) que defendem pena de morte e coisas assim.
É para cristãos que realmente seguem a parte que prega amor ao próximo e "não atirar a primeira pedra". Cristãos que acreditam que TODA vida tem valor, e que nós não temos autoridade para definir quem vive e quem morre.
E apenas um adendo antes de começar: a discussão não é se devemos ser contra ou a favor do aborto EM SI - ninguém é a favor do aborto. A discussão é a respeito da legalização/criminalização do aborto e suas consequências.
***
No Brasil - onde o aborto é crime-, estima-se que ocorram cerca de 1 milhão de abortos clandestinos por ano. A ONU estima também que morram 200 mil mulheres por ano, em decorrência de complicações em abortos clandestinos..
Ou seja, podemos presumir que mesmo na ilegalidade, as mulheres VÃO abortar - pois é isto que acontece, essa é a realidade dos fatos, como vimos acima - e que muitas destas mulheres que abortam, morrem.
São 200 mil mulheres que perdem a vida, e portanto mais 200 mil embriões/fetos.
Portanto, quando digo que sou a favor da legalização do aborto, estou dizendo que acho que essas mulheres - que já iam abortar de qualquer jeito - deveriam ter direito a um aborto seguro, para não morrerem.
Assim perderíamos apenas os embriões (lembrando que antes das 12 semanas o que há lá não é nem considerado feto, e sim um embrião) - e não mais 200 mil mulheres além deles.
Não vou entrar no mérito de se você considera que um embrião é uma vida ou não - o que por si só já causa polêmica, já que existem divergências entre a interpretação científica/médica e a religiosa. E assuntos como legalização/criminalização são assuntos de estado, e o estado é laico.
Vou partir do pressuposto que você, como cristão, acredita que sim, um embrião é uma vida.
Ou seja, com o aborto ilegal, perdemos 1 milhão e 200 mil vidas por ano: 1 milhão de embriões, mais as 200 mil mulheres.
Com aborto legal, perderíamos 1 milhão de vidas - as dos embriões - mas estaríamos "salvando" 200 mil vidas.
Quando usamos este raciocínio, o que muitas pessoas vão pensar é que essas mulheres que estamos "salvando" não merecem ser salvas, pois morrer abortando foi uma escolha delas, elas cometeram um crime contra a vida e sabiam do risco. Logo, elas mereceram morrer.
Logo, como cristãos racionais, quando a gente diz que achamos que o aborto deve seguir ilegal, e que essas mulheres devem continuar morrendo (com seus embriões), estamos basicamente dizendo que essas mulheres merecem pena de morte.
Porque a morte do embrião vai acontecer de qualquer jeito - não estamos evitando isso. Só estamos dizendo que já que este embrião vai morrer, essa mulher tem que morrer junto.
Estamos julgando e condenando estas mulheres à morte.
E isso, ao meu ver, é a coisa menos cristã a ser feita.
***
Algumas fontes:
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/aborto-no-brasil-mortes-em-silencio
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,onu-critica-legislacao-brasileira-e-cobra-pais-por-mortes-em-abortos-de-risco,837316
Esta é uma breve reflexão feita acerca do assunto da legalização do aborto.
Não vou fazer nenhum discurso tradicional pró-escolha, dando todo o embasamento científico, todas as evidências positivas de países que legalizaram, ou até comparando que tipos de países tem aborto legal com os que não tem: acredito que com esses argumentos já existem muitos artigos muito melhores que o meu viria a ser.
Aqui a discussão é direcionada para cristãos, que, por dogma, são contra o aborto.
Mas não é pra cristãos "vingativos" ou "punitivos" (que eu pessoalmente acho uma contradição em termos, mas enfim) que defendem pena de morte e coisas assim.
É para cristãos que realmente seguem a parte que prega amor ao próximo e "não atirar a primeira pedra". Cristãos que acreditam que TODA vida tem valor, e que nós não temos autoridade para definir quem vive e quem morre.
E apenas um adendo antes de começar: a discussão não é se devemos ser contra ou a favor do aborto EM SI - ninguém é a favor do aborto. A discussão é a respeito da legalização/criminalização do aborto e suas consequências.
***
No Brasil - onde o aborto é crime-, estima-se que ocorram cerca de 1 milhão de abortos clandestinos por ano. A ONU estima também que morram 200 mil mulheres por ano, em decorrência de complicações em abortos clandestinos..
Ou seja, podemos presumir que mesmo na ilegalidade, as mulheres VÃO abortar - pois é isto que acontece, essa é a realidade dos fatos, como vimos acima - e que muitas destas mulheres que abortam, morrem.
São 200 mil mulheres que perdem a vida, e portanto mais 200 mil embriões/fetos.
Portanto, quando digo que sou a favor da legalização do aborto, estou dizendo que acho que essas mulheres - que já iam abortar de qualquer jeito - deveriam ter direito a um aborto seguro, para não morrerem.
Assim perderíamos apenas os embriões (lembrando que antes das 12 semanas o que há lá não é nem considerado feto, e sim um embrião) - e não mais 200 mil mulheres além deles.
Não vou entrar no mérito de se você considera que um embrião é uma vida ou não - o que por si só já causa polêmica, já que existem divergências entre a interpretação científica/médica e a religiosa. E assuntos como legalização/criminalização são assuntos de estado, e o estado é laico.
Vou partir do pressuposto que você, como cristão, acredita que sim, um embrião é uma vida.
Ou seja, com o aborto ilegal, perdemos 1 milhão e 200 mil vidas por ano: 1 milhão de embriões, mais as 200 mil mulheres.
Com aborto legal, perderíamos 1 milhão de vidas - as dos embriões - mas estaríamos "salvando" 200 mil vidas.
Quando usamos este raciocínio, o que muitas pessoas vão pensar é que essas mulheres que estamos "salvando" não merecem ser salvas, pois morrer abortando foi uma escolha delas, elas cometeram um crime contra a vida e sabiam do risco. Logo, elas mereceram morrer.
Logo, como cristãos racionais, quando a gente diz que achamos que o aborto deve seguir ilegal, e que essas mulheres devem continuar morrendo (com seus embriões), estamos basicamente dizendo que essas mulheres merecem pena de morte.
Porque a morte do embrião vai acontecer de qualquer jeito - não estamos evitando isso. Só estamos dizendo que já que este embrião vai morrer, essa mulher tem que morrer junto.
Estamos julgando e condenando estas mulheres à morte.
E isso, ao meu ver, é a coisa menos cristã a ser feita.
***
Algumas fontes:
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/aborto-no-brasil-mortes-em-silencio
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,onu-critica-legislacao-brasileira-e-cobra-pais-por-mortes-em-abortos-de-risco,837316
sexta-feira, 31 de julho de 2015
A história de vida de A.
Ao ficar presa no trânsito com uma pessoa com quem trabalho, ela resolveu me contar sua história.
E ao mesmo tempo que não quero expô-la sem autorização, eu simplesmente precisava por pra fora: uma história tão real e tão trágica....
Então vamos lá: estes são os fragmentos da história de A. uma mulher pobre e negra.
****
Ela veio de uma família muito pobre de uma pequena cidade de Minas Gerais. MUITO pobre. Eles não tinham o que comer, literalmente.
Ela não mostrou constragimento ao me contar que se casou em busca de uma vida melhor - nada a ver com amor ou romance - ela só queria estar com alguém que a desse o que comer.
Aos 19, se casou com um homem de 51, e teve uma filha.
Este homem era muito agressivo, e batia nela com frequência. Até que um dia, tentou lhe matar.
Nesta hora ela me mostrou cicatrizes nos braços e nas mãos, onde ela levou 6 facadas, ao proteger seu rosto e colo.
Ela conseguiu pegar sua filha e fugir.
Com a ajuda de sua mãe, se mudou para São Paulo com uma filha bebê.
Sem ter como se manter, encontrou outro homem que prometeu cuidar dela, e com ele teve mais um filho.
Porém, este se mostrou tão agressivo quando o anterior, e quando ela disse que queria se separar, ele disse que o filho ficaria com ele.
Ela disse que brigaria pela guarda da criança na justiça - ao que ele deu a seguinte resposta: "você pode até conseguir a guarda na justiça, mas não vai conseguir a criança. Porque com seu primeiro marido, a polícia chegou a tempo de te levar para o hospital, comigo eles só vão encontrar seu corpo."
E com esta ameaça ela foi obrigada a desistir da guarda do filho.
Lá estava ela, mais uma vez vivendo em porões de fábrica com sua filha, trabalhando por qualquer trocado para se manter viva, e para manter sua filha - que a essa altura, já tinha 9 anos.
Pela terceira vez, ela se casou com um homem em troca da garantia de ter um prato de comida para ela e sua filha.
Este terceiro marido era branco e judeu - e a relação dos dois era praticamente de escravidão.
Ele a humilhava com frequência, a chamava de macaca, dizia que sua família tinha nojo dela porque ela era negra.
A. era obrigada a "servir" seu marido de todas as formas, até as mais degradantes: quando ele ia ao banheiro cagar (!), ao terminar a chamava "A. tem serviço aqui para você!"
E ela ia até ele - que estava agachado no bidê - e limpava sua bunda.
Ele fazia questão que ela limpasse com as próprias mãos, não queria que ela usasse papel, toalha ou pano.
Ao viajar com a família dele - que falava outra língua-, todos a insultavam com frequência, e todos estavam sempre rindo dela. Quando ela ria junto, mesmo sem entender o que estava sendo dito, seu marido a reprimia e dizia "você está rindo porque?", e em seguida lhe contava as atrocidades que falavam dela.
"Não precisamos ir ao zoólogico, já estamos andando todo o tempo com uma macaca"
"Como você consegue ficar com essa macaca imunda?"
A agressão física de seus dois primeiros maridos havia sido substituída pela agressão psicológica, pela humilhação.
Quando perguntei porque ela tolerava aquilo, ela dizia: sem ele eu não consigo me manter. É melhor aguentar.
E ficaram juntos por 22 anos, até que ela, já mais experiente em seu ofício, e após seu marido jogar o filho de A. para fora de casa o chamando de macaco, ela disse que não aguentaria mais aquela humilhação em troca de um prato de comida. Que ele podia ir embora.
Ele foi. Voltou 3 meses depois, doente, disse que a amava e pediu que ela lhe cuidasse no fim da vida. Ela o aceitou, e cuidou dele até ele morrer, alguns meses depois.
Perguntei se ela ficou triste quando ele morreu: "ah, até com o sofrimento a gente acostuma né, e quando ele morreu eu chorei muito".
Apesar dos 22 anos de relação estável, ela conseguiu ficar apenas com o apartamente em que morava, já que a família dele a odiava por ser "preta" e tratou de travar o processo. Ela até hoje nunca viu um centavo.
Mas ela conta que foi após a morte dele que ela finalmente conheceu a felicidade. Com 50 anos, finalmente era uma mulher livre, que conseguia se manter sozinha. Disse que foi muito feliz, saiu muito com as amigas, fazia bate-e-voltas para a praia, visitava os netos em Guarulhos.
Hoje ela se converteu para uma igreja evangélica, e diz que está mais caseira: prefere ficar em casa, trabalhando e cuidando de seus gatinhos. E diz que hoje, graças à Deus, é feliz.
****
Quando a deixei em casa, estava extremamente abalada de ouvir essa história de uma mulher tão doce.
Tive vontade de chorar, por ela e por todas as mulheres, todos os pobres, todos os negros.
Chorar pelo mundo em que vivemos, em que as pessoas podem ser tão cruéis, em que a pobreza é tanto que uma pessoa troca sua dignidade por um prato de comida.
Depois tive raiva: tive raiva de todas as pessoas que insistem que as "oportunidade são iguais para todos".
Meu Deus, só é óbvio pra mim o quão diferente seria essa história se ela fosse homem? Se ela tivesse condições de se sustentar? Se ela não fosse negra?
Pra mim essa mulher merecia todas as cotas e "benefícios" do mundo: bolsa família, cota habitacional, cota pra poder estudar, uma polícia que a proteja da violência específica que ela sofreu, um sistema judiciário que a proteja das humilhações e do racismo que ela passou.... TODOS os auxílios que eu consigo pensar (que as pessoas tem coragem de ser contra), mesmo com todos eles, essa mulher não estaria em pé de igualdade com uma mulher como eu, que dirá com um homem.
Mesmo assim a meritocracia não viria: ela estaria para sempre em desvantagem, por ter nascido no contexto em que nasceu, com um sexo subjugado e inferiorizado, que merece ser espancado e agredido, com uma cor que a fez ouvir humilhações sua vida inteira.
Quantos privilégios a gente não usufrui em comparação à uma pessoa dessas?
Eu não quero saber quantos brancos vão perder suas vagas para negros por cotas, eu não quero saber quantos beneficiários do bolsa família estão dando golpe, não quero saber dos infames casos em que lei Maria da Penha é usada em falsidade, eu não quero saber quantos funcionários "despreparados e mal-agradecidos" você já teve e o quanto você acha que é por isso que pobre é pobre: se a vida de A. pudesse ter sido um pouquinho menos sofrida, o mundo já estaria um pouco mais justo.
Uma análise dos relacionamentos, levando em conta as diferentes socializações entre sexos
Vou até fazer uma introdução pq esse texto é muito incrível e foda, mas quem não conhecer os conceitos de socialização e não acreditar que vivemos numa sociedade machista, ou não vai entender nada ou vai dar piti antes mesmo de refletir.
Esse texto pretende analisar os relacionamentos levando em conta as diferenças entre homem e mulher - algo que muitos textos por aí já fizeram.
Mas este o faz de uma forma diferente, pois entende que a maioria, senão todas as diferenças entre a forma que homem e mulher se relacionam é fruto da socialização diferente que receberam ao terem seus sexos designados no nascimento - ou seja, fomos criados, educados e moldados pela sociedade de forma a agir de certas formas, "de acordo" com nosso sexo.
Se entendemos que muitos comportamentos nossos foram moldados pelo forma que fomos socializados, entendemos 1o) que a maioria não está fazendo essas coisas de propósito, e 2o) que existem exceções - com a mesma socialização, cada indivíduo absorverá cada parte de uma forma e em propoções particulares.
E por fim: para entender o texto, é preciso ter claro para si que vivemos em uma sociedade machista e patriarcal. Uma sociedade que historicamente colocou a mulher num papel inferior ao do homem - e também é preciso entender que ainda que as últimas décadas tenham trazido muita melhora nesse sentido, a mudança mais lenta de todas é a de mind-set.
Então se vc acha que a sociedade não privilegia nenhum gênero, nem se dê o trabalho de ler.
"A assimetria que eu enxergo nos relacionamentos heterossexuais é perversa: os homens são socializados pra independência, pra manipulação e para buscar seu próprio prazer; e as mulheres, pra dependência, pra carência e pro perdão, assim os dois lados se completam em prol da manutenção do domínio masculino.
Essa assimetria é cruel porque faz com que as mulheres se deem muito fácil, faz com que perdoem sempre tudo e que sempre carreguem sozinhas o fardo da manutenção do relacionamento.
Ao mesmo tempo faz com que os homens ocupem a posição de conformidade, de “errei de novo, mas me desculpa, sou homem, estou tentando”, o homem SE SENTIRÁ SUFICIENTE, sentirá que já está fazendo muito por apenas tentar e nos manipulará todo o tempo para acreditar que nós é que somos muito difíceis e exigentes.
(...)
Eis aí parte da desgraça da feminilidade. A nossa desgraça É BONITA, a gente aprende a confiar e a perdoar muito facilmente e isso é bonito, tudo isso é, na verdade, super bonito. Tudo isso que a gente sente, toda essa nossa capacidade de amar, de se dar é de uma confiança absurda.
Nós compartilhamos com os homens a beleza da nossa desgraça e acreditamos que eles podem entendê-la, acolhê-la, que podem nos amar. Acreditamos, sempre, e de novo, e outra vez, que tudo pode ser diferente, e há uma beleza nessa inocência, uma beleza cruel.
(...)
No fim os homens sempre vão agir se priorizando - foi o que eles aprenderam a fazer; e a gente sempre vai agir se secundarizando - é o que a gente aprendeu a fazer.
(...)
Dentro de um relacionamento, (eu, mulher) devo ser mais egoísta, devo reverter grande parte do meu cuidado com o outro em auto cuidado. Devo ser “complicada” “difícil” e “exigente”, porque tudo isso é por mim.
Um homem que queira nos amar deverá entender tudo isso, deverá entender que a assimetria socialmente imposta pede como resposta que tentemos construir, em esfera micropolítica, um relacionamento contrariamente assimétrico."
texto completo e original em: https://negrasolidao.wordpress.com/2015/07/02/os-homens-que-nao-amavam-as-mulheres/
Esse texto pretende analisar os relacionamentos levando em conta as diferenças entre homem e mulher - algo que muitos textos por aí já fizeram.
Mas este o faz de uma forma diferente, pois entende que a maioria, senão todas as diferenças entre a forma que homem e mulher se relacionam é fruto da socialização diferente que receberam ao terem seus sexos designados no nascimento - ou seja, fomos criados, educados e moldados pela sociedade de forma a agir de certas formas, "de acordo" com nosso sexo.
Se entendemos que muitos comportamentos nossos foram moldados pelo forma que fomos socializados, entendemos 1o) que a maioria não está fazendo essas coisas de propósito, e 2o) que existem exceções - com a mesma socialização, cada indivíduo absorverá cada parte de uma forma e em propoções particulares.
E por fim: para entender o texto, é preciso ter claro para si que vivemos em uma sociedade machista e patriarcal. Uma sociedade que historicamente colocou a mulher num papel inferior ao do homem - e também é preciso entender que ainda que as últimas décadas tenham trazido muita melhora nesse sentido, a mudança mais lenta de todas é a de mind-set.
Então se vc acha que a sociedade não privilegia nenhum gênero, nem se dê o trabalho de ler.
"A assimetria que eu enxergo nos relacionamentos heterossexuais é perversa: os homens são socializados pra independência, pra manipulação e para buscar seu próprio prazer; e as mulheres, pra dependência, pra carência e pro perdão, assim os dois lados se completam em prol da manutenção do domínio masculino.
Essa assimetria é cruel porque faz com que as mulheres se deem muito fácil, faz com que perdoem sempre tudo e que sempre carreguem sozinhas o fardo da manutenção do relacionamento.
Ao mesmo tempo faz com que os homens ocupem a posição de conformidade, de “errei de novo, mas me desculpa, sou homem, estou tentando”, o homem SE SENTIRÁ SUFICIENTE, sentirá que já está fazendo muito por apenas tentar e nos manipulará todo o tempo para acreditar que nós é que somos muito difíceis e exigentes.
(...)
Eis aí parte da desgraça da feminilidade. A nossa desgraça É BONITA, a gente aprende a confiar e a perdoar muito facilmente e isso é bonito, tudo isso é, na verdade, super bonito. Tudo isso que a gente sente, toda essa nossa capacidade de amar, de se dar é de uma confiança absurda.
Nós compartilhamos com os homens a beleza da nossa desgraça e acreditamos que eles podem entendê-la, acolhê-la, que podem nos amar. Acreditamos, sempre, e de novo, e outra vez, que tudo pode ser diferente, e há uma beleza nessa inocência, uma beleza cruel.
(...)
No fim os homens sempre vão agir se priorizando - foi o que eles aprenderam a fazer; e a gente sempre vai agir se secundarizando - é o que a gente aprendeu a fazer.
(...)
Dentro de um relacionamento, (eu, mulher) devo ser mais egoísta, devo reverter grande parte do meu cuidado com o outro em auto cuidado. Devo ser “complicada” “difícil” e “exigente”, porque tudo isso é por mim.
Um homem que queira nos amar deverá entender tudo isso, deverá entender que a assimetria socialmente imposta pede como resposta que tentemos construir, em esfera micropolítica, um relacionamento contrariamente assimétrico."
texto completo e original em: https://negrasolidao.wordpress.com/2015/07/02/os-homens-que-nao-amavam-as-mulheres/
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Estupro e assédio: chega de passar pano!!!
Essa semana está circulando a capa da New York Magazine, que mostra 35 mulheres (das 46) que acusam Bill Cosby de estupro e assédio.
O caso só está recebendo atenção agora pois foi liberado um depoimento dado pelo próprio Cosby dizendo que drogou mulheres para fazer sexo com elas. Ou seja, um cara que é acusado de estupro desde 2004 só é realmente considerado "culpado" quando vaza um depoimento do próprio confessando.
Porque as vozes das 46 mulheres aparentemente não eram confiáveis o suficiente pra galera acreditar.
Assim como Cosby, existe um extensa lista de famosos estupradores e pedófilos, que curiosamente não tem seus casos divulgados ou sequer citados em suas biografias de Wikipédia.
Curiosamente, esses homens continuam sendo idolatrados, contratados e celebrados.
Não existe nenhuma estatística realmente boa sobre falsas alegações de estupro, mas uma das mais conhecidas (do FBI) estima que 8% das acusações de estupro são falsas.
Ainda assim, em toda e qualquer notícia de estupro que sai na mídia, é possível encontrar pessoas duvidando da veracidade das acusações, ou mesmo comentários de gente que acha que frente à uma acusação de estupro, o importante mesmo é questionar "o que essa mulher estava fazendo sozinha na rua", "vestida desse jeito, tava pedindo né" ou mesmo "mas porque ela entrou no carro dele então?".
Isso aponta para uma primeira falha moral da nossa sociedade quando o assunto é a violação do corpo feminino: criamos "desculpas" para justificar o injustificável.
Existe UM culpado num crime de estupro: o estuprador.
Mas quando repetimos discursos como estes acima, nós - enquanto sociedade- somos cúmplices.
Talvez ajude sim se você não andar sozinha na rua, ou se não vestir tal roupa - mas quando você vê que a maioria dos estupros tem como algoz algum conhecido da vítima, a gente entende que essas medidas são frágeis e paliativas - e focar nelas como as melhores estratégias para combater o problema é no mínimo questionável.
O que realmente é necessário é CONSCIENTIZAR e EDUCAR.
É parar de "passar pano" pra estuprador. Parar de achar que ignorar os primeiros 4 (ou 3, ou 1) "nãos" de uma mulher é aceitável. Parar de fazer esse tipo de comentário quando ouve uma notícia de estupro, parar de questionar a veracidade da acusação, parar de criar desculpas, para de aceitar que amigos seus tenham comportamentos desrespeitosos.
Outro ponto: o mito do estuprador-monstro-doente-mental.
Cara, acreditem, não temos tanto psicopatas assim não.
São 527 mil estupros por ano no Brasil - praticamente um estupro por minuto.
88,5% das vítimas são mulheres e 98,2% dos agressores são homens.
70% são conhecidos da vítima.
Eu seeeei, eu sei: aquele tio estranho, aquele amigo de infância, aquele cara popular da escola que ficou com várias amigas suas, aquele amigo de faculdade, como imaginar que algum deles poderia ser um estuprador ou um abusador?
Ele é tão gente fina! Tão bem-educado! Jamais faria isso!
Então... tá na hora de parar de por a mão no fogo por qualquer um.
Não estou dizendo que devemos ver TODOS os homens a nossa volta com desconfiança, ou que TODOS os homens são estupradores em potencial.
Só estou dizendo que a chance deles serem é maior que a chance de uma acusação de estupro ser falsa.
Então vamos pensar bem antes de sair defendendo um lado ou outro - na dúvida, é melhor fica quieto.
Só pra citar UM caso de todos os que EU mesma já passei (e olha que eu sempre tive carro e nunca tive que me expor tanto no espaço público - tenho certeza que mulheres que andam na rua/usam transporte público todos os dias tem muitos mais histórias que eu):
Há pouco mais de um mês, estava eu caminhando do metrô até a casa do meus pais (sim, em Alto de Pinheiros!), num dia de sol (sim, era dia!), depois de um rolê no centro (é, eu nem tava arrumada: estava de shorts larguinho, tênis e camisa xadrez).
Estou mexendo no celular, quando passa por mim um garoto e aperta minha bunda.
É, assim, no meio da rua, sem nada que pudesse tê-lo empurrado ou qualquer 'desculpinha' de busão lotado.
E não foi uma passada qualquer, foi forte, extremamente invasiva.
Eu saí correndo atrás dele xingando, fazendo um barraco e estapeando ele.
(Obs: até hoje me arrependo de não ter seguido ele até o metrô para chamar o segurança e levá-lo pra delegacia. E até hoje quando me lembro, sinto asco, nojo, me sinto invadida.)
Esse cara devia ter a minha idade (uns 26 a 28 anos), branco, e vestia camisa e calça social.
Ele poderia ser amigo ou conhecido de qualquer um de vocês.
Enquanto eu o perseguia, ele me chamava de louca, dizia que não tinha feito nada.
E aí está mais uma falha moral: nos recusamos a acreditar que o agressor desses 527 mil estupros pode estar ao nosso lado.
Se fosse de fato um amigo de vocês, eu o tivesse levado pra delegacia e ele estivesse passando por uma acusação de assédio sexual (porque sim, aquilo foi assédio sexual), vocês provavelmente achariam que quem acusa é sim uma louca, e que ele "jamais faria aquilo".
E vocês achariam que "aquilo" não foi assédio.
Então só pra finalizar essa reflexão...
Meninas: Não vamos mais aceitar que nosso corpo é público, que é normal levar uma passada de mão no metrô ou na balada. Não é! Vamos parar de acreditar que a culpa de algum assédio foi nossa, pq estávamos em tal lugar, com tal roupa, pq "demos bola". Vamos parar de descreditar e culpabilizar outras mulheres quando elas dizem que sofreram assédio. Esse discurso só prejudica a nós mesmas.
Meninos: Chega de passar pano pra amigo abusador. Chega de achar que pq ela deu bola/pq foi pra sua casa/pq vcs já transaram antes, vc tem "direito" a alguma coisa. Chega de achar que "não" é um sim tímido. Segura sua língua na hora de comentar alguma história de assédio ou estupro: não é possível que a primeira coisa que vc tenha a dizer seja "será que é verdade?" ou "ela tava querendo".
Dizem que só podemos solucionar um problema quando admitimos que ele existe.
Precisamos admitir que o assédio e o estupro existem. Admitir que o único culpado por ele é o agressor, e nunca a vítima. Admitir que o agressor pode estar "entre nós. E admitir que nós, enquanto sociedade, temos uma responsabilidade para com este problema.
Vamos melhorar gente.... Amanhã pode ser você, ou sua irmã, sua namorada, sua mãe.
E mesmo que não seja nenhuma delas: todas as mulheres - em todas as festas e com todos os trajes - são seres humanos.
Respeitar não deveria ser tão difícil.
O caso só está recebendo atenção agora pois foi liberado um depoimento dado pelo próprio Cosby dizendo que drogou mulheres para fazer sexo com elas. Ou seja, um cara que é acusado de estupro desde 2004 só é realmente considerado "culpado" quando vaza um depoimento do próprio confessando.
Porque as vozes das 46 mulheres aparentemente não eram confiáveis o suficiente pra galera acreditar.
Assim como Cosby, existe um extensa lista de famosos estupradores e pedófilos, que curiosamente não tem seus casos divulgados ou sequer citados em suas biografias de Wikipédia.
Curiosamente, esses homens continuam sendo idolatrados, contratados e celebrados.
Não existe nenhuma estatística realmente boa sobre falsas alegações de estupro, mas uma das mais conhecidas (do FBI) estima que 8% das acusações de estupro são falsas.
Ainda assim, em toda e qualquer notícia de estupro que sai na mídia, é possível encontrar pessoas duvidando da veracidade das acusações, ou mesmo comentários de gente que acha que frente à uma acusação de estupro, o importante mesmo é questionar "o que essa mulher estava fazendo sozinha na rua", "vestida desse jeito, tava pedindo né" ou mesmo "mas porque ela entrou no carro dele então?".
Isso aponta para uma primeira falha moral da nossa sociedade quando o assunto é a violação do corpo feminino: criamos "desculpas" para justificar o injustificável.
Existe UM culpado num crime de estupro: o estuprador.
Mas quando repetimos discursos como estes acima, nós - enquanto sociedade- somos cúmplices.
Talvez ajude sim se você não andar sozinha na rua, ou se não vestir tal roupa - mas quando você vê que a maioria dos estupros tem como algoz algum conhecido da vítima, a gente entende que essas medidas são frágeis e paliativas - e focar nelas como as melhores estratégias para combater o problema é no mínimo questionável.
O que realmente é necessário é CONSCIENTIZAR e EDUCAR.
É parar de "passar pano" pra estuprador. Parar de achar que ignorar os primeiros 4 (ou 3, ou 1) "nãos" de uma mulher é aceitável. Parar de fazer esse tipo de comentário quando ouve uma notícia de estupro, parar de questionar a veracidade da acusação, parar de criar desculpas, para de aceitar que amigos seus tenham comportamentos desrespeitosos.
Outro ponto: o mito do estuprador-monstro-doente-mental.
Cara, acreditem, não temos tanto psicopatas assim não.
São 527 mil estupros por ano no Brasil - praticamente um estupro por minuto.
88,5% das vítimas são mulheres e 98,2% dos agressores são homens.
70% são conhecidos da vítima.
Eu seeeei, eu sei: aquele tio estranho, aquele amigo de infância, aquele cara popular da escola que ficou com várias amigas suas, aquele amigo de faculdade, como imaginar que algum deles poderia ser um estuprador ou um abusador?
Ele é tão gente fina! Tão bem-educado! Jamais faria isso!
Então... tá na hora de parar de por a mão no fogo por qualquer um.
Não estou dizendo que devemos ver TODOS os homens a nossa volta com desconfiança, ou que TODOS os homens são estupradores em potencial.
Só estou dizendo que a chance deles serem é maior que a chance de uma acusação de estupro ser falsa.
Então vamos pensar bem antes de sair defendendo um lado ou outro - na dúvida, é melhor fica quieto.
Só pra citar UM caso de todos os que EU mesma já passei (e olha que eu sempre tive carro e nunca tive que me expor tanto no espaço público - tenho certeza que mulheres que andam na rua/usam transporte público todos os dias tem muitos mais histórias que eu):
Há pouco mais de um mês, estava eu caminhando do metrô até a casa do meus pais (sim, em Alto de Pinheiros!), num dia de sol (sim, era dia!), depois de um rolê no centro (é, eu nem tava arrumada: estava de shorts larguinho, tênis e camisa xadrez).
Estou mexendo no celular, quando passa por mim um garoto e aperta minha bunda.
É, assim, no meio da rua, sem nada que pudesse tê-lo empurrado ou qualquer 'desculpinha' de busão lotado.
E não foi uma passada qualquer, foi forte, extremamente invasiva.
Eu saí correndo atrás dele xingando, fazendo um barraco e estapeando ele.
(Obs: até hoje me arrependo de não ter seguido ele até o metrô para chamar o segurança e levá-lo pra delegacia. E até hoje quando me lembro, sinto asco, nojo, me sinto invadida.)
Esse cara devia ter a minha idade (uns 26 a 28 anos), branco, e vestia camisa e calça social.
Ele poderia ser amigo ou conhecido de qualquer um de vocês.
Enquanto eu o perseguia, ele me chamava de louca, dizia que não tinha feito nada.
E aí está mais uma falha moral: nos recusamos a acreditar que o agressor desses 527 mil estupros pode estar ao nosso lado.
Se fosse de fato um amigo de vocês, eu o tivesse levado pra delegacia e ele estivesse passando por uma acusação de assédio sexual (porque sim, aquilo foi assédio sexual), vocês provavelmente achariam que quem acusa é sim uma louca, e que ele "jamais faria aquilo".
E vocês achariam que "aquilo" não foi assédio.
Então só pra finalizar essa reflexão...
Meninas: Não vamos mais aceitar que nosso corpo é público, que é normal levar uma passada de mão no metrô ou na balada. Não é! Vamos parar de acreditar que a culpa de algum assédio foi nossa, pq estávamos em tal lugar, com tal roupa, pq "demos bola". Vamos parar de descreditar e culpabilizar outras mulheres quando elas dizem que sofreram assédio. Esse discurso só prejudica a nós mesmas.
Meninos: Chega de passar pano pra amigo abusador. Chega de achar que pq ela deu bola/pq foi pra sua casa/pq vcs já transaram antes, vc tem "direito" a alguma coisa. Chega de achar que "não" é um sim tímido. Segura sua língua na hora de comentar alguma história de assédio ou estupro: não é possível que a primeira coisa que vc tenha a dizer seja "será que é verdade?" ou "ela tava querendo".
Dizem que só podemos solucionar um problema quando admitimos que ele existe.
Precisamos admitir que o assédio e o estupro existem. Admitir que o único culpado por ele é o agressor, e nunca a vítima. Admitir que o agressor pode estar "entre nós. E admitir que nós, enquanto sociedade, temos uma responsabilidade para com este problema.
Vamos melhorar gente.... Amanhã pode ser você, ou sua irmã, sua namorada, sua mãe.
E mesmo que não seja nenhuma delas: todas as mulheres - em todas as festas e com todos os trajes - são seres humanos.
Respeitar não deveria ser tão difícil.
quarta-feira, 22 de julho de 2015
"Eu não sou feminista" - Mas você sabe o que é??
Sempre vejo mulheres falarem que não se consideram feministas.
Tem gente que até corre da palavra como se ela fosse "suja".
Eu diria que 90% das razões que ouço para tal são devidas à falta de conhecimento do real significado da palavra.
Por exemplo, moças que não se consideram feministas porque:
"eu não odeio homens"
"eu acho que mulheres e homens são diferentes biológicamente sim"
"eu não acho legal mulheres quererem ser superiores a homens, somos iguais"
"eu gosto que meu namorado abra a porta pra mim"
"feminismo ou machismo: não gosto de nenhum extremo"
etc etc.
Nestes casos a solução seria simples: dar um google pra descobrir o que realmente é o feminismo antes de sair negando ou difamando o movimento - ou até perguntar pra uma amiga feminista (at your service, migas). Inclusive, seria UM PRAZER tirar todas as suas dúvidas a respeito.
Até pq em pleno século XXI com google nas mãos, ninguém quer pagar o mico de falar sair falando essas coisas acima e descobrir que está fazendo tanto sentido quanto "eu não gosto de praia porque detesto leões".
Mas as vezes eu ouço pessoas esclarecidas a respeito do que o movimento significa dizendo que não se consideram feministas pq não concordam com tudo que "as feministas" fazem.
Esse pra mim é o verdadeiro mind-fuck.
Sei lá, eu sempre penso em possíveis paralelos, como esse:
Você se considera cristão?
Se sim: mas você concorda com tudo que os cristãos fazem e falam?
Se não: mas ué, então pq vc continua se declarando cristão se tem vários cristãos bem famosos por aí que pregam ideias fundamentalistas, retrógradas, preconceituosas, ou que até praticam extorsão com fiéis?
Aí vc provavelmente vai me responder: mas ser cristão não é ISSO. Ser cristão é outra coisa, esses cristãos não me representam.
Ou até: você se considera brasileiro?
Se sim: mas você concorda com tudo que os brasileiros fazem???
Ao que você vai dizer "pfff, claro que não, mas ser brasileiro significa que eu nasci no Brasil, simplesmente".
Porque você sabe que ter nascido do Brasil e se dizer Australiano simplesmente não faria sentido, por mais que você goste mais da Austrália.
Gente, em todo e qualquer grupo/comunidade (feministas, cristãos, brasileiros, esquerdistas, judeus, negros, gays, médicos, jovens, etc), vão existir diversas divergências de pensamentos e práticas dentro de cada grupo.
Então ó:
Feminismo: Ideologia que defende a igualdade, em todos os aspectos (social, político, econômico), entre homens e mulheres.
Em suma é isso aí.
Tem mil formas de aplicar esse discurso? Sim.
Tem várias maneiras de se lutar contra essa desigualdade? Sim.
Existem pessoas que vão lutar por isso de uma forma diferente da que você acha certo? Sim.
Isso quer dizer que o feminismo deixa de ser isso aí? Não.
Então antes de cooperar com a desinformação que sempre rondou o feminismo e permitir que essa coisa linda descrita acima (que inclusive foi responsável por diversos direitos que você desfruta hoje) continue sendo pintada como se fosse bruxaria, que tal simplesmente dizer:
"sou feminista, mas não sou militante"
"acredito no feminismo, mas tenho algumas ressalvas em relação à algumas ações do movimento"
"sou feminista, mas não consigo aplicá-lo na minha vida 100% do tempo"
ou até mesmo
"sou feminista sim, como assim você não é?? Você já leu a definição???"
Vamos espalhar informação ao invés de desinformação, e parar de ter medo de uma palavra tão bonita?
Vamos?
Então vamos!! <3
Tem gente que até corre da palavra como se ela fosse "suja".
Eu diria que 90% das razões que ouço para tal são devidas à falta de conhecimento do real significado da palavra.
Por exemplo, moças que não se consideram feministas porque:
"eu não odeio homens"
"eu acho que mulheres e homens são diferentes biológicamente sim"
"eu não acho legal mulheres quererem ser superiores a homens, somos iguais"
"eu gosto que meu namorado abra a porta pra mim"
"feminismo ou machismo: não gosto de nenhum extremo"
etc etc.
Nestes casos a solução seria simples: dar um google pra descobrir o que realmente é o feminismo antes de sair negando ou difamando o movimento - ou até perguntar pra uma amiga feminista (at your service, migas). Inclusive, seria UM PRAZER tirar todas as suas dúvidas a respeito.
Até pq em pleno século XXI com google nas mãos, ninguém quer pagar o mico de falar sair falando essas coisas acima e descobrir que está fazendo tanto sentido quanto "eu não gosto de praia porque detesto leões".
Mas as vezes eu ouço pessoas esclarecidas a respeito do que o movimento significa dizendo que não se consideram feministas pq não concordam com tudo que "as feministas" fazem.
Esse pra mim é o verdadeiro mind-fuck.
Sei lá, eu sempre penso em possíveis paralelos, como esse:
Você se considera cristão?
Se sim: mas você concorda com tudo que os cristãos fazem e falam?
Se não: mas ué, então pq vc continua se declarando cristão se tem vários cristãos bem famosos por aí que pregam ideias fundamentalistas, retrógradas, preconceituosas, ou que até praticam extorsão com fiéis?
Aí vc provavelmente vai me responder: mas ser cristão não é ISSO. Ser cristão é outra coisa, esses cristãos não me representam.
Ou até: você se considera brasileiro?
Se sim: mas você concorda com tudo que os brasileiros fazem???
Ao que você vai dizer "pfff, claro que não, mas ser brasileiro significa que eu nasci no Brasil, simplesmente".
Porque você sabe que ter nascido do Brasil e se dizer Australiano simplesmente não faria sentido, por mais que você goste mais da Austrália.
Gente, em todo e qualquer grupo/comunidade (feministas, cristãos, brasileiros, esquerdistas, judeus, negros, gays, médicos, jovens, etc), vão existir diversas divergências de pensamentos e práticas dentro de cada grupo.
Então ó:
Feminismo: Ideologia que defende a igualdade, em todos os aspectos (social, político, econômico), entre homens e mulheres.
Em suma é isso aí.
Tem mil formas de aplicar esse discurso? Sim.
Tem várias maneiras de se lutar contra essa desigualdade? Sim.
Existem pessoas que vão lutar por isso de uma forma diferente da que você acha certo? Sim.
Isso quer dizer que o feminismo deixa de ser isso aí? Não.
Então antes de cooperar com a desinformação que sempre rondou o feminismo e permitir que essa coisa linda descrita acima (que inclusive foi responsável por diversos direitos que você desfruta hoje) continue sendo pintada como se fosse bruxaria, que tal simplesmente dizer:
"sou feminista, mas não sou militante"
"acredito no feminismo, mas tenho algumas ressalvas em relação à algumas ações do movimento"
"sou feminista, mas não consigo aplicá-lo na minha vida 100% do tempo"
ou até mesmo
"sou feminista sim, como assim você não é?? Você já leu a definição???"
Vamos espalhar informação ao invés de desinformação, e parar de ter medo de uma palavra tão bonita?
Vamos?
Então vamos!! <3
quinta-feira, 16 de julho de 2015
Teoria da conspiração - Inventar para convencer?
Eu geralmente dou muita risada de teorias da conspiração, até porque no nível que chegou nosso jornalismo e nossa política, geralmente a coisa não passa de piada mesmo.
Mas, eu tava aqui pensando com os meus botões e pensei numa teoria da conspiração mucho loca e muito sombria que quero compartilhar.
Eu - e acho que não estou sozinha nessa - sempre fico muito intrigada quando vejo alguns políticos/jornalistas/pastores falando sobre assuntos que a esquerda defende...
Simplesmente porque, por fazer parte dessa esquerda-gayzista-feminista-abortista-cotista-bolsita, eu não conheço ninguém que defenda algumas coisas que eles dizem que nós, esquerdistas, queremos.
Então dá um mind-fuck danado, porque eles falam sobre coisas como:
-as feministas odeiam os homens e querem exterminá-los
-queremos que o aborto substitua a educação reprodutiva e os anticoncepcionais
-a ideologia de gênero quer proibir que professores se refiram a crianças como menino ou menina
-os gays querem que a Igreja seja obrigada a realizar o sacramento do matrimônio para eles
-os negros querem viver de cotas pra sempre pra se vingar dos brancos
-todos os beneficiários do Bolsa Família são todos safados que dão golpes pra ficar tomando sol e bebendo cerveja às custas dos nossos impostos
-o Jean Willys quer passar uma lei pra mudar um trecho da Bíblia
-a ideologia de gênero é representada por aquele médico louco que trocou o gênero dos bebês gêmeos
-casais gays são pedófilos e não podem adotar crianças senão abusarão delas
Enfim, tem um sem-número de lendas desse tipo, que os pastores esbravejam em seus vídeos enérgicos, que os políticos conservadores postam loucamente em suas redes sociais, e que muitos sites e blogs postam como se fossem essas as intenções da esquerda, que sempre me deixaram meio achando que eles deviam ser realmente muito burros, criativos ou incapazes de interpretar textos.
DA ONDE eles tiraram essas coisas, gente?
Onde a nossa comunicação falhou que eles possam ter entendido isso..?
MAS, num momento eureka, me ocorreu: será que eles fazem de propósito?
Será que ao invés de muito burros eles são... muito espertos?
Porque é tanta mentira, é tanta distorção, é tanta informação nada a ver...
Que talvez isso seja uma estratégia deles para convencer as pessoas leigas a "comprar a briga" deles!
Por exemplo...
Talvez fosse dificil convencer a sociedade que um movimento que busca igualdade entre os gêneros é algo ruim.. Tipo, "oi homens, olha só, nós mulheres só queremos os mesmos direitos que vocês, e ser tratadas com o mesmo nível de respeito! Nóis?"
MAS, se você espalha que as feministas são todas lésbicas satânicas que odeiam homens e estão conspirando para escravizá-los, ou um bando de loucas promíscuas desocupadas que querem mostrar os peitos e um monte de benefícios; você cria uma barreira em torna do feminismo que só com muita informação de fontes decentes a pessoa vai perder a aversão.
Talvez se o povo soubesse que a discussão de gênero só quer promover uma maior liberdade de expressão para as pessoas combater o bullying, e evitar de colocar pessoas em caixinhas de comportamentos pré-definidos, talvez essa conversa já estivesse rolando há muito tempo.
Mas se você espalha por aí que a Ideologia de Gênero quer "acabar" com a heterossexualidade, proibir meninas de vestirem rosa, cortar o pinto de bebês, incentiver a transexualidade, promover a pedofilia... As pessoas não vão nem querer ler mais a respeito, e vão refutar qualquer menção à essa Ideologia - sem nem saber que ela não tem nada a ver com isso.
Talvez se os religiosos entendessem que os gays só querem os mesmos direitos CIVIS que os héteros já tem, e só querem que a sociedade não lhes trate como animais de zoológico, talvez a homofobia fosse um problema muito menor.
Mas quando você divulga que gays querem poder casar na Igreja, proibir o casamento hétero, abusar de criancinhas, você impede a discussão de sequer começar.
Ou seja,,,, Será que eles distorcem tudo DE PROPÓSITO?
Será que estão realmente mau-intencionados, e querem convencer as pessoas de um monte de mentiras, para que elas odeiem coisas e pessoas antes mesmo de saber o que são?
Será que esse povo teve aulas com Hitler, de como desumanizar uma parcela da população de tal forma que o povo deixa de vê-los como pessoas, pais, mães, irmãos, filhos - a ponto de termos hoje hordas de comentaristas de portal prontos para digitar "esse merece morrer mesmo"?
E a questão: se esse tipo de oratória falaciosa e enganosa só pode ser combatida pela informação... e nossos maiores veículos jornalísticos e nossa mídia está toda de rabo preso de forma que não tem interesse em esclarecer e mostras as coisas como realmente são....
E aí, COMOFAZ?
eu, hein...
E aí, homem, cantada é bacana?
Proponho uma reflexão pra vc homem que acha que cantada não é assédio, ou que se não for de baixo calão tá tudo bem:
Imagine que você está sozinho na rua, e aparece um cara de 1,95, grandão, evidentemente bem mais forte que você.
Aí ele te passa uma cantada (pode ser as que vc considera inofensivas como "oi gato, vem cá", ou "nossa, que lindo, me dá um sorriso vai").
O que você sentiria? Uma raivinha não? Wtf, quem é aquele cara pra te abordar??
Agora imagina que você saiba que a cada 12 segundos um homem é estuprado por outro homem.
E aquele cara é bem mais forte que você, se ele quisesse ele bem que conseguiria....
Além de raivinha, tb daria um medo, não? Afinal, ele pode ser só um cara sussa tentando te "elogiar". Mas pode ser que não. Vc não sabe.
E aí?? Como vc se sentiria???
E se vc dissesse que te incomodou e os outros tentassem dizer que "tem homem que gosta"?
E se vc soubesse por pesquisas que quem gosta é só 20% dos outros homens - ou seja, a maioria NÃO gosta.
E mesmo assim tentassem te convencer que o fato de vc se sentir derespeitado, acuado, ameaçado "faz parte", e vc tem que parar de mimimi?
E aí????
Imagine que você está sozinho na rua, e aparece um cara de 1,95, grandão, evidentemente bem mais forte que você.
Aí ele te passa uma cantada (pode ser as que vc considera inofensivas como "oi gato, vem cá", ou "nossa, que lindo, me dá um sorriso vai").
O que você sentiria? Uma raivinha não? Wtf, quem é aquele cara pra te abordar??
Agora imagina que você saiba que a cada 12 segundos um homem é estuprado por outro homem.
E aquele cara é bem mais forte que você, se ele quisesse ele bem que conseguiria....
Além de raivinha, tb daria um medo, não? Afinal, ele pode ser só um cara sussa tentando te "elogiar". Mas pode ser que não. Vc não sabe.
E aí?? Como vc se sentiria???
E se vc dissesse que te incomodou e os outros tentassem dizer que "tem homem que gosta"?
E se vc soubesse por pesquisas que quem gosta é só 20% dos outros homens - ou seja, a maioria NÃO gosta.
E mesmo assim tentassem te convencer que o fato de vc se sentir derespeitado, acuado, ameaçado "faz parte", e vc tem que parar de mimimi?
E aí????
O monstro verde da discussão de gênero.
Não pode falar que gênero deve ser discutido nas escolas e o povo já fica agitado, um monte de gente falando horrores dessa tal "ideologia de gênero":
que ~incentiva~ a criança a ser homossexual, que defende a pedofilia, que usa o exemplo do médico doidão que quis trocar o gênero da criança, que defende que mulheres ~não podem~ ter características consideradas socialmente como femininas e homens não podem ter as masculinas, etc etc
Real question: Na vida real, quantas pessoas vcs conhecem que defendem essas coisas aí em cima?
Quantos projetos de lei vocês conhecem que querem impor essas coisas?
Porque olha só, eu sou uma pessoa que defende a discussão de gênero nas escolas!
Não sou defensora cega do rolê, me informei bastante sobre todas as nuances da discussão e cheguei a conclusão que um mínimo de informação a respeito seria muito saudável para a educação.
E sendo parte do grupo de pessoas que defende essa discussão, deixa eu contar pra vocês quais são nossas verdadeiras intenções...
Nós apenas queremos uma criação mais igualitária na qual você não vai obrigar a criança a vestir determinada cor ou brincar com determinado brinquedo, você vai deixar ela escolher a cor que gosta e brincar com o brinquedo que gosta.
Não quer dizer que você não pode dar roupinha azul pro menino, você pode! Mas quer dizer que se ele quiser uma roupinha rosa, também tudo bem! Afinal, pra quê fazer uma criança se sentir mal com uma besteira dessas?
Uma criação que vai deixar a criança descobrir seus talentos e gostos - sem enfiar na cabeça dela que tal coisa é de menino e tal coisa é de menina.
Quer dizer que não pode colocar a menina no ballet?? Pode sim! Mas quer dizer que se ela não gostar do ballet e quiser fazer futebol, você não vai censurá-la. Afinal, pra quê afastar a criança de algo que ela gosta e que pode vir a ser um grande talento?
E sabe porque a gente acha isso importante?
Porque acreditamos que essa educação mais livre de "papéis" e caixinhas vai ter resultados muito benéficos para a criança em questão e para todas as outras ao seu redor!
Por exemplo: as crianças vão aprender a respeitar as decisões individuais de cada um.
Ao invés de ficar zuando o coleguinha de 4 anos pq ele gosta de lilás, as crianças vão achar normal e não terão preconceito com ele.
Ao invés de excluir a menina que gosta de brincar de carrinho, não vão achar nada demais.
Quer dizer que os professores ao invés de dar bronca no menino que viu uma boneca e quis brincar com ela, vão deixar ele brincar com o que quiser.
Quer dizer que ninguém vai ficar dizendo pro seu filho de 4 anos que brincar de tal coisa torna ele "viado" (olha aí: quem quer ficar falando de sexualidade com criancinha NÃO É a gente! Pasmem.).
Que ninguém vai ficar dizendo pra sua filha de 6 anos que se ela gostar de cabelo curto e carrinho, ela é menino (olha aí de novo: quem quer ficar falando que uma criança não é do gênero "certo" NÃO É a gente!).
Ou seja, a gente quer que todos tenham liberdade para ter cabelo curto ou comprido, brincar de barbie ou de carrinho, gostar de azul ou de rosa, e quer que a criança saiba que nada disso vai determinar se ele(a) é ou deixa de ser menino ou menina. Por que nada disso faz diferença.
A gente quer que nenhum menino sofra bullying por que gosta de brincar de casinha.
Que nenhuma menina seja excluída dos amiguinhos porque adora o batman.
Que na adolescência, se o menino tiver mais afinidade com um grupo de meninas, ele não seja taxado de gay, porque os coleguinhas aprenderam desde criança que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Que se a menina não curtir usar maquiagem, não seja taxada de sapatão, porque os coleguinhas sabem que aparência não tem a ver com sexualidade.
E que no colegial, quem de fato se descobrir gay ou lésbica seja -olha só que absurdo - RESPEITADO.
Pois da mesma forma que a Orientação Sexual para adolescentes é importante, para que eles saibam que sexo existe - mas não deve incentivar (nem proibir) o adolescente de praticá-lo; o mesmo raciocínio serve para a homossexualidade. Ela existe: não deve ser incentivada nem proibida, apenas reconhecida e respeitada.
Sério que parece tão ruim assim?
Claro que a forma com que isso será feito deve ser discutida - com maturidade -, claro que cada cartilha deve ser revisada para não passar mais informação do que é necessário para cada idade, claro que podemos entrar num consenso em relação a vários assuntos!
Mas sério, vamos nos informar antes de sair bradando contra ou a favor das coisas?
Dica: se você só se informa sobre abacaxi em sites que são contra abacaxi, é muito provável que você tenha uma visão bem distorcida do que é - de fato - um abacaxi.
Dica 2: o estado é laico e nenhuma religião deveria interferir em políticas públicas - justamente pq políticas públicas atingem a todos, e nem todos seguem a mesma religião.
que ~incentiva~ a criança a ser homossexual, que defende a pedofilia, que usa o exemplo do médico doidão que quis trocar o gênero da criança, que defende que mulheres ~não podem~ ter características consideradas socialmente como femininas e homens não podem ter as masculinas, etc etc
Real question: Na vida real, quantas pessoas vcs conhecem que defendem essas coisas aí em cima?
Quantos projetos de lei vocês conhecem que querem impor essas coisas?
Porque olha só, eu sou uma pessoa que defende a discussão de gênero nas escolas!
Não sou defensora cega do rolê, me informei bastante sobre todas as nuances da discussão e cheguei a conclusão que um mínimo de informação a respeito seria muito saudável para a educação.
E sendo parte do grupo de pessoas que defende essa discussão, deixa eu contar pra vocês quais são nossas verdadeiras intenções...
Nós apenas queremos uma criação mais igualitária na qual você não vai obrigar a criança a vestir determinada cor ou brincar com determinado brinquedo, você vai deixar ela escolher a cor que gosta e brincar com o brinquedo que gosta.
Não quer dizer que você não pode dar roupinha azul pro menino, você pode! Mas quer dizer que se ele quiser uma roupinha rosa, também tudo bem! Afinal, pra quê fazer uma criança se sentir mal com uma besteira dessas?
Uma criação que vai deixar a criança descobrir seus talentos e gostos - sem enfiar na cabeça dela que tal coisa é de menino e tal coisa é de menina.
Quer dizer que não pode colocar a menina no ballet?? Pode sim! Mas quer dizer que se ela não gostar do ballet e quiser fazer futebol, você não vai censurá-la. Afinal, pra quê afastar a criança de algo que ela gosta e que pode vir a ser um grande talento?
E sabe porque a gente acha isso importante?
Porque acreditamos que essa educação mais livre de "papéis" e caixinhas vai ter resultados muito benéficos para a criança em questão e para todas as outras ao seu redor!
Por exemplo: as crianças vão aprender a respeitar as decisões individuais de cada um.
Ao invés de ficar zuando o coleguinha de 4 anos pq ele gosta de lilás, as crianças vão achar normal e não terão preconceito com ele.
Ao invés de excluir a menina que gosta de brincar de carrinho, não vão achar nada demais.
Quer dizer que os professores ao invés de dar bronca no menino que viu uma boneca e quis brincar com ela, vão deixar ele brincar com o que quiser.
Quer dizer que ninguém vai ficar dizendo pro seu filho de 4 anos que brincar de tal coisa torna ele "viado" (olha aí: quem quer ficar falando de sexualidade com criancinha NÃO É a gente! Pasmem.).
Que ninguém vai ficar dizendo pra sua filha de 6 anos que se ela gostar de cabelo curto e carrinho, ela é menino (olha aí de novo: quem quer ficar falando que uma criança não é do gênero "certo" NÃO É a gente!).
Ou seja, a gente quer que todos tenham liberdade para ter cabelo curto ou comprido, brincar de barbie ou de carrinho, gostar de azul ou de rosa, e quer que a criança saiba que nada disso vai determinar se ele(a) é ou deixa de ser menino ou menina. Por que nada disso faz diferença.
A gente quer que nenhum menino sofra bullying por que gosta de brincar de casinha.
Que nenhuma menina seja excluída dos amiguinhos porque adora o batman.
Que na adolescência, se o menino tiver mais afinidade com um grupo de meninas, ele não seja taxado de gay, porque os coleguinhas aprenderam desde criança que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Que se a menina não curtir usar maquiagem, não seja taxada de sapatão, porque os coleguinhas sabem que aparência não tem a ver com sexualidade.
E que no colegial, quem de fato se descobrir gay ou lésbica seja -olha só que absurdo - RESPEITADO.
Pois da mesma forma que a Orientação Sexual para adolescentes é importante, para que eles saibam que sexo existe - mas não deve incentivar (nem proibir) o adolescente de praticá-lo; o mesmo raciocínio serve para a homossexualidade. Ela existe: não deve ser incentivada nem proibida, apenas reconhecida e respeitada.
Sério que parece tão ruim assim?
Claro que a forma com que isso será feito deve ser discutida - com maturidade -, claro que cada cartilha deve ser revisada para não passar mais informação do que é necessário para cada idade, claro que podemos entrar num consenso em relação a vários assuntos!
Mas sério, vamos nos informar antes de sair bradando contra ou a favor das coisas?
Dica: se você só se informa sobre abacaxi em sites que são contra abacaxi, é muito provável que você tenha uma visão bem distorcida do que é - de fato - um abacaxi.
Dica 2: o estado é laico e nenhuma religião deveria interferir em políticas públicas - justamente pq políticas públicas atingem a todos, e nem todos seguem a mesma religião.
"Mas agora TUDO é machismo?" - Sim, é.
"Aff que mundo chato!
Não posso mais nem obrigar minha esposa a transar, a fazer o jantar, bater nela se ela me desafiar ou proibi-la de votar e trabalhar fora que já dizem que é machismo!
Nem posso mais comprar um negro como escravo, nem falar que ele é de uma raça inferior, chamar de macaco, falar que é cor de bandido, e imagina, nem posso abusar e tratar uma negra como objeto que já me acusam de racismo!
Ainda por cima não posso mais espancar gay na rua pra ver se aprende a ser homem ou estuprar lésbica pra ver se aprende a gostar de pica, e nem posso me recusar a contratar uma pessoa dessas, nem posso impedir gays de darem as mãos na rua, que acham que eu sou preconceituoso e homofóbico!
Quanto vitimismo, tudo é machismo/racismo/homofobia agora???"
Migos, é assim que vocês soam quando ficam de "mimimi tudo é (preencha com alguma opressão)"
Parece uma coisa mimadinha assim ó:
"Naaaão, eu não quero te respeitar! Não!! Eu não quero repensar minhas atitudes porque eu sou perfeito e nunca erro! O que eu acho que ofende os outros é mais importante do que os outros me dizem que é ofensivo! Aaaai que chato, saaaai! Se eu não sou afetado é porque não é importante! Não vou respeitar e ponto final."
SIM, muita coisa que eu, vocês e toda a nossa sociedade faz com naturalidade É SIM opressivo e preconceituoso, e não será mais tolerado!
Sabe porque? Porque antigamente mulheres, homossexuais e negros não tinham voz ativa ou direito de reclamar e não podiam nem se dar ao luxo sequer de questionar se aquilo estava errado ou não.
Não é que antigamente tava tudo bem, mas antigamente as vozes que lutavam por esses direitos ainda era abafadas, mortas, presas, queimadas na fogueira, consideradas subversivas e imorais - então ninguém achava que tinha que ouvir.
Mas agora ninguém mais cala essas vozes, e ainda tem muito a ser feito para atingirmos a igualdade, então aceita que dói menos, pq como bem disse uma dyva feminista, eu não volto pra cozinha, nem o gay pro armário, nem o negro pra senzala.
Você ganha mais se colocar a mão na consciência, começar a ouvir e mudar alguns hábitos, pq ó, posso te garantir que daqui pra frente só "piora".
Vlw, flw.
Não posso mais nem obrigar minha esposa a transar, a fazer o jantar, bater nela se ela me desafiar ou proibi-la de votar e trabalhar fora que já dizem que é machismo!
Nem posso mais comprar um negro como escravo, nem falar que ele é de uma raça inferior, chamar de macaco, falar que é cor de bandido, e imagina, nem posso abusar e tratar uma negra como objeto que já me acusam de racismo!
Ainda por cima não posso mais espancar gay na rua pra ver se aprende a ser homem ou estuprar lésbica pra ver se aprende a gostar de pica, e nem posso me recusar a contratar uma pessoa dessas, nem posso impedir gays de darem as mãos na rua, que acham que eu sou preconceituoso e homofóbico!
Quanto vitimismo, tudo é machismo/racismo/homofobia agora???"
Migos, é assim que vocês soam quando ficam de "mimimi tudo é (preencha com alguma opressão)"
Parece uma coisa mimadinha assim ó:
"Naaaão, eu não quero te respeitar! Não!! Eu não quero repensar minhas atitudes porque eu sou perfeito e nunca erro! O que eu acho que ofende os outros é mais importante do que os outros me dizem que é ofensivo! Aaaai que chato, saaaai! Se eu não sou afetado é porque não é importante! Não vou respeitar e ponto final."
SIM, muita coisa que eu, vocês e toda a nossa sociedade faz com naturalidade É SIM opressivo e preconceituoso, e não será mais tolerado!
Sabe porque? Porque antigamente mulheres, homossexuais e negros não tinham voz ativa ou direito de reclamar e não podiam nem se dar ao luxo sequer de questionar se aquilo estava errado ou não.
Não é que antigamente tava tudo bem, mas antigamente as vozes que lutavam por esses direitos ainda era abafadas, mortas, presas, queimadas na fogueira, consideradas subversivas e imorais - então ninguém achava que tinha que ouvir.
Mas agora ninguém mais cala essas vozes, e ainda tem muito a ser feito para atingirmos a igualdade, então aceita que dói menos, pq como bem disse uma dyva feminista, eu não volto pra cozinha, nem o gay pro armário, nem o negro pra senzala.
Você ganha mais se colocar a mão na consciência, começar a ouvir e mudar alguns hábitos, pq ó, posso te garantir que daqui pra frente só "piora".
Vlw, flw.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Sobre mendigos e suas ex-mulheres
Já há algum tempo eu venho traçando um paralelo que me incomoda.
Seguindo páginas no estilo SP Invisível ou páginas que postam relatos de moradores de rua, percebi um certo padrão:a maioria dos moradores de rua eram homens, e a maioria dizia ter família (ex-mulher e filhos) ainda que não pareciam estar com ela.
Muitos relatavam brigas e desavenças com suas companheiras, que os fizeram sair de casa - claro que para a maioria dos homens que relatam essas desavenças, a "culpa" é da mulher (e claro que a mídia não tardou em classificar moradores de rua como desiludidos amorosos, e até os criadores da SP Invisível relataram que muitos desses homens estão lá "por causa de mulher"), mas não vamos nem entrar nesse mérito rsrs
Como boa feminista, ficava pensando em onde estavam então essas inúmeras mulheres sozinhas com os filhos, únicas responsáveis pelo sustento da família.
Bem, resolvi ir atrás de alguns dados para não ficar no achismo.
Encontrei dados mais confiáveis relativos ao centro de São Paulo, e também relativos ao Brasil.
Unindo as duas pesquisas, alguns dados que encontramos:
- 82% são homens, em SP média de idade de 40 anos, no Brasil mais da metade tem entre 25 e 44 anos.
- A maioria relatou já ter tido uma companheira/esposa, e ter filhos - que não estão com eles nas ruas.
- Os maiores motivos de terem ido para as ruas estava relacionado à: alcoolismo (35,5%), desemprego (29,8%) e desavenças com familiares (29,1%).
Podemos unir à estes dados alguns outros - que não estão diretamente relacionados, mas podem traçar alguns paralelos.
-5,5 milhões de crianças no Brasil não tem o nome do pai no registro - ou seja, o pai sumiu e a mão cuida da criança sozinha, sem ajuda nem pensão.
-A PNAD aponta que 37,4% das famílias brasileiras tem a mulher como pessoa de referência (o que quer dizer que ela é responsável pela maior ou única renda da família).
***
Não acho que seria correto juntar estes dados para chegar a conclusões - os dados não necessariamente estão relacionados, e poderíamos chegar à conclusões falaciosas.
Mas acho interessante fazer algumas reflexões:
Sabendo que os conceitos disseminados por uma sociedade machista afetam de forma mais grave as mulheres, mas também afetam negativamente os homens, será que o fato da maioria dos moradores de rua serem homens não está diretamente ligado ao machismo?
Será que o machismo não carrega as mulheres de um senso maior de responsabilidade para com a família, de forma que elas não vêem como opção abandoná-la e ir para a rua - enquanto os homens evidentemente não só enxergam esta opção como com alguma frequência a abraçam?
Será que é razoável ser contra o aborto dizendo que se a mulher não quer o filho, pode deixar com o pai? Ou que pelo menos receberá pensão para ajudar a criar o filho "indesejado"?
Será que realmente não estamos fazendo vista grossa para o "aborto masculino", enquanto condenamos o feminino?
Que opções tem um homem que não quer/não pode sustentar um filho, e que opções tem a mulher na nossa sociedade?
Ao negar o direito ao aborto, não estamos transformando uma responsabilidade que seria dos dois (homem e mulher, espermatozóide e óvulo) em uma responsabilidade quase que certamente da mulher?
Não seria curioso o fato que numa sociedade em que as mulheres ainda ganham salários menores que os homens (os salários femininos ainda são 30% menores que os masculinos), e em que as mulheres em geral só conquistaram o direito ao mercado de trabalho à apenas uma ou duas gerações, elas já são quase 40% das pessoas de referência nas famílias?
Essa conta fecharia se todas as famílias tivessem pai presente (tanto na criação quanto financeiramente)? Ou será que essa conta só fecha porque em muitas famílias a mãe é a ÚNICA fonte de renda?
Quando vemos a quantidade de dinheiro público gasto (e que fique claro aqui que não sou contra esse gasto não rs) em abrigos e ações para moradores de rua, não seria relevante considerar que indiretamente o Estado está ajudando os homens em seu sustento pessoal - enquanto as mulheres abandonadas por eles não são ajudadas no seu sustento e no sustento de seus filhos?
Será que o fato de 93% dos titulares do Bolsa Família serem mulheres não é exatamente esta compensação?
Pensando nestas mulheres em situação de pobreza e abandono, não é no mínimo mesquinho maldizer o Bolsa Família?
E abordando uma questão que eu considero bem tosca, mas vamos lá: já ouvi de muitos homens que machismo não existe porque os homens passam por tantas dificuldades quanto as mulheres - e um dos exemplos que sempre dão é este: de que a maioria dos mendigos são homens. Nunca lhes passou pela cabeça que talvez estes homens - que estão sem dúvida em condições lastimáveis e devem ser ajudados - podem ainda assim estar levando a vida de forma mais "fácil" ou com menos responsabilidades do que as mães destes 5,5 milhões de crianças que não tem pai?
E quantitativamente: se existem 1,8 milhões de moradores de rua no Brasil dos quais 82% são homens, existem pouco menos de 1 milhão e meio de homens em situação de rua no país.
Ou seja: 1,5 milhões de homens em situação de rua versus 5,5 milhões de homens que abandonaram suas mulheres grávidas.
Os dois problemas são horríveis e relevantes? Sem dúvida! Mas qual é o maior?
Que gênero está realmente saindo mais prejudicado nessas situações de extrema pobreza?
Você realmente quer usar este argumento para dizer que homens são impostos ao mesmo nível de provações que as mulheres pela nossa sociedade?
***
Enfim, esse texto não tem nenhuma conclusão específica, e nem tem a intenção de diminuir o sofrimento dos moradores de rua - vítimas de um sistema de extrema desigualdade.
É apenas uma reflexão acerca da invisibilidade: se temos matérias e páginas do facebook voltado à tirar da invisibilidade os moradores de rua, quem senão as feministas estão preocupadas em tirar da invisibilidade as mulheres-mães abandonadas?
Quem está olhando por essas mulheres?
O feminismo realmente é "desnecessário"?
Fontes:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/mulher/PessoasEmSituacaoDeRua.pdf)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/2008/04/29/ult23u2075.jhtm
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/brasil-tem-5-5-milhoes-de-criancas-sem-pai-no-registro
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv91983.pdf
http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2015/03/salario-das-mulheres-ainda-e-30-menor-que-o-dos-homens.html
http://moradoresderua.org.br/portal/estimativa-de-moradores-de-rua-no-brasil/
http://blog.planalto.gov.br/maioria-dos-beneficiarios-do-bolsa-familia-e-composta-por-mulheres-e-negros-afirma-tereza-campello/
Seguindo páginas no estilo SP Invisível ou páginas que postam relatos de moradores de rua, percebi um certo padrão:a maioria dos moradores de rua eram homens, e a maioria dizia ter família (ex-mulher e filhos) ainda que não pareciam estar com ela.
Muitos relatavam brigas e desavenças com suas companheiras, que os fizeram sair de casa - claro que para a maioria dos homens que relatam essas desavenças, a "culpa" é da mulher (e claro que a mídia não tardou em classificar moradores de rua como desiludidos amorosos, e até os criadores da SP Invisível relataram que muitos desses homens estão lá "por causa de mulher"), mas não vamos nem entrar nesse mérito rsrs
Como boa feminista, ficava pensando em onde estavam então essas inúmeras mulheres sozinhas com os filhos, únicas responsáveis pelo sustento da família.
Bem, resolvi ir atrás de alguns dados para não ficar no achismo.
Encontrei dados mais confiáveis relativos ao centro de São Paulo, e também relativos ao Brasil.
Unindo as duas pesquisas, alguns dados que encontramos:
- 82% são homens, em SP média de idade de 40 anos, no Brasil mais da metade tem entre 25 e 44 anos.
- A maioria relatou já ter tido uma companheira/esposa, e ter filhos - que não estão com eles nas ruas.
- Os maiores motivos de terem ido para as ruas estava relacionado à: alcoolismo (35,5%), desemprego (29,8%) e desavenças com familiares (29,1%).
Podemos unir à estes dados alguns outros - que não estão diretamente relacionados, mas podem traçar alguns paralelos.
-5,5 milhões de crianças no Brasil não tem o nome do pai no registro - ou seja, o pai sumiu e a mão cuida da criança sozinha, sem ajuda nem pensão.
-A PNAD aponta que 37,4% das famílias brasileiras tem a mulher como pessoa de referência (o que quer dizer que ela é responsável pela maior ou única renda da família).
***
Não acho que seria correto juntar estes dados para chegar a conclusões - os dados não necessariamente estão relacionados, e poderíamos chegar à conclusões falaciosas.
Mas acho interessante fazer algumas reflexões:
Sabendo que os conceitos disseminados por uma sociedade machista afetam de forma mais grave as mulheres, mas também afetam negativamente os homens, será que o fato da maioria dos moradores de rua serem homens não está diretamente ligado ao machismo?
Será que o machismo não carrega as mulheres de um senso maior de responsabilidade para com a família, de forma que elas não vêem como opção abandoná-la e ir para a rua - enquanto os homens evidentemente não só enxergam esta opção como com alguma frequência a abraçam?
Será que é razoável ser contra o aborto dizendo que se a mulher não quer o filho, pode deixar com o pai? Ou que pelo menos receberá pensão para ajudar a criar o filho "indesejado"?
Será que realmente não estamos fazendo vista grossa para o "aborto masculino", enquanto condenamos o feminino?
Que opções tem um homem que não quer/não pode sustentar um filho, e que opções tem a mulher na nossa sociedade?
Ao negar o direito ao aborto, não estamos transformando uma responsabilidade que seria dos dois (homem e mulher, espermatozóide e óvulo) em uma responsabilidade quase que certamente da mulher?
Não seria curioso o fato que numa sociedade em que as mulheres ainda ganham salários menores que os homens (os salários femininos ainda são 30% menores que os masculinos), e em que as mulheres em geral só conquistaram o direito ao mercado de trabalho à apenas uma ou duas gerações, elas já são quase 40% das pessoas de referência nas famílias?
Essa conta fecharia se todas as famílias tivessem pai presente (tanto na criação quanto financeiramente)? Ou será que essa conta só fecha porque em muitas famílias a mãe é a ÚNICA fonte de renda?
Quando vemos a quantidade de dinheiro público gasto (e que fique claro aqui que não sou contra esse gasto não rs) em abrigos e ações para moradores de rua, não seria relevante considerar que indiretamente o Estado está ajudando os homens em seu sustento pessoal - enquanto as mulheres abandonadas por eles não são ajudadas no seu sustento e no sustento de seus filhos?
Será que o fato de 93% dos titulares do Bolsa Família serem mulheres não é exatamente esta compensação?
Pensando nestas mulheres em situação de pobreza e abandono, não é no mínimo mesquinho maldizer o Bolsa Família?
E abordando uma questão que eu considero bem tosca, mas vamos lá: já ouvi de muitos homens que machismo não existe porque os homens passam por tantas dificuldades quanto as mulheres - e um dos exemplos que sempre dão é este: de que a maioria dos mendigos são homens. Nunca lhes passou pela cabeça que talvez estes homens - que estão sem dúvida em condições lastimáveis e devem ser ajudados - podem ainda assim estar levando a vida de forma mais "fácil" ou com menos responsabilidades do que as mães destes 5,5 milhões de crianças que não tem pai?
E quantitativamente: se existem 1,8 milhões de moradores de rua no Brasil dos quais 82% são homens, existem pouco menos de 1 milhão e meio de homens em situação de rua no país.
Ou seja: 1,5 milhões de homens em situação de rua versus 5,5 milhões de homens que abandonaram suas mulheres grávidas.
Os dois problemas são horríveis e relevantes? Sem dúvida! Mas qual é o maior?
Que gênero está realmente saindo mais prejudicado nessas situações de extrema pobreza?
Você realmente quer usar este argumento para dizer que homens são impostos ao mesmo nível de provações que as mulheres pela nossa sociedade?
***
Enfim, esse texto não tem nenhuma conclusão específica, e nem tem a intenção de diminuir o sofrimento dos moradores de rua - vítimas de um sistema de extrema desigualdade.
É apenas uma reflexão acerca da invisibilidade: se temos matérias e páginas do facebook voltado à tirar da invisibilidade os moradores de rua, quem senão as feministas estão preocupadas em tirar da invisibilidade as mulheres-mães abandonadas?
Quem está olhando por essas mulheres?
O feminismo realmente é "desnecessário"?
Fontes:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/mulher/PessoasEmSituacaoDeRua.pdf)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/2008/04/29/ult23u2075.jhtm
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/brasil-tem-5-5-milhoes-de-criancas-sem-pai-no-registro
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv91983.pdf
http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2015/03/salario-das-mulheres-ainda-e-30-menor-que-o-dos-homens.html
http://moradoresderua.org.br/portal/estimativa-de-moradores-de-rua-no-brasil/
http://blog.planalto.gov.br/maioria-dos-beneficiarios-do-bolsa-familia-e-composta-por-mulheres-e-negros-afirma-tereza-campello/
segunda-feira, 22 de junho de 2015
"A menor minoria é o indivíduo" - Só que não
Muitas vezes quando estamos falando sobre minorias e as opressões estruturais enfrentadas por estas, somos retrucadas com a famosa frase da filósofa Ayn Rand:
"A menor minoria é o indivíduo. Aqueles que negam os direitos individuais não podem se dizer defensores das minorias."
Me parece que essa frase tem o mesmo problema que o conceito da meritocracia: ambos carregam conceitos lindos, um discurso e teoria aparentemente irrefutável - mas caem na falácia do mundo justo.
Vamos primeiro tentar entender o que essa frase tenta passar...
Imaginemos um mundo onde não existam racismo, machismo, homofobia, transfobia, preconceito de classe, capacitismo, transfobia, xenofobia, etc.
Neste mundo não existe um sistema pré-estabelecido que beneficia alguns grupos em detrimento de outros: todos saem exatamente do mesmo ponto de partida, e tem exatamente as mesmas chances de enfrentar dificuldades no caminho.
Seria inocência presumir que numa sociedade ausente de opressões e privilégios, ninguém teria problemas. Sem dúvida, cada indivíduo passaria por uma série de obstáculos, preconceitos, problemas e limitações.
Porém, nessa sociedade hipotética que não tem conceitos pré-estabelecidos de que atributos são melhores ou piores, esses problemas seriam pontuais na vida desse indivíduo: na escola esse indivíduo seria excluído pois os amiguinhos gostam de futebol e ele gosta de basquete. Posteriormente, sofreria pois a menina de quem gosta o acha muito magrelo. Na faculdade, sentiria limitações por ser tímido, e se sentiria explorado por ser "nerd". No emprego, sentiria um preconceito vindo de seus pares pois é muito focado e se destaca nas entregas.
No entanto, é muito provável que estes problemas não sejam crônicos em sua vida: em algumas esferas sua timidez e foco são negativas, em outras esferas são características elogiadas; algumas meninas não se sentem atraídas pela magreza, mas outras tantas se sentem.
E assim seria com todos os indivíduos formadores dessa sociedade.
Dentro deste contexto, todas as lutas são individuais, e portanto não haveria sentido em - como sociedade - direcionar atenção para um problema ou outro.
É isto que essa frase nos traz: se todos temos problemas, não é justo concentrar esforços e políticas na resolução de um problema específico.
E no contexto acima, essa lógica é perfeitamente cabível.
Mas vamos voltar à realidade: uma sociedade onde existem opressões sistêmicas que foram enraizadas na sociedade há tanto tempo, e são reproduzidas na nossa educação e pela nossa mídia de forma tão sutil, que o resultado foi uma sociedade desigual.
Uma sociedade que privilegia alguns grupos em detrimento de outros.
E -como já falei aqui em posts anteriores - o fato de você pertencer à algum grupo privilegiado não quer dizer que você não faz parte de outro oprimido. E também não quer dizer que você não terá sua cota de problemas.
Mas estes problemas serão individuais e pontuais - como a vida do indivíduo hipotético que descrevemos acima.
Nessa sociedade desigual em que vivemos, existem algumas características que fazem com que as pessoas portadoras delas sofram limitações e tenham problemas na maioria - senão em todas as esferas de sua vida.
Quando falamos da luta das minorias, não queremos dizer que os problemas dos outros são menos doloridos individualmente que os nossos.
Não queremos lutar por privilégios para determinados grupos, não estamos negando a igualdade.
Estamos dando nome à um sistema desigual, para que possamos combatê-lo.
E quando alguém sugere que "a menor minoria é o indivíduo", ela está ignorando que existem problemas que afetam grupos inteiros, o tempo todo. Ela está dizendo que se absolutamente TODOS não sofrem de algum problema, esse problema não deve ser combatido pela sociedade.
Quando alguém sugere que lutemos pela "igualdade para todos" de forma genérica, sem endereçar minorias, esta pessoa está fechando os olhos para a desproporção dessa "igualdade".
Quando alguém nega a luta destas minorias, está basicamente dizendo "eu não sofro -ou não reconheço sofrer- deste mal, portanto ele não existe".
Como é parte da sabedoria popular, só podemos resolver um problema quando nos damos conta dele.
Então vamos nos dar conta que existem problemas maiores do que as nossas necessidades individuais e lutar juntos para extinguí-las!
Imagina que lindo será quando a sociedade hipotética acima for real, e a frase de Ayn Rand for realmente aplicável? =)
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Redução não é solução, não importa de onde você olhe.
O debate da redução da maioridade penal é um que - sinceramente - me dá calafrios.
Porque me faz perceber o nível dos debates políticos e sociais. E é um nível bem baixo.
Parece que 90% da população não passou do primeira fase do debate, que é o pensamento óbvio e instintivo de "cometeu crime tem que ser punido e ponto final".
Mas a verdade é que, não importa de que lado você olhe a questão, a redução simplesmente não faz sentido.
Então esse texto é pra isso, pra olhar a questão de todos os pontos de vista, e mostrar que em NENHUM deles a redução represente uma solução ou sequer uma melhora.
SE VOCÊ....
1) ....é de classe média/alta e acha que não precisa refletir mais que isso não, o que é certo é certo.
Veja bem, redução no filho dos outros é refresco...
Quantas pessoas que passaram temporadas (vulgo mais de uma noite) na cadeia você conhece?
Todo mundo conhece um amigo que foi pego com droga, uma amiga que dirigiu bêbada, um conhecido que aos 17 transava com menina de 15, uma galera que entrava na balada com RG falso.
Mas pra quem vive num meio de classe média (como eu inclusive), nenhuma dessas pessoas está presa.
Isso acontece não porque a classe média é muito íntegra, e sim porque nós temos dinheiro pra pagar um bom advogado. Nós temos dinheiro pra molhar a mão do policial quando é necessário. A justiça no Brasil é extremamente seletiva, isso não é mistério pra ninguém.
O sistema punitivo do nosso país segrega. Fechar os olhos pra isso é dizer que pra você tá tudo bem que a lei só sirva pra punir os mais pobres.
Então é isso mesmo, reduz a maioridade penal porque o MEU filho eu sei que vou poder defender, e sei que ele não vai ficar na cadeia.
Ou seja, pra quem tem grana essa redução não faz diferença nenhuma.
Mas essa visão é bem egoísta.
Você não se dá o trabalho de analisar melhor a questão por isso: porque o seu filho não vai sofrer com essa mudança.
Mas sabe quem vai sofrer - ou morrer - por causa dessa mudança?
O moleque pobre, que cometeu o mesmo delito que seu filho ou seu amigo.
Porque ele não tem um bom advogado. Porque a cadeia está bombando de casos que nem sequer foram julgados (!), mas como esses presos sem julgamento não são "ninguém importante", eles são invisíveis.
Porque é fácil dar o discurso pronto do "menor de idade sabe o que tá fazendo", que "menor sabe distinguir o certo do errado" ou que "aos 16 já não é criança e sabe o que faz".
Mas quando for o SEU filho que for pego com maconha, a SUA filha pega com documento falso na balada, vamos ver se vcs não vão contratar um bom advogado pra que tudo acabe em pizza.
Claro que vão. Porque o filho dos outros é diferente. Porque existem razões que justifiquem o erro do seu filho, mas não existem razões que justifiquem o trombadinha?
2) ....acha que tem muito menor cometendo crimes sem nem pensar duas vezes porque sabem que não serão punidos. E tá com pena leva pra casa, quero ver se fosse com você, um menor te assaltando/estuprando/assassinando.
Vamos fazer uma linha de raciocínio aqui....
-O menor que comete o crime está errado, e nada justifica seu erro;
-Isto posto, há de se avaliar o background do menor - quais oportunidades lhe foram dadas e negadas, qual perspectiva de futuro lhe era oferecida, e o que o levou à cometer o delito. Continua não justificando nada, mas assim temos uma visão melhor do que levou o crime a acontecer. É preciso compreender um problema para poder solucioná-lo.
-Essa questão de "comete o crime porque sabe que não vai ser punido" dá a entender que se o menor soubesse que será punido, ele não cometeria o delito.
Nesse racioncínio, quanto mais punitiva é a justiça, quanto mais se joga gente na cadeia, menor a violência. Pois se a justiça é implacável, a pessoa deixaria de cometer o delito por medo dela.
Porém, esse argumento não procede, e é só olhar alguns dados pra concluir isso: o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo - ou seja, prende pra caceta - e ainda assim está em sétimo lugar no ranking da violência mundial.
-É importanto entender que não podemos sair mudando leis ou julgando pessoas de acordo com emoções, experiências pessoais ou sentimentos de vingança. A lei não deve contemplar meu desejo de vingança, já não estamos na era do olho por olho, dente por dente. Evoluímos por uma razão: justamente porque cada caso é um caso e julgar uma situação em preto e branco raramente dará conta de sua complexidade. Ou seja, pouco importa se "se fosse comigo, eu ia querer que apodrecesse na cadeia".
-Se um crime grave acontecesse com alguém que amo pelas mãos de um menor, emocionalmente é óbvio que eu ia querer matar o menino com minhas próprias mãos. Mas racionalmente, eu acho que ele deveria ir para o sistema socioeducativo. Simplesmente porque na cadeia ele tem 70% de chance de fazer merda de novo, enquanto no socioeducativo, tem 20%. Ou seja, eu ia querer que ele não fizesse aquilo com mais ninguém nunca mais, e por mais que tenhamos a impressão contrária, o sistema que chega mais perto de conseguir isso é o sócio-educativo.
-É preciso entender também que quando falamos em redução da maioridade, pensamos só em casos extremos como homicídios e estupros, que são a exceção da exceção (apesar da mídia tentar nos convencer do contrário).
E esquecemos de pensar no que vai acontecer na vida real, na maioria dos casos: menores de idade, provavelmente negros e pobres, sendo presos por crimes menores (porte de droga, sexo com menor, documento falso, pequenos furtos), e indo pra uma cadeia se tornarem criminosos profissionais. Além de não ser humano, simplesmente não é inteligente.
-Podemos concluir - através de dados e fatos - que encarceirar não só não vai diminuir o problema, como pode aumentá-lo. Vale a pena jogar menores na cadeia por crimes menores, sob o risco de torná-los piores?
E se concluímos que encarceirar não resolve, o que resolve?
Aí entra a importância de entendermos o background do menor, pois a partir daí entendemos que violência se combate com igualdade social, educação e oportunidades, não com polícia e cadeia.
3) ...não tá nem aí pra o que vai acontecer com o criminoso, não quer saber de onde ele veio e o que o fez cometer o crime... você só quer que a violência diminua. Que menos inocentes morram.
Se a intenção é diminuir a violência e salvar vidas, a redução só piora!
Considerando que no sistema prisional a reincidência é de 70%, e quem sai geralmente comete crimes piores do que na primeira vez; e no sistema sócio-educativo a reincidência é de 20%, a conta é simples:
COM REDUÇÃO: Temos 20 menores que cometeram crimes. Destes 20, 10 (a proporção seria menor, mas vamos facilitar) cometeram crimes leves. Com a redução, eles vão pra cadeia.
Quando saírem - porque a maioria sai eventualmente - 14 deles voltarão a cometer crimes. E dos 10 que cometeram crimes leves da primeira vez, agora 7 irão cometer crimes mais pesados.
Saldo: temos 20 crimes antes da cadeia, e 14 crimes pós-cadeia.
SEM REDUÇÃO: Temos os mesmos 20 menores que cometeram crimes, dos quais 10 cometeram crimes leves. Sem a redução, eles vão pra o sistema sócio-educativo.
Quando saírem, 4 deles voltarão a cometer crimes.
Saldo: temos 20 crimes antes da cadeia, e 4 crimes pós-cadeia.
O que te parece melhor para reduzir a violência???
E agora, José, qual seu argumento?
Porque me faz perceber o nível dos debates políticos e sociais. E é um nível bem baixo.
Parece que 90% da população não passou do primeira fase do debate, que é o pensamento óbvio e instintivo de "cometeu crime tem que ser punido e ponto final".
Mas a verdade é que, não importa de que lado você olhe a questão, a redução simplesmente não faz sentido.
Então esse texto é pra isso, pra olhar a questão de todos os pontos de vista, e mostrar que em NENHUM deles a redução represente uma solução ou sequer uma melhora.
SE VOCÊ....
1) ....é de classe média/alta e acha que não precisa refletir mais que isso não, o que é certo é certo.
Veja bem, redução no filho dos outros é refresco...
Quantas pessoas que passaram temporadas (vulgo mais de uma noite) na cadeia você conhece?
Todo mundo conhece um amigo que foi pego com droga, uma amiga que dirigiu bêbada, um conhecido que aos 17 transava com menina de 15, uma galera que entrava na balada com RG falso.
Mas pra quem vive num meio de classe média (como eu inclusive), nenhuma dessas pessoas está presa.
Isso acontece não porque a classe média é muito íntegra, e sim porque nós temos dinheiro pra pagar um bom advogado. Nós temos dinheiro pra molhar a mão do policial quando é necessário. A justiça no Brasil é extremamente seletiva, isso não é mistério pra ninguém.
O sistema punitivo do nosso país segrega. Fechar os olhos pra isso é dizer que pra você tá tudo bem que a lei só sirva pra punir os mais pobres.
Então é isso mesmo, reduz a maioridade penal porque o MEU filho eu sei que vou poder defender, e sei que ele não vai ficar na cadeia.
Ou seja, pra quem tem grana essa redução não faz diferença nenhuma.
Mas essa visão é bem egoísta.
Você não se dá o trabalho de analisar melhor a questão por isso: porque o seu filho não vai sofrer com essa mudança.
Mas sabe quem vai sofrer - ou morrer - por causa dessa mudança?
O moleque pobre, que cometeu o mesmo delito que seu filho ou seu amigo.
Porque ele não tem um bom advogado. Porque a cadeia está bombando de casos que nem sequer foram julgados (!), mas como esses presos sem julgamento não são "ninguém importante", eles são invisíveis.
Porque é fácil dar o discurso pronto do "menor de idade sabe o que tá fazendo", que "menor sabe distinguir o certo do errado" ou que "aos 16 já não é criança e sabe o que faz".
Mas quando for o SEU filho que for pego com maconha, a SUA filha pega com documento falso na balada, vamos ver se vcs não vão contratar um bom advogado pra que tudo acabe em pizza.
Claro que vão. Porque o filho dos outros é diferente. Porque existem razões que justifiquem o erro do seu filho, mas não existem razões que justifiquem o trombadinha?
2) ....acha que tem muito menor cometendo crimes sem nem pensar duas vezes porque sabem que não serão punidos. E tá com pena leva pra casa, quero ver se fosse com você, um menor te assaltando/estuprando/assassinando.
Vamos fazer uma linha de raciocínio aqui....
-O menor que comete o crime está errado, e nada justifica seu erro;
-Isto posto, há de se avaliar o background do menor - quais oportunidades lhe foram dadas e negadas, qual perspectiva de futuro lhe era oferecida, e o que o levou à cometer o delito. Continua não justificando nada, mas assim temos uma visão melhor do que levou o crime a acontecer. É preciso compreender um problema para poder solucioná-lo.
-Essa questão de "comete o crime porque sabe que não vai ser punido" dá a entender que se o menor soubesse que será punido, ele não cometeria o delito.
Nesse racioncínio, quanto mais punitiva é a justiça, quanto mais se joga gente na cadeia, menor a violência. Pois se a justiça é implacável, a pessoa deixaria de cometer o delito por medo dela.
Porém, esse argumento não procede, e é só olhar alguns dados pra concluir isso: o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo - ou seja, prende pra caceta - e ainda assim está em sétimo lugar no ranking da violência mundial.
-É importanto entender que não podemos sair mudando leis ou julgando pessoas de acordo com emoções, experiências pessoais ou sentimentos de vingança. A lei não deve contemplar meu desejo de vingança, já não estamos na era do olho por olho, dente por dente. Evoluímos por uma razão: justamente porque cada caso é um caso e julgar uma situação em preto e branco raramente dará conta de sua complexidade. Ou seja, pouco importa se "se fosse comigo, eu ia querer que apodrecesse na cadeia".
-Se um crime grave acontecesse com alguém que amo pelas mãos de um menor, emocionalmente é óbvio que eu ia querer matar o menino com minhas próprias mãos. Mas racionalmente, eu acho que ele deveria ir para o sistema socioeducativo. Simplesmente porque na cadeia ele tem 70% de chance de fazer merda de novo, enquanto no socioeducativo, tem 20%. Ou seja, eu ia querer que ele não fizesse aquilo com mais ninguém nunca mais, e por mais que tenhamos a impressão contrária, o sistema que chega mais perto de conseguir isso é o sócio-educativo.
-É preciso entender também que quando falamos em redução da maioridade, pensamos só em casos extremos como homicídios e estupros, que são a exceção da exceção (apesar da mídia tentar nos convencer do contrário).
E esquecemos de pensar no que vai acontecer na vida real, na maioria dos casos: menores de idade, provavelmente negros e pobres, sendo presos por crimes menores (porte de droga, sexo com menor, documento falso, pequenos furtos), e indo pra uma cadeia se tornarem criminosos profissionais. Além de não ser humano, simplesmente não é inteligente.
-Podemos concluir - através de dados e fatos - que encarceirar não só não vai diminuir o problema, como pode aumentá-lo. Vale a pena jogar menores na cadeia por crimes menores, sob o risco de torná-los piores?
E se concluímos que encarceirar não resolve, o que resolve?
Aí entra a importância de entendermos o background do menor, pois a partir daí entendemos que violência se combate com igualdade social, educação e oportunidades, não com polícia e cadeia.
3) ...não tá nem aí pra o que vai acontecer com o criminoso, não quer saber de onde ele veio e o que o fez cometer o crime... você só quer que a violência diminua. Que menos inocentes morram.
Se a intenção é diminuir a violência e salvar vidas, a redução só piora!
Considerando que no sistema prisional a reincidência é de 70%, e quem sai geralmente comete crimes piores do que na primeira vez; e no sistema sócio-educativo a reincidência é de 20%, a conta é simples:
COM REDUÇÃO: Temos 20 menores que cometeram crimes. Destes 20, 10 (a proporção seria menor, mas vamos facilitar) cometeram crimes leves. Com a redução, eles vão pra cadeia.
Quando saírem - porque a maioria sai eventualmente - 14 deles voltarão a cometer crimes. E dos 10 que cometeram crimes leves da primeira vez, agora 7 irão cometer crimes mais pesados.
Saldo: temos 20 crimes antes da cadeia, e 14 crimes pós-cadeia.
SEM REDUÇÃO: Temos os mesmos 20 menores que cometeram crimes, dos quais 10 cometeram crimes leves. Sem a redução, eles vão pra o sistema sócio-educativo.
Quando saírem, 4 deles voltarão a cometer crimes.
Saldo: temos 20 crimes antes da cadeia, e 4 crimes pós-cadeia.
O que te parece melhor para reduzir a violência???
E agora, José, qual seu argumento?
terça-feira, 5 de maio de 2015
Amiga, isso não é feminismo.
Tem muita gente por aí que é contra o feminismo. E como cada vez mais tá ficando feio falar que é anti-feminista, agora estão surgindo textos, vídeos e fanpages de supostas feministas, nos quais elas basicamente... acabam com o feminismo.
Toda feminista tem mil e uma críticas ao movimento (aquela história de ser um movimento vivo, em eterna construção, formado por mulheres de diversas origens e opiniões - torna realmente difícil que todas concordem a respeito de tudo).
Mas nenhuma feminista vai divulgar material que no fim da história, só faz as pessoas pensarem mal do feminismo - simplesmente pq se uma mulher se tornou feminista é porque em algum ponto ele a faz um bem incrível, ensinou coisas fantásticas e lhe deu paz em diversos aspectos, e por mais que hoje essa mulher discorde de algumas vertentes ou de alguns métodos, a ideologia em si é muito benigna.
Então se você leu algo de uma "feminista", e no final concluiu que o feminismo como um todo é uma grande m*rda.... desconfie. Te garanto que em 99% das vezes essa pessoa não é feminista, e que a maioria das coisas que ela disse sobre o feminismo não passam de besteira.
Esse texto tem a única e absoluta função de acabar com esses mitos, falácias e confusões que são divulgados em relação ao feminismo.
Porque mesmo sendo um movimento super plural, e a gente sabe que tem mil vertentes e feministas que não se expressam bem, tem algumas coisas que as pessoas parecem acreditar sobre o feminismo que, assim... NÃO, gentchy. Isso aí não é feminismo,
Então vamos lá que vai ser divertido!
AS FEMINISTAS ODEIAM HOMENS / ACHAM QUE HOMENS SÃO MAUS
Interessante lembrar que quem acha que homens são incapazes de fazer o serviço doméstico, incapazes de cuidar dos filhos, incapazes de controlar seus instintos sexuais, e que eles não podem chorar, vestir a cor ou a roupa que quiserem, serem vaidosos ou sensíveis... são os machistas!
Nós feministas achamos que os homens são capazes e tem direito a tudo isso e mais um pouco (incluindo fim do alistamento obrigatório e aumento da licença paternidade).
A luta feminista não é contra indivíduos. É contra um modelo de socidade patriarcal, que sempre deu mais direitos e mais liberdades aos homens. Esse sistema está enraizado na nossa sociedade. Tão enraizado que todos nós (homens e mulheres) somos expostos a alguns conceitos desse sistema desde sempre, e por isso eles ficam enraizados na gente também.
É super difícil ir contra algo que desde sempre você acredita ser verdade. Nós entendemos isso.
No caso das mulheres, algumas sofreram muito nas mãos desses conceitos, e acabou questionando. E nesse questionamento, descobrimos o feminismo,
Então de novo, nós entendemos porque a maioria dos homens (e até algumas mulheres que tiveram a sorte de nunca passar por uma situação na qual se sentiu oprimida) nunca questionou certos conceitos. E por nunca ter questionado, continua sendo machista e colaborando para que a sociedade continue oprimindo e destratando as mulheres.
Sabemos que a maioria dos homens não faz por mal ao colaborar com a continuidade desse sistema.
Mas gostaríamos que eles ouvissem quando dizemos que NOS faz mal. Gostaríamos que eles não tentassem puxar o assunto pra eles toda hora (quando alguém te conta um problema, você fica puxando o assunto para um problema seu o tempo todo, tentando convencer a pessoa que o problema dela não importa? Não né?). Gostaríamos que eles entendessem que só porque determinada situação não os prejudica, ou porque eles nunca passaram por ela, não quer dizer que ela não existe e não é ruim.
Porque os homens não são O sistema em si, mas eles são uma arma que o sistema usa para oprimir mulheres. Não quer dizer que todos os homens são maus.
Mas quer dizer que a maioria dos estupros tem vítimas mulheres e estupradores homens. Quer dizer que uma das maiores causas de morte de mulheres é violência doméstica - violência praticada por homens. Quer dizer que se uma mulher deixa de vestir a roupa que quer ou fazer determinado caminho, é por medo de homens. Quer dizer que se uma mulher está sendo exposta à uma dupla jornada exaustiva (trabalha fora e chega em casa para fazer trabalho doméstico), é porque seu parceiro homem não está fazendo sua parte.
Quer dizer que por mais que gostaríamos de poder resolver essa situação por nós mesmas, nós não podemos. Nós precisamos conscientizar os homens, para que eles também mudem algumas atitudes. Por isso que as vezes parece que as feministas estão o tempo todo atacando homens, querendo que os homens mudem. Porque precisamos que eles saibam onde em suas atitudes eles estão reforçando esse sistema, pois para que suas mães, esposas, filhas e amigas vivam numa sociedade mais igual e menos perigosa para mulheres, eles precisam fazer a parte deles.
AS FEMINISTAS QUEREM DEFINIR COMO AS MULHERES DEVEM AGIR ou O FEMINISMO É CONTRA O CONCEITO DE MATERNIDADE, CASAMENTO E DONAS DE CASA
Naaaão! As feministas querem que as mulheres sejam livres para agir como as faz feliz!
Sério! Depilada ou peluda, gorda ou rata de academia, executiva ou dona de casa, solteira ou mãe de família, recatada ou sexualmente ativa. Queremos que todas tenham a liberdade de ser como quiserem!
Ué, mas sempre parece que as feministas estão lutando por alguns "modos de vida" específicos, como pelo direito a não-maternidade, pelo direito de trabalhar fora e ganhar o mesmo salário, pelo direito de não se depilar, pelo direito de transar com quem quiser e não sofrer represálias, pelo direito de ser gorda.
Verdade! Mas você já reparou que damos mais ênfase nessas lutas, porque as escolhas inversas são bem mais aceitas pela sociedade?
Por exemplo, se você quiser casar e ser mãe, se você quiser ter um trabalho mais operacional (os tidos como "femininos" na época dos nossos pais, como secretária, vendedora, assistente), se depilar, transar apenas com namorados firmes, e estar dentro do padrão de beleza... A maior parte de sociedade não vai franzir o nariz para essas escolhas!
Então a gente insiste mais nas coisas que as mulheres ainda sofrem represálias da sociedade se escolherem.
E também as vezes somos chatas pq queremos que as mulheres reflitam o quanto suas escolhas são suas mesmo! A sociedade dita tantos padrões para as mulheres, que as vezes a gente nem sabe mais se a gente GOSTA de estar com a unha feita, ou se a sociedade vai fazer a gente se sentir feia e mal-cuidada se não estiver. Porque se essas "escolhas" estão sendo IMPOSTAS a você, não são escolhas de verdade! E a gente quer que todas as mulheres tenham toda a informação necessária e se sintam tão empoderadas e tão donas de si mesmas, que elas vão saber fazer suas escolhas por si mesmas, mesmo que isso vá contra uma imposição.
PS.: Não queremos que os papéis se invertam, como por exemplo tem acontecido com a questão da dona de casa (que hoje em dia muita gente já olha feio e chama de preguiçosa - essas pessoas com certeza nunca fizeram todo o trabalho doméstico e nunca cuidaram de crianças tempo integral), ou com a questão da liberdade sexual (nas gerações mais jovens está começando a existir um preconceito contra mulheres -contra os homens já existia - que querem se casar virgens).
É que a nossa sociedade tem mania de rotular as pessoas e criar novos preconceitos - e se tem uma coisa que o feminismo não apóia é essa rotulação! Por isso tentamos estar sempre atentas para que todo mundo possa se sentir bem e em paz com suas escolhas, quaisquer que sejam elas.
Resumindo: não nós não somos contra a maternidade, nem contra o casamento, nem contra as donas de casa, nem contra trabalhos domésticos - mas não queremos que as mulheres sintam que precisam cumprir esses papéis.
Também não achamos que toda mulher deve ser sexualmente ativa, fazer sexo casual e priorizar a carreira - mas queremos que as mulheres saibam que se elas quiserem, elas podem.
AS FEMINISTAS ACHAM QUE MULHERES NÃO DEVERIAM "QUERER HOMENS" OU "PROCURAR MARIDO"
Hahahaha, essa é boa. De novo, tem muito mais a ver com aquela questão de escolha versus imposição que mencionei acima do que com relacionamentos em si.
Tem gente que acha que ninguém precisa de ninguém, e que vive muito bem sozinha.
Tem gente que acha que o amor é a coisa mais importante da vida e é o que dá significado a ela.
Tem gente que acha que amor é importante e desejável, mas que não é imprescindível.
E a gente quer que as pessoas possam ter essas opiniões pessoais e agir de acordo com elas. Então se eu acho que amor é a coisa mais importante, eu vou sim "procurar namorado", e não tem nada de errado nisso.
No entanto, a gente vê essa cobrança por "arrumar marido" rolar mais forte com mulheres, ou é sempre direcionada a elas.
É isso que a gente não quer, poxa! Ninguém deveria ficar cobrando ninguém a respeito de vida amorosa - e se um site quer dar conselhos amorosos para os românticos, ótimo, mas dê para homens e mulheres. Precisamos parar de perguntar de relacionamento só pra mulheres, parar de fazer textos que sugerem que as pessoas deveriam parar de "perder tempo" com outras coisas e ir em busca de suas alma gêmeas só para mulheres.
Vamos parar de passar essa imagem de que mulher só quer relacionamento sério e homem só quer fanfarra, tenho certeza que todo mundo tem exemplos pra dar que não se encaixam nessa visão estereotipada.
O FEMINISMO ACREDITA QUE AS MULHERES DEVEM AGIR COMO HOMENS (SER PROMÍSCUAS COMO HOMENS, SE VESTIR COMO HOMENS, SER AGRESSIVAS COMO HOMENS)
Aqui eu poderia simplesmente pedir para lerem as explicações acima, de como as feministas não querem cagar regra na forma de viver de ninguém, contanto que esteja todos cientes e confortáveis com suas escolhas.
Maaaas, eu vou dar uma explicadinha extra, porque a origem dessa bobagem aí em cima é que existam atitudes, comportamentos e até roupas "de homem" e outras "de mulheres".
Se você entendeu o básico 1 do feminismo que é "vivemos em uma sociedade que concede mais direitos, liberdades e autoridade ao homem em detrimento da mulher, e queremos acabar com isso", você entende que, bem, como acabei de escrever, aos homens foram concedidas maiores liberdades.
Vou dar o exemplo aqui com a história da promiscuidade, mas dá pra fazer o paralelo com qualquer outra dessas "coisas de homem" que você possa achar que as feministas querem fazer.
Os homens podem ser ter vidas sexuais intensas - o machismo até os faz crer que eles PRECISAM ter vidas sexuais intensas para serem homens "de verdade" (o que é uma grande bobagem). Algumas mulheres querem ter vidas sexuais intensas. Nós achamos que elas devem ter esse direito. Mas nós não achamos que isso é "agir como homem". Achamos que cada um é cada um, tem gente que curte esse rolê de vida sexual intensa, tem gente que não. Só porque em algum momento nossa socidade decidiu que homens curtem e mulheres não, não quer dizer que concordamos. Ou seja, queremos que as mulheres que querem ter uma vida sexual intensa a tenham, e seja felizes, e não achamos que isso é coisa de homem. Achamos que essa liberdade sim, foi até hoje concedida somente aos homens, e como toda liberdade: A GENTE QUER.
Ou seja, não queremos "ser como homens", pois não achamos que "ser homem" é usar camiseta de banda, nem ser agressivo, nem ser garanhão, nem ser chefe, nem nada disso.
A gente só quer a liberdade de ser como é, e, quer saber um segredo? Achamos que os homens devem querer essa liberdade também, porque da mesma forma que é um saco ficar presa a um estereótipo de feminino, o estereótipo de "macho alfa" deve ser bem cansativo também.
O FEMINISMO É CONTRA ou APOIA MULHERES PELADAS, ARTISTAS QUE DANÇAM SEMI-NUAS E PROPAGANDAS COM TRATAM A MULHER COMO OBJETO
Esse tópico aqui é tão confuso que uma hora as feministas são taxadas de "contra a nudez" e outra hora são "devassas que querem mostrar os peitos".
Mas ok, vai, dá pra entender porque as pessoas ficam confusas, porque nós realmente lidamos diferente com diferentes tipos de nudez.
Qual nudez o feminismo acha legal:
Achamos que o corpo humano (feminino e masculino) é a coisa mais natural do mundo, e não deveria ser sexualizado toda hora! O que nós temos debaixo de nossas roupas não é tão diferente assim pra gerar espanto, mas também não é tão tudo-igual pra ser padronizado. Achamos que o corpo e a nudez devem ser desmistificados.
Exemplo 1 - Mamilos. Achamos um absurdo que os peitos femininos sejam considerados obscenos (na rua, na praia, no facebook), enquanto os peitos masculinos são liberados. Gente, são mamilos. Não dá pra dizer que é o volume que cria a atmosfera pornográfica, pq tem homens mais gordinhos que tem peitos "grandes" que não são censurados, e mulheres que não tem peito nenhum e são censuradas. Opaopa 1: Não estamos dizendo que todas nós queremos sair com os peitos pra fora na rua, e que achamos que todas as mulheres tem que querer também. Mas achamos que se um é censurável e outro também é, e como não queremos censurar ninguém, preferimos lutar pela não-censura do seio feminino. Opaopa 2: da mesma forma que você não vê peitos masculinos no restaurante, na igreja, e quase nunca na rua, você também não veria peitos femininos. A noção de ocasião ainda tá lá, gente, fica calmo.
Exemplo 2 - Pepekas. Sabia que a maioria das mulheres acha a própria pepeka "esquisita" ou "feia"? Sabe porque isso acontece? Porque a gente não vê pepekas, nunca! A nudez é tão tão tãaaaao censurada, que muita gente só viu vagina no livro de biologia ou nas olhadas em relance pra Playboy do irmão. É importante se conhecer, gente. As vezes a gente descobre que - pasmem - a gente é normal. Opaopa 3: isso quer dizer que queremos outdoors com vários tipos de pepekas estampados pela cidade??? Nãaao! Quer dizer que nosso único acesso à imagem da pepeka não pode ser quando ela está sendo photoshopada para consumo masculino, só isso.
Exemplo 3 - Gente pelada de boas. Tem uma frase muito boa que diz algo assim "As pessoas estão incomodadas com a nudez que não é para consumo masculino". Ou seja, estamos acostumados a ver mulher pelada na novela, mulher pelada no filme, mulher pelada na capa da revista, mulher pelada na publicidade... E quando vemos uma mulher pelada de boas num ensaio artístico ou numa foto engraçada, ficamos incomodados! Ué?!
Exemplo 4 - Gente sendo sexy porque quer. Deixei esse ponto por último porque ele é o mais ambíguo. Por exemplo, a Beyoncé de corset no show e a Karol Conka "tombando" com as amigas atrás balançando a bunda. Elas estão se achando lindas. Aquilo está fazendo elas se sentirem bem. Quando você vê um clipe delas, elas te passam uma sensação de poder. Elas são donas de si e de seu trabalho, e se elas querem se sentir bem com pouca roupa, a opinião das feministas é: arrasa, gata.
Qual nudez o feminismo não acha legal:
Quando o corpo feminino é usado como se fosse um objeto, muitas vezes completamente fora de contexto.
Exemplo 1 - Propaganda de cerveja. Pra começar que não faz sentido nenhum. Homens e mulheres tomam cerveja. Homens "safadões" e homens "de boas" tomam cerveja. Mulheres preferiam ver outra coisa. Homens "de boas" prefeririam um comercial mais inteligente ou criativo. Essas propagandas só estão atingindo esses homens "safadões". Não faz sentido. A mulher, nessses comerciais, fala pouco ou quase nada, e não exala poder nenhum: ela está lá como mero objeto para apreciação masculina.
Isso serve também para propagandas de carro, de perfume, de qualquer outra coisa que não seja biquíni e lingerie. A moça-pouco-vestida não precisava estar lá, e geralmente está num contexto em que ela praticamente não é uma pessoa, ela é um troféu, um objeto, um pedaço de carne. Not cool.
Exemplo 2 - Quando só a mulher está pouco-vestida. Sabe no carnaval, quando as mulheres usam praticamente tapa-sexo e tinta corporal, e os homens... fantasias? Ou em lojas de fantasia, quando a roupa de pirata pra homem é uma roupa de pirada, e a versão feminina é... pirata-sexy? Ou nos filmes quando numa cena de sexo, só aparece pelada.. a mulher?
Então, deu pra sacar, né?
FEMINISTAS NÃO GOSTAM DE GENTILEZAS
Beeeeé, errado. Feministas não gostam de cavalheirismo. Cavalheirismo é quando um homem faz algo por uma mulher, só porque ela é mulher, e na maioria das vezes, porque tem um interesse por trás.
Repara: uma pessoa gentil vai abrir a porta para quem estiver entrando. Vai carregar a bagagem de quem não estiver conseguindo carregar. Vai oferecer para pagar a conta para quem não estiver bem de dinheiro.
Isso a gente A-D-O-R-A, e afinal, quem não gosta? O mundo precisa mais de pessoas gentis.
O que a gente não gosta é quando o cara só abre a porta para você quando vocês estão começando a sair e ele está querendo alguma coisa. Mas depois que já estão juntos, ele não abre mais. Nem pra você, nem pra ninguém que esteja passando. Não gostamos quando o cara quer pagar a conta e depois acha que isso dá a ele o direito a alguma coisa. Não gostamos quando ele oferece para carregar bagagem só para mulheres "bonitas" e depois manda um xaveco - ou quando o mesmo cara não carrega bagagem de mulher "feia", nem de idosos.
Deu pra sacar a diferença? Quando tem interesse por trás, a gente prefere pagar nossa própria conta, abrir nossa própria porta e carregar nossa própria mala.
FEMINISTAS ACHAM QUE SEUS PROBLEMAS SÃO MAIS IMPORTANTES QUE DE TODOS
Você acha que uma instituição para crianças com câncer acha que sua causa é mais importante que a causa das crianças com HIV? Ou das crianças subnutridas em comunidades carentes?
Provavelmente não acha não. Mas se todas as instituições quisessem ajudar todo mundo, elas não iam conseguir ajudar ninguém com eficiência.
Isso é o feminismo. Nós acreditamos que existem opressões de raça, de classe social, de sexualidade. Acreditamos que o bullying é um problema. Acreditamos que o machismo também prejudica os homens em algumas esferas. Nós não achamos que esses problemas não importam.
Mas nós estamos lutando por um problema específico. Algumas estão lutando por esse problema específico porque é este que as afeta diretamente. Outras, porque realmente acham que esse problema é maior que alguns outros (mas nunca conheci uma feminista que achasse que é maior que TODOS os outros).
Mas é isso, é uma simples questão de foco.
(Adendo: existe por exemplo, a vertente do feminismo interseccional, que olha para as outras opressões sistêmicas por uma lente feminista, para entender que muitas vezes uma mulher sofre com o machismo e com outras opressões também, que não são menores, apenas diferentes.Ou até entender que em algumas situações a mulher pode ser opressora também.)
AS FEMINISTAS SE FAZEM DE VÍTIMA
Dizem por aí que as feministas tratam as mulheres como inferiores, como seres incapazes de reagir a situações ruins sem se "esconder" atrás de um movimento.
Olha, eu não sei com que feminismo você topou na vida, mas vou te falar que se tem uma coisa que o feminismo NÃO FAZ é fazer a mulher se sentir inferior rsrs Pelo contrário, uma das palavras mais fortes no feminismo atual é EMPODERAMENTO. É isso mesmo que parece: mostrar para as mulheres que elas tem poder, e que elas são importantes, para que elas não se submetam a uma situação que considerarem desconfortável. Talvez para algumas pessoas pareça besteira, tipo "ah, eu não preciso que ninguém me diga isso, eu já não me submeto", mas olha só, algumas mulheres passaram por abusos psicológicos que talvez você não tenha passado, e isso fez com que elas achassem que elas, os sentimentos delas e as razões delas não tenham valor algum. Então que bom que você já é empoderada (que bom mesmo!), mas tem muitas mulheres que precisam sim desse "apoio moral", para sentirem que não estão sozinhas.
Sobre abuso psicológico, ele é mais comum do que imaginamos, especialmente com mulheres. Tem dois tipos bem recorrentes, com nomes gringos: Gaslighting e Mansplainning.
(Já escrevi sobre eles aqui ó http://feministachata.blogspot.com.br/2014/10/gaslighting-e-mansplaining-e-por-que.html )
Agora sobre essa história do "se fazer de vítima", essa me deixa chateada.
Porque implica que você ou
1) não acha que o machismo existe e atua na sociedade prejudicando as mulheres (e neste caso eu recomendaria que você lesse um pouco sobre a diferença salarial, sobre as causas de morte de mulheres versus de homens, sobre a taxa de estupros e quanto desses estupros ocorrem com mulheres - essa eu te adianto, 90%-, sobre dupla jornada de trabalho, etc etc etc) ou
2) vc acha que o mundo é justo e as oportunidades são iguais pra todos, e neste caso se alguém está com alguma dificuldade, ela que não se esforçou tanto quanto você ou
3) que você não acredita no sofrimento que milhares de mulheres ao redor do mundo dizem passar. Como você não sofre, o sofrimento dessas mulheres só pode ser frescura, vitimismo, ou mentira. Nesse caso você tirou nota zero no quesito empatia, e eu só posso ficar triste por você viver dentro de uma bolha.
Sem contar que entende então que todas as pessoas que lutaram contra algum tipo de injustiça ou desigualdade estavam "se fazendo de vítimas".
Difícil essa.
e finalmente
FEMINISMO É O OPOSTO DE MACHISMO
Sério, pra esse eu só tenho uma recomendação:
www.google.com
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